domingo, 24 de maio de 2009

Desenho das sementes

















Meu menino agitado
Teu gosto ainda não passou por minhas mãos
E toda pele mora filhos da espontaneidade
Nem sabes quanto gosto desses teus cabelos pretos entrelaçados em meus dedos
Ficar em teu colo até os vidros queimarem...
A pele atrai e teu sexo me completa
Nosso ardor é incansável, deixo que me tomes nua e que pinte em meu ombro o desenho das tuas sementes
Vou beijar teus ouvidos na tentativa de leitura do que espreita imã
As árvores se curvariam todas beijando-me o bico dos seios
e eu iria deixá-las na ânsia de gozos regados a chuva
Acho mesmo um encanto tua crença em um branco mais vibrante
Delicio-me em tuas expectativas por tronos mais justos
é tão terno nossos laços recém prendados
Tantos mundos pra se recriar
Na tentativa de pés mais descalços, sinto em quase intuição, que nossos pés seriam mais dançantes no mesmo trilho daquele amarelo
Cativada por toda a simplicidade e empatia, vou dobrar todos os muros cinzas que construí ao fim, vou abrir-te minhas janelas na breijerice de quem cata as frutas das árvores vizinhas
Se os braços não alcançarem- os frutos ainda são verdes
Mas meu homem agitado saberá olhar-me com ternura, me beijará a testa, concretizando a moradia daquele amarelo
Este amarelo ainda finca o chão, tem tanta coisa pra se pintar...
O amarelo daquele trilho está pra chegar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

"Carioquês"


Que me perdoe Clarice, mas bom mesmo é viver no Rio de Janeiro
Divino então, é carregar no sotaque a história e cultura de nosso "carioquês".

São nos becos e ruas deste Rio democrático que o sangue ferve, pinta um ar sortido de todas as tribos com todos os santos
Das ladeiras do morro, às calçadas portuguesas da Gonçalvez Dias, neste centro histórico, neste chão batucado
Nos cafés da Ouvidor, ou por entre a multidão do Saara,as ruas denominam-se: tradição

Este Rio que intriga e gargalha descaradamente
É raridade se ver por outras bandas uma rua denominada Primeira no mês de março beijar as costas do mar
O lar da arte poética dá as graças: Rio Branco- todos os monumentos prestigiam tua trajetória

Amo as sextas de rostos coloridos e sorrisos gingados, sentar nos "butecos" de teu eixo cultural, tomar um chopp no Amarelhinho e ouvir o mesmo Cordão da Bola Preta que "sapequeia" nossos Fevereiros.
Que seja pois, atravessar a rua só pra tomar o suco de manga do Paço imperial

Lapa, Lapa: quem te fez assim tão querida?
As mochilas e rasteiras deste pequeno canto nos remete a boêmia das noites que vão até meio dia.- Teu samba não tem igual
Praça XV dos contrastes acomodados, por entre um de seus becos a feira mais alternativa que a arte poderia conceber- aquelas fotografias tinham mãos que acariciavam os expectadores, e os quadros sorriam para o céu sem nenhuma nuvem

Quem vê, há de concordar que os melhores artistas do mundo são estes descalços na Uruguaiana, na Central do Brasil ou no sinal da Presidente Vargas
Não vá para o Chile- a melhor escalada do mundo está no morro da Providência, os heróis estão todos lá
Não há dúvidas acerca do encantamento do mar do posto nove. Mas o que causa a sensação de "borboletas no estômago" é o povo desta terra. Quem presencia a ginga de levar a vida volta de onde quer que esteja: a.p.a.i.x.o.n.a.d.o

Terra travessa...
Bom mesmo é amanhecer o dia nas rendas das tuas saias.

sábado, 16 de maio de 2009

Súplica



























Poema feito em parceria com Marcelo D. Amado.

Suplico
Complete-me
Tenho as trevas em meu manto
Trago a dor em minha voz
E ódio nos olhos

Imploro
Tenha a mim e terei a ti
Dou-lhe o poder para tirar a vida
Dou-lhe o sorriso sarcástico do psicopata
E o olhar gelado do dissimulado

Ofereço-lhe minha alma negra
Para que teu sonho embale
Rasgo minha carne e te dou de comer
E para beber lhe dou o meu ser

O que tens para mim?



