segunda-feira, 27 de julho de 2009

De fora


















Uma mulher nua arreganhada em teus músculos
Gostos crus e imundos
Minhas saias levantam-se como preces
Desci a escada
Meus degraus querem de todos pés gozar
Sua espera injusta, você me olha de fora
Vira pra cá, pinto um tom paixão nas paredes
Emergi dos tacos escuros da sala
Este mesmo chão me esconde
Peco o tempo inteiro por esperar
Algo me diz que até a razão apaixonou-se por todas as horas derramadas em tuas gargalhadas
A boca partilha de toda certeza
Me diz algo alegre pra eu desenhar teu sorriso na mesa
Estes, já são frutos
As vezes perturba o sono
Só o meu lugar me define
Coloco pra fora uma voz grave, outros silêncios querem falar
Ele delata meus poemas
Arranho o papel, não deixo passar o verso
Verdades diluídas em sal, saudades e bebidas quentes
Em cima de meu armário há uma arma que perfuma todas as palavras
Abro minha segunda-feira ainda ensanguentada
Nem sempre somos parecidos
Minhas receitas de auto proteção falharam todas
Puxa mais um corpo, e bebe dessa alma impaciente
E desta vez, não solto tua mão.

domingo, 26 de julho de 2009

Ela dança





















Concedo o verso no momento em que minha língua a reconhece
Ela dança. Concordando com o ritmo
Nossa ebulição traduz o ar
O abraço tece todas as pontes
Seus cabelos costurados em minhas costas
Lá fora a música rasga e equilibra
Sopra um cordão de vida escondendo-se em qualquer banheiro
Ela quer apenas sentir as invasões do meu peito
Esta noite o corpo percebe a concepção do constante desejo.

sábado, 25 de julho de 2009

Resíduo


Parceria com Édina Regina Araújo.(*)



Não existe quem a ame
Violo a santidade de teu lar
Em meu corpo, sufoco o orgasmo de teu homem
Ele faz cócegas em meu útero
O que escorre de seu sexo é desmedidamente quente
Encaixa-se em mim sem pena
Eu o engulo, sugo, e tu, imaculada espera teu esposo

*De meu ventre saíram seus filhos
Ao meu lado dorme todas as noites
É minha casa que chama de lar
Em meu peito que chora quando está triste
Dediquei minha vida e ele é grato a mim
Ele nunca foi teu
Te usa como quem não tem valor
Não te preserva, não se sente responsável por ti
Tola ,fútil não tem raízes nenhuma que o prenda

Abro bem meu beijo, tenho o retrato dele em meu quadril
Tua cama é morna, embriago tua natureza mal amada
Gostoso sentar na fervura de seus dedos, a boca dele olha-me sangrando
Em nossas íntimas brincadeiras coroam todos os seus gemidos
Ele senta-se no meu colo, ávido por nova mãe
Desfaleço, os bicos enrijecem, desnudo a alma
Ele morde-me cada vez mais fundo
Abre-me sem disfarces
Permaneço, minhas unhas em suas costas são inconsequentes

*Realizei seu maior sonho
Ao dar-lhe teus filhos homens
Como ele queria ser pai
Acariciava minha barriga
Esses são momentos de felicidade real
Não desejos tolos e passageiros
Acha que não me procura em seu leito?
Engana-se, ele me quer como sua mulher
O que diz a você?

Feto podre!Desejo conflito!
Quero o órgão dele em minha boca suja
Um corpo acolchoado de falsas memórias
Adentrando as pernas
Minha criança me beija os seios
Desassossego de nossos gozos escondidos
A casa doente espera-te
Na tua cama abriga um morto que chora
As malas prontas, caladas. Consumamos, sabemos que gosto tem

*Você passará, na superficialidade de teus desejos
Os méritos continuarão sendo meus
Sua casa continuará aqui
O amor está vívido
Ele jamais esquece seu lar
E eu estarei esperando toda noite em meu leito
Nos amaremos e não lembrará mais de você

Diálogo com a pureza
O veneno fica, em outra boca
Tenho um lençol quente
Transo e escondo minha dor
Sou vontade
Ela é paixão
Ele é covarde
Gozo por prazeres em instantes.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Humana


Identidade. Tudo ali, na prosa infértil
Percorro solta e improvável
Minha embriaguez é natural
Sou de Deus e do mundo
Fui jogada a loucura de uma poesia geniosa
Enquanto indivíduo, sou pura oscilação
Seguimento inteiro e disperso
Dentro de mim não há espaço pra cura.

