sexta-feira, 27 de março de 2009

A pé




















A casa auto denomina-se avenida Brasil
É embaralhar veicular
Abrem olhos sonolentos
Jorro planos de um futuro presente
A lentidão dos carros parece aproximar minhas idéias
Sintonizo passo a passo, saio de mim,vou a pé

As manhãs me servem de auto-ajuda
Bisbilhoto a insatisfação alheia
Ouço morro a cada parada solicitada
Me livro da porta de acrílico a cada manhã destas
Ouço paisagens com novos tatos

Os olhos cansados do vôo do tal sistema incompreendido...
As mãos frenéticas sob o volante, impotentes ao rio de máquinas e motores
Do elevado vejo o prédio laranja, chupando o fluxo do sistema anti-social
Vejo sem muito interesse a Central do relógio arredio...passos de mil...
Daqui vejo as costas da Candelária...
Viro a direita,
A porta de acrílico tem seus dias contados...

Minha parada é implorada,
Vou para novos dias
Ando em mim e me levo comigo aonde eu for.


Nat.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Arte "viva"


Calcei as rasteiras
Assim os passos esticam-se e aceleram.
Porta a fora, caio na rua do Ouvidor
Na Ouvidor tem um cego...cego.não.ouve.a.dor
Na butique dos esportes os vendedores alimentam a fome do cego,
É diária a esmola
-Dez centavos! Dez centavos para um cego!
-Eu quero almoçar!
O cego já é hospedeiro da calçada esburacada.

O tempo é de sessenta caimentos da ampulheta
Por entre os homens-sanduíches :- compro ouro-ticket-vale-refeição!
Vou eu a driblar as velhas turistas com suas poupanças gorduchas e espaçosas,
Passos lentos angustiantes para os que seguem a procissão bem cá, atrás.
É o rapa acelerando os maratonistas da Uruguaiana,
-É só botar água que cresce!
-Sombrinha é "cinco real"!
-É o pacotão de amendoim!
-Bolsa da Maria Filó só paga cinquenta!

O sinal da Rio Branco só abre quando os carros estacionam beira a faixa de pedestres
É “ muvuquê de favelê” atropelando você...
É passeata Cinelândia a fora...fora bola, Câmara a dentro...
É Praça Pio X dos comedores do pão duro
Cobre-costas papelão
Banho de mar no Chafaris-Candelária
Coisa excêntrica pra turista ver
Tem artista tocando Tom Jobim no violino pra bancar faculdade,
Tem artista fazendo mágica para pagar o feijão
Salve Largo da Carioca!
Point dos artistas abandonados por Deus!

Rumo a Primeiro de Março
Dos Templos Á santa fé
Gostinho do mar que se aterrou...
Tem poeta vendendo sua arte por cinco cruzeiros
Arte marginalizada
Profana poesia das ruas do coração do Rio

A arte é viva!
Pinto duas telas de Frida Kahlo na face suja da criança da sorte furada
Canto Cartola na cola do pivete largado
Declamo versos Machadianos em tudo quanto fosse perdido
O Rio levou...leva tudo outra vez...
Rio sonso...mesa pra dois.



Nat.

sexta-feira, 20 de março de 2009

"Banquete Candelária"


Foquei as mãos nos olhos
Olhei os dedos dos céus
São sete cores pro branco em mim
Contei todos os desconhecidos templários
Sondei suas feições
Calei-me dentro
Suguei crença
Minhas sextas são santas

As pinturas reluziam o fosco mármore
A cada olhar, nova íris
Brilhei água de meu rosto
Os anjos todos entrelaçados(pequenas crias)
Espadas do latim
Os vultos fundindo cada espaço
Raízes esverdeadas de um passado regurgitado

Ergui três altares de minha essência
Já não distinguo minha carne, de minha candelária
Sou ela em mim
Altar destro de minha serenidade
Altar canhoto de minha traquinagem
Altar central...tom de minha alma
E a mulher frágil a segurar o ventre do templo
Do ventre emana fe
Entranhas de minha arte

Quero engolir o silêncio
e romper com os carros que amontoam as calçadas de minha paz
Quero calar os gritos apressados
Dê-me o tempo!
Estagnar novo refúgio
e atentar fé dos joelhos que se dobram
O espetaculo preenche cada fresta
A crença exala o belo
14:00 horas, vou partir...
Beijo a testa dos santos sábios mentores da louca santa arte.
Me vou, revigorada.


Natacia Araújo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Malabaristas do verbo























O mundo está a todo instante

renovando areia do tempo

Escorrendo o amarelo

Sobrando-me verbos

Atropelando-me prosas

Plantarei então girassóis!

O trem somos nós!
Desgovernados ou não!

Permito-me ciranda,afago,espelhos

Preparo minhas roupas
Pele branca, água e sal

Saio sim...apenas saio
como quem dançando pudesse voar

Entregarei todos os meus dias
A poeira,ventania

Meu mundo quer crescer!
Meu mundo quer somar!