Ofereço-te um azul instransponível, um azul que inebria todos os órgãos,
A loucura excedida por teus poros rasgados
Minha alma é luva
Escalando todas as inverdades

Consinto com tua súplica
Tua presença quase interminável
Nem você sabe,
Está na minha boca

Nossas almas se correspondem por versos
Lírios de morte consagrados
A boca lê desejo
Percorrendo sons do insano sono do verso

Farás de meu corpo teu alimento supremo?


Se assim desejas, farei de ti o meu banquete
Tua pele, boca... Teus dedos em meus lábios
O gosto das cores que jamais ousei experimentar
Sentirei teu azul em minha língua

Sabes que a escuridão não suporta cores?
Me fartar de teu corpo é minha sentença
Minha existência será então contada em lendas
E os homens não mais morrerão

Será o meu fim, meu doce fim
Mas ainda assim suplico, imploro
Tenha a mim para que eu viva sempre em ti
Complete-me
Complete-nos


Nasço do mesmo escuro que guarda tua sentença
Por entre ossos tênues construo alicerces de um medo que sempre penetra
Minha solidão é ereta, é firme, tem raiz, textura e cor
Meu corpo animal estranho em mim

Tenho em mim que tua fome seja de versos mortos
É a escuridão que docemente me sabota
Logo, saberás do medo, este amigo ingrato que nos toma os limites
Este mesmo tirano que nos liberta da razão...

Desejo então, te olhar sem grades
-ele já não me ataca-
Manso, audaz, na perspicácia de seu silêncio...
Perambulo hoje em teu vazio

Que estrada leva a nós?


Meu único medo é não poder ver mais a tua luz
Essa mesma luz que me trouxe até você
Perguntas que estrada leva a nós
Mas qual estrada não tem nossas pegadas?

Eu vim pelo caminho do teu desejo
Atravessei a ponte que separa teus princípios
Segui o ronco de tua fome carnal
Ávida
Puramente impura

Estrada de desejos profanos
De pensamentos insanos
Onde nos unimos sem pudores
E onde me perco em teus pensamentos
Logo eu, me perder por você, logo eu...

Que queres você de mim? O que queres com a morte?


Desejo da morte, o gozo sereno dos esquecidos
Termina o tempo de estancar artifícios
E quanto a mim, desejo as mãos pintando as sementes de tuas vontades
Queremos a ausência de luz , tragos de insurreição
Tens mesmo um lugar pra mim?
Eu quero é eternidade
Despejar o caos
De todas as certezas violentas
Deleito-me das tuas sombras que racham o chão

Todos os teus labirintos são tecidos
Esculpindo as dores de toda transmutação
Meus dias estão sedentos desta doença tecida por tua dor
Tenha misericórdia de meus restos de pureza

Agora? O corpo padece de alma!


Tenho todos os lugares para você
Por que esperar mais? Venha
Me dê a mão
Suba em minha carruagem

Eu lhe dou minha alma eternamente negra
Vista tua pele com minhas sombras
E eu me rendo a tua invasão de luz
Me entregarei ao que chamas de amor

Atenderei teu pedido e teu corpo será meu
E sentirás as mais belas e arrepiantes sensações
Enquanto sugas a minh´alma até que eu me desfaça
Terás a mim eternamente. E eu a ti... Etereamente

Chego ao meu fim e ao seu sempre.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

CAPETAlismo
















Amanhece no sistema
O chão é de infinitudes amarelas, regadas a chá de coca e pratos quadrados
O chão cabe na palma da mão do que se eleva
Adentro, compro-vendo
E regem eles em suas artimanhas
Cuspindo tributos
Dar à Cézar o que é de Cézar?