A Dissimulada





















A cama acalenta insones e insanos
No barro inútil é estreita e passa
Não respeita o corpo
Arromba o que arrancam dela todos os dias
Este sexo confessa todos os crimes
Carrega no colo toda marginalidade
Dissimulada, saboreia os conflitos de outras páginas
Deita-se com seus próprios personagens
Sua fome é sua platéia.

A Santa

















Só tenho um grão que me esmaga
Espero quieta, nada que eu diga findará este sopro delicado
Meu leite empedra e ainda nem sou mãe
Do outro lado, aceno presença divina do profundo
A morada do corpo ainda é a palavra
Sou fraca,e minha nobreza não sabe sorrir.

A Dama


Quando a dama se esquece do luto,
Faz morada em antigos conventos
Faz do corpo geografia do céu
Evoca sentidos deste mesmo incenso perfumado
Óbitos em sono e prece
A dama permanece nas tintas
Pousa em tecido da carne que se ergue
Forma calor moribundo impregnado em ebulições
O feto mexe morto em seu ventre
Em seus olhos cansados ela esquece de abençoar a língua
Prova-se. Está viva. Constata por baixo de cada cratera uma ferida
A intensidade da dama é também a sua morte.

A louca


















Passa, rasteiro, cicatrizante
Diante de toda felicidade, qualquer parâmetro vira lei
Nas sextas, sai a louca do espelho
Transborda para o bando seguir livre
Hoje, ninguém nos tira
Os símbolos sublinhados em linhas
Edifique a casa colorida
Cada pé descalço, capricha em sua fantasia.

Antigo Caos


Minha pequena escolhe-me
O ritmo de suas pernas é dissonante
Os passos em devaneio, confusos e cintilantes
Arrasto os ritmos por toda a cidade
Não decoro meus pedidos
Minha pequena é meu vício profano
Meu palco sedento
Revivemos em ato, antigo caos
Duas mulheres gritam em procissão despercebida
Femininos orgasmos da alma
Nosso gemido sobrepõe a palavra
Nasci para ser mulher.

Sobriedade


















Meus homens em desalinho cumprimentam minhas coxas indefesas
Ávida, esguia e compenetrada
Não há gravidade estabelecida enquanto subimos
Desesperados, transando embriagados em azul
Estou grávida de três abraços
Suguei em uma dimensão inversa a sobriedade
Todas as noites em que se deitam sob meus olhos sinto o quanto é demasiado monótono estar sóbrio
Meu orgasmo era aquele lá
Meus homens choravam em fluidos penetrantes
Molhavam meus seios doloridos
Os degustei como quem prova um vinho ruim.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Encerro














Sepulto o último poema
Volto no tempo
Rumo a qualquer corpo
A boca despede-se de uma dança breve
Encerro a prosa nunca encerrada
Confundi todas as fugas e procuras
Retorno. Todo ardor levou-me a destroços
Quando me dei conta, a poesia estagnou
Desaprendemos os versos curativos
As próximas invasões terão avisos
O caminho foi vencido
É chegada a hora de todas as rupturas
Fere e afasta
Acabou-se toda a tinta
O que escrevi,foi guardado sem registro
Aqui jaz a palavra não acabada.

Injeta-me

Guarda-me em uma caixa rasa e amarela
Cuspa-me na primeira guerra
Ventila-me em desassossego persistente
Dói-me quando o tesão não escolhe
Coma-me entre tuas pernas
Injeta-me teu gozo nas veias
Devasta meu livro sem ler.