Desejo todas as chances encobertas nas páginas dos outros livros
Minha saudade é crua


Tenta-se viver apenas o trago do momento
É preciso nascer
O princípio reinventa laços

O amor transborda!
Optei por amanhecer.


Natacia Araújo.

domingo, 15 de março de 2009

Muros alheios

















Aqui jaz cortinado de azul: "livre arbítrio"

Peito coroado de ladrões

Sopro pra longe do vento

Tomaram a posse do corpo que quer sair

Muros alheios desorientados

Meu grito é ateu

Faíscas geniosas

Ferve a dança

Histórias entranhadas

É hora de ressurgir dos aços

Na ânsia dos goles mais ágeis

Asco dos sentimentos acovardados

Aqui jaz um caminho

Não pergunto-me como vi certas coisas

Vasos de contentamento

Meu grito é pra dentro!

Tua lama é cerrada

Canto coagido

Minha dança da intuição.


Natacia Araújo.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Menina dos olhos


Contou-me passos

Olhei atentamente, em tom quase inocente

Girava pés sinalizando laços

Não fitou a íris de minha menina

Mas já era a percepção de olhar imprudente

Desviei, e de achar caminhos, fugi de todas as respostas

Na pele queimada do varal, é mulher infame, carne e sal

Fingiu também não o ver

Devorei meus olhos

Engoli o pecado

Escoltou meus pensamentos até meu leito, até manhã...

Flor com flor planta jardim...

Do chuveiro de minha insônia, água salgada, salpicada de cavalos marinhos

Não me aquece, não acorda, apenas...estranha sensação

A voz perturba...é no tímbre, é dela que sei ao qual pecado me condenei

Flor com flor planta jardim.


Natacia Araújo.

Fé Sagaz



Desce das rendas bordadas

Chuta macumba das pás viradas

Escancara a janela

Rosna e grita se não tá bom

Se não tá bom...tem que melhorar!

Ô meu Deus...se não tá bom, é pra melhorar!

Faz um pedido pro santo

Oferenda de preto causa espanto

Reza pra Cristo e pro Anjo

Avisa à Samuel

Fala pra Miguel

Abre a bíblia nos Salmos

Lê a Torá pra ficar calmo!

Abre a palma da mão"

Cigana já traz solução!

É fé em Deus! Ô fé nos amigos seus...

É fé em Deus! Sim Senhor! E nos amigos seus...

É fé perdida

Fé querida

Esta fé sortida


É fé sagaz...
Vento leva...
Vento traz...


Nat.

terça-feira, 10 de março de 2009

Sortida

















É de mar

É de morro

É de terra

Poeira e calor

Concha do mar ronca samba

Alto, baixo Redentor

Vira um samba pro pé

Vida é como é

Paraíso pra santo, pra orixá

Casa pra Deus, Budá, Maomé e Iemanjá

Saliva boca dos sem crença

Chora sal
Enche o mar

É criôlo no branquelo que faz o colorido

É gente fina, gente boa aumenta o som desse sutaque

É de coração transbordando que descem os poetas do morro!

Tem João e Maria
Tem Odete, tem José

É gente pra tudo

É povo raiz de fé



Nat.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Novas velhas veredas


Saudades dos que não foram

Carências destes vivos

Que compromissaram-se em outras veredas

Partiram pra perto e quase nunca mais voltarão

Olho bateu olho, duas,três vezes depois,pra nunca mais batucar

Era de contar estrelas nas linhas das mãos

Era todo dia um bem querer,

Comemorar,"baboseirar",devaneiar

E rir do pouco! Rir muito!

Vibrar todas as vibrações

Cantar revoluções internas

Romper nossas vaidades e traquinar

É misto de quero mais com quero tudo!

Era a pretenção mais despretenciosa que ninávamos

Sobe no terraço!

Queima aquele velho incenso

Junta a velha turma

Diz que o mundo vai voltar a girar

Agrega gente nova

Agrega quem couber, quem quiser

Roda meus cachos

Tô chegando na praça

Tô traçando aquele chão

Tô caçando aquele gosto

Tô de novo...novo.

Quase parti,fui me embora, vi alma sair...

Meu humor é meu Senhor

Minha história é autêntica

Não tem pesos iguais

E eu gosto é dela...eu gosto é muito dela

A terra queimou meus pés

E descalça, já nem dói mais...

Nat

quarta-feira, 4 de março de 2009

Frutificas


Árvores de sua vida...

Era o pé de carambola,azedume das traquinagens de sua infância...

Verde fruto singular.

Tinha o pé de jabuticaba,enfeite da casa de madeira, doce lar de bonecas

Era chão de terra molhada pra crescer acerolas, furtadas de quintais vizinhos..."queridas peripércias"

Tinha todo o descaramento de ser pequeno...