Deixai vir a mim as criancinhas para que seus ventres ocos ronquem por pão
Pai nosso que estás no céu...teu reino é de difícil acesso, já não cabem fretes dos jatos do governo que nos façam chegar a ti
Santo cálice do planalto, este é o sangue do povo, bebei em virtude do fim
Amai portanto, o próximo como se essa, nunca fosse a sua vez

Os cães mordem a beirada das expectativas
Rasgam as preces dos que tem frio
E lambem o sal dos olhos miseráveis
O chão corre rumo aos passos
Qual a direção dos pés que definham?
Enviem pois, cordas para seus pescoços
E lancem mãos à escravidão contemporânea

Matem as mémorias dos fracassos vergonhosos
E driblem a realidade da prepotência
Vamos todos parir filhos da américa e morar no sonho da terra alheia
Chupar as mangas da mesa provisória e ludibriar a semente abandonada
Reunindo a fé precária em cristo,igreja e dízimo vamos fazer fortuna em ruas de ouro do paraíso...
Dopar toda a sensibilidade e intelectualidade na tela de uma TV
Colorir os fios e veias da grande conspiração do ego...

Vida longa ao progresso decadente.

Partida


É aí então que você esquece de todas as coisas triviais e só pensa no ar que não passa para os pulmões.
Ficam pra trás todas as despesas, aborrecimentos, frustrações, erros e acertos, tudo se esvai junto com o ar que não volta...
Você crê com todo fervor e clama pela ajuda dos céus, o sufocamento é desesperador.
Você não lembra da raiva, da vergonha,do tédio, da melancolia, da paixão,do sexo. Você não pensa em mais nada a não ser no fato de que sua vida está se esvaindo em frações de segundos.
A vida partindo com a mesma estranheza e ferocidade com que chegou...
Suas histórias ficam todas para trás e sua existência será pouco a pouco esquecida...
Você está deixando de fazer parte da vida tal como conhece, enquanto observa a aparelhagem em volta de seu ente querido, aí você morre um pouco.
Depois que eles partem, nossa vida se altera, abrindo passagem para novos olhares sob nosso curto ciclo existencial.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Denominadas

























Os cabelos cheiravam a frutas cítricas, os olhos eram grandes e arredondados, fixavam apenas os olhos da outra, e ali deitadas elas se amavam com força e sem pudor.
Ela amava vê-la cantar e improvisava cenas de ciúme na tentativa de certificar do zelo que as mantinham sendo apenas delas.
Elas se desejavam e se queriam nas praças e a luz do dia, os beijos eram de língua suada, e as unhas sempre marcando cada trecho de sua euforia.
Elas engoliam o mundo e abafavam todos os olhares a cada abraço e mãos com mãos, nada mais existia, apenas o desejo de tingir de amarelo cada fresta da noite.
E se infiltravam nelas mesmas a cada dia, era a falta de fome, a ausência de frio, a partida das convenções...eram elas...denominadas: frescor.


Natacia Araújo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Encontro















Se conheceram meio que ao acaso, os olhos dela fixados na foto dele. Algo diferente naquele rosto... ali brotou a curiosidade e encantamento.
Conversavam a cada novo gesto. Vida nova a expectativa.
Quando encontraram-se a primeira vez as pernas tremeram, os olhos os entregavam, a ânsia era plena...
Pareciam ouvir os pensamentos só com os sorrisos esboçados.
Algo novo,a espera de uma certeza?
Era bom...tão bom...mas as estradas estavam paralelas...
No último encontro o auge de tudo que queima: o gozo, o grito, a frase e o fim.
Ainda deitados no chão de seus sexos, eles permaneceram calados, serenos...
Sabiam o quanto era justo que não levassem a diante, justo com o destino que não os queriam assim...
Fingiram não saber que aquela era a última vez
Passados sopros, receio: sabendo que a foliã marcava versos de sua vida a areia exposta. Falaria ela um dia o sopro de suas cantigas?
Ele a olhava vez por outra,tendo a convicção de que a troca ainda discreta era recíproca.
Certa tarde, brindado em agonia de sua curiosidade, decidiu sondar todos os versos dela, pois sabia que encontraria algo só deles ali.
Sentou-se frente ao computador com uma xícara de café forte ao lado, mexia nos cabelos sinalizando ansiedade...seus olhos riram: ela os mencionou...ele estava ali, e entendeu que se tratava dele na primeira frase que lera, as sensações eram lembradas a cada palavra lida, aquilo só podia ser o sopro que só cabia a eles, o sopro de suas cantigas.
Ele riu de canto...tinha agora a certeza de que não passara em branco na vida dela.
Ela, ao caminhar da última frase escrita riu: é...foi bom enquanto durou.


Nat.