Avenida












Escreve sob meu ventre teu nome
Guarda tua saliva para minha língua
Meu colo pede moradia
Aqui, vapor tem denominação
Escorro por baixo das fontes
Gosto e desgosto
Este corpo é uma avenida intocada.

Nação poesia


Desjejum de sentimentos
Meus versos nunca me cobram
Abri os verbos e minhas pernas
Taquicardia dentro dos lábios
Trepo em fluídos cortinados
A nação poesia me atrai.

Outro corpo


Preciso emergir desse papel
Acalmo-me, a letra muda
Quero sangrar em teus prazeres surdos
Estas noites querem dormir dentro de outro corpo
Lavo os cabelos imersos em meu líquido
Troco sarcasmo por gozo mútuo
Não sou santa, mas, nunca estive a venda.

Sabor de sangue


Vem comigo, como se eu morresse aqui
Na boca, sabor de sangue, chave e queimadura
Território para todos os feridos
Suposta arte, casa de minha morada

Não o chamei aqui
Permito manipulação em teus afagos
Não sei sobreviver ao verso infligido em teus dedos
Opto ficar sem teu gosto

Deixa minha poesia em paz
A todo custo embriago as origens de tudo
Estou amparada por quem me rendeu
Fui gerada em uma sexta-feira

Espalho uma prematura sabedoria ordinária
Emancipo meu corpo
Só conheço a fragilidade intransponível
Força paradoxalmente fulminante

Maturidade que inibe expectativas
Meu leito tem ódio de te amar
Renovo meu orgasmo em entrega
Errante, faminta e em saudade aguda.

Bia






















Erro as cores de todas as ruas
Sinto falta de Bia
De tudo que ela confessou à minhas saias
Nossos relativos conceitos da tridimensional alegria
Começamos a fazer leituras, caminhos, superfícies convexas
Gostaríamos somente de sombra
Esbarramos em sonoridades
Atropelando ânsias, queremos mesmo é morar na rua
Preparamos todos os ânimos
Não medimos, nem contamos, acarretamos os dias
Fazemos festa de toda continuidade
Bia me faz desesperar os versos
Sabe todas vontades
Pescamos sorrisos de todas as lágrimas erguidas
Somos faca para prisões convencionais
Vamos comover nossas frustrações?
Bia é minha pluralidade.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Doze

















Saio desnaturada, através do suor universal
Tomo goles das poças de chuva
Lava e concede a identidade de meus ossos
Quero canção dos que tocam e deixam
A lei rege uma imaturidade que não quer crescer
Visito ironias e contesto vontades alucinadas
Na varanda, correntes elétricas de boas lembranças

A loucura é nossa
Não retrocedemos nossas origens
Pó e uma felicidade calorosa
Travessos e deliberadamente verbos soltos
Brincamos com a fome por versos
Estaríamos únicos e inteiros
Aproveitando o trago de vida nas mãos

Bêbados ou não, o que escrevemos é o entendimento das almas
Doze corações afoitos
Nosso caos é antigo
Bebedeira desmistificada em nossos sorrisos
Faço pintura de nossas utopias
Persuadimos dias de semana transformando-os em feriados
Estes pés inquietos nos povoam

A poesia invade nossa casa
Nossa intensidade colorida
A construção é imediata
Construam os poetas!
Tem dias em que se prefere ficar com nossas fugas libertinas
Somos nossos...A grande alternativa de um futuro grávido
Irremediavelmente coletivo espasmo de ternura.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sexo ateu





















Os passos prostituídos
Ensanguentados esperando o futuro
Sêmens embriagados entranhados na vagina do céu
Qualquer Lúcia reinventa seu nome
Todos os ardis têm preço
A língua reconhece textura e imaginação
O ventre permanece nu, curioso e atrevido
Sexo ateu
Unhas aperfeiçoam cada orgasmo
Através do gosto, uma língua
Transo com o alimento das estradas deste corpo
Fecundando cada curva
Carícias sob o teto
Sal para todas as erupções
Os prédios enlouquecidos fazem amor
Invada, submerso em gozo
Engula, adentre
Umedecendo os sentidos
Afluentes de meus quadris
Dou-te o corpo, sexo que sangra em flores
Um leito respirando ritmicamente
Vadia concepção da clausura entre os dentes.

domingo, 19 de julho de 2009

Entranha
















Admito teus olhos traduzindo meus verbos frágeis
Contornando minhas caladas restrições
Desequilíbrios ditando nossas ruas imaginárias
Teu cheiro imaturo
Latente vontade de minhas frestas agitadas
Abstraindo sem perceber
Preenchendo a espera árdua do prazer
Esta chaga inofensiva que entranha
Numa corrente imune de orações
Tua boca que mal conheço ronda como saudade crua
Vou visitar a língua com meus próprios versos.

Suor e saliva

















Árduo processo, feito de grãos antigos
A alma negligenciando ternura
Tentarei exigir muito barulho
Todos os lampejos serão esguios
No começo da rua, verbos são apenas verbos
As gargantas ardem e sufocam
É como se fizesse amor por mim
Tanto suor e saliva
Ilicitamente atordoada, nasce pra fora
Nas ruas de um Rio tão antigo
Minha inércia está nos pés
Poros encarnados de tempo
Minha boca recebeu por anos convidados tolos
Vou despindo-me
Hoje, o corpo está livre
Agora, desejo a nudez da alma.

Distonia






















Visito tons, verbos e carinhos
Fragilizando o tempo
Teimosia
Por instantes eternizei bocas, beijos e poesias
Nua de intenções, não posso renegar os gritos
Encontramos um verbo e alguns vestígios de desejos
Talvez, do que ainda poderá, simplesmente já o é.

Estagnada orgia

















Um peito chumbado de desafios
Em diferentes sensações, julgando-as não serem merecedoras de meu amor
Erroneamente generalizo meus versos
Despeço-me diante do antigo
O caminho talvez será o mesmo
Sigo exausta em horas vencidas
Estou aqui na imobilidade desta farsa diária
Quem não mais escrevia voltou
Absoluta agonia destas lacunas doentes de felicidade
O poeta seguirá então sua travessia
Prepara-se com antecedência
Estagnada orgia poética
O que queremos é apenas um verso.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pulso e papel

























Quem se diz poeta?

Da comunhão de nossos versos
Amores gerados em aço
Inventamos todos os dias nossa própria hemorragia verbal

Abro o verbo mudo
Dentro de julho sinto a morte viva
Unção de meu ventre com as linhas insolentes

Não deixo o medo escapar
Devastem a radicalidade extremada
Da próxima vez serei verbo demasiado

A força de meu poeta vem da fragilidade
Paradoxalmente trabalhando o que ama
Não conteste esta vã percepção

O que me absorve é este líquido mágico
Surreal, nascido e declamado em pronúncias poéticas
Aqui, a alma entrega-se a pulso e papel

Serei exumada de meu espelho aceso
Estes dedos não sabem mais silenciar proporções
Minha rede ainda balança com teus versos

Pertenço a uma tontura permanente
Peco em palavras que só aquele poeta possuía
Esta estrofe necessita de tréguas

Todas palavras tecidas em tempos de cólera
Rasgo aqui, traduções indizíveis
Escrevo no mesmo ventre escuro

Verso infligido
Fervor noturno
Orgasmo partilhado.

Estúpida poesia


Não serei daqui
Ainda escrevo meio e final
Faço cócegas nas palavras

Serei louca enquanto o corpo fala
Hora de dormir
Invada todas as falsas memórias

Esse verso é o mais persistente
Denúncia deste meu amor por trás dos muros
Ambos querem o que não foi pintado

Criei ódio por meus órgãos latentes
Este teu azul intenso
Transitando em meu sono

Habita em minha transgressão tua origem
Aqui dona da poesia, sou filha do barulho
Me permito chorar cada pedaço