Todo desafino em voz pra gritar afago do ninho

Cresceram árvores que alimentaram meus desfrutes,frutos ainda não esquecidos...

Molharam meu caule,
folharam de verde meus olhos,
deu tom jabuticaba meus lábios,
frutificou diversidade em mim.

Natacia Araújo.

Volta



Esteve fora,

Ausente de si

E quis espirrar saudades

Andar na rua no frescor da tarde

Sentar no banco de uma praça

E desfrutar de um óssio tranquilizador

Quis cumprimentar velhos vizinhos, amigos de outrora

Quis cheirar folha do pé de manga e comer caqui maduro

Descalçou os pés

Desprendeu os cabelos

Esticou-se frente as árvores de sua infância

e olhou curiosamente para o comportamento cotidiano com toda a traquinagem deliciosa...

Bebeu água fresca, lavou a face, não a quis enxugar

e sorriu ao contemplar vermelhidão do entardecer...

Esteve ausente por tanto tempo...Sentia saudades de si...Voltava pra resgatar essências...

Natacia Araújo.

terça-feira, 3 de março de 2009

Tons bailarina


Vejo o preto e branco


Mas sei misturar cores

Faço meu quadro nos tons de minha vida

E lambuzo os pés de verde e mãos de azul

Beijo areia dos olhos

Namoro a expectativa

Raso mar!

Eu quero é variedade!

Pintar a boca de mel

Ansiosa alegria

Vou-me na delícia de ser verdadeira.

Natacia Araújo.

Reflexo cru























Distorções por trás de copo d'água

O melhor reflexo é do rio que corre

Não aumenta o que não o é

Só reflete e flui em nosso transitivo

No cortinado feroz

Chega a hora de estancar artifícios

Estou solta e não sei levar-me.

Natacia Araújo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Filha do Barulho



Fosse mesmo qualquer tempo

No momento que a hora

Calejados dedos de seu ventre, (feto doente)

Nascessem quando a fome distante gritasse por cada pedaço que ainda falta

Filha do barulho

Descaso do óbvio

Golpeia minhas farpas

Amputaram-me o céu

Não ouso mais determinar quantidade

Artifícios suados de meus quadris

É chegada a hora de mudança.

Natacia Araújo.

domingo, 1 de março de 2009

Letra insana


E de driblar as pedras, muito não se deixa conhecer as curvas

É ter pouco de si

É burlar

As ruas estavam tão parecidas com meus passos hoje

Desbravo assim letra insana da razão

Ela degustou de uma manhã infértil

Despindo-se limpo de incertezas

Engolindo fronte exaustão das mesmas

Fez-se seco expectativas posteriores.

Natacia Araújo.

Sucumbir no Absurdo


Ao observar as pessoas( e um pouco de mim também), e tendo olhos vivos para olhar que não há como excluir-se do "coletivo", me pego pensando no amontoado de humanos-deuses a distribuir todos os súditos do reinado de egos participantes do mundo inflante.
Somos perdoados em quais crimes?
Nossa auto-sabotagem é cabível?
Adiante a todo "meio termo" engolido a seco em palavras pacientes e milimétricamente selecionadas( nobre ato?)pergunto-me se não somos todos uns tolos lambendo todo o poder dos dedos melados ou se realmente não somos movidos a grandes provocações?
Até que ponto a gestação do sárcasmo não vai parir tecidos sujos?
Tem dias, que o melhor a se fazer é sucumbir no absurdo.

Natacia Araújo.

Oração do contraditório


Essência nossa por trás do fel
Desmistificada seja tua fronte
Venha a nós em nosso leito
Seja desfeita nossa impunidade
Assim em galopes de pincel
O chão nosso de cada dia está podre
Multiplicai nossas diferenças
Tal como multiplicamos
Aquilo que é de nosso agrado
Não nos deixeis sufocar em contradição
Mas soprai todo o sal

Amém

Nat

Estrada e Estadia


















É por entre os dedos que o rastro de luz faz de cada abertura de mãos:cego!

Sucos de saudade por versos que se negaste a gritar

Faz-se necessário o provocar, e odiar-te escondido dentre os dedos... tapa faces, tapa olhares meus, pros teus

Nego-me ser pó, estrada e estadia

É efemeridade demais pra um estar tão fixado em solos de areia em chuva

É oscilação de ódio e febre

Não calo meus olhos no raso

A tua solidão é tua cor.

Natacia Araújo.

Soprados





















De tanto amor

Fiz-me barco

O mar se afogou

Fiz-me carne

Não ouvi, saber calar-me

Minhas janelas só abrem pra dentro

E meus pés não fluíram como ontem

É retirada da última cena

Não o chamei, não o soprei

Como das verdades

É de mármore tua senda

É janela escancarada dentro do avesso.

Natacia Araújo.