domingo, 28 de junho de 2009

Mude as linhas
















Entre risos e brincadeiras rotineiras, você me fez um pedido, prometeu que seria o último, e eu não poderia negar.
Sorri curiosa... E gargalhei ao descobrir do que se tratava.
Você me pediu que trocasse meus versos rebuscados por palavras claras, nítidas pra você, o que me fez encarar a proposta como tentadora.
Seguindo a linha de raciocínio, com ar misto de seriedade e autoridade pediu que eu escrevesse o que sinto, e se ainda sinto o gosto da tua boca depois de tomar café.
Ainda surpresa, sorri sem jeito, e revelei que gostava da sua boca entreaberta com sorriso de canto.
Confessei a falta que sentia de ouvir as teorias filosóficas saindo dessa boca, e que nossas conversas e questionamentos a respeito da raiz do mundo existencial era convite para fazermos amor.

Aquela noite em que li tua existência... Foi memorável. Você me pedia ainda rindo que escrevesse nas suas costas minha visão de nós... Sorri como se tivesse novamente doze anos e consenti travessa ao seu pedido.

Suas costas me diziam:

“ O avesso da pele arrepia meus poros”

Naquela noite, não pedimos mais para ficar. Fizemos amor ali, no chão da tua varanda, um amor imoral e ausente de pudores. Quando terminamos, a imagem que mais me marcou era a das tuas mãos acariciando meu ventre... Meu quadro pintava tuas mãos afagando a pele ainda quente. Tive quase certeza de que pensamos juntos enquanto nossos olhos fixavam em minha barriga... Teus filhos já não sairiam mais do meu ventre.

Você sabia quais letras do meu corpo arrancariam da boca suspiros.
Apoiei-me no teu ombro e fui em direção ao álbum de fotografias. Fitei uma a uma memorizando todos os momentos em que eu não estaria mais. Deixaria de fazer parte de você. Senti-me um pouco angustiada ali... Você queria chorar, perguntou se era o certo. Eu interrompi... Sorri e declamei mais uma vez aquele poema feito pra você:

“... Meu mago terno... Dedicar-te o amor que espreitas, é negar-me vento ser...”

Você se aproximou, fez novamente amor comigo, mas desta vez, doce, amigo, irmão. Beijava minhas bochechas e me acariciava a testa. Ao fim, pediu que eu não o esquecesse.
Você faz parte de mim, respondi.

Não choramos mais, a vida se encarrega por si só.

Não sou mais menina dos teus olhos, avisei enquanto abotoava a blusa. Meus olhos miram muito pouco agora... Tua menina era sedenta de mundos...E esta aqui, quer pouco demais pra você.

Você permaneceu com o sorriso nos lábios, sussurrando que eu seria sempre menina.

Sorri também, beijei sua testa, e lhe agradeci pelo último beijo de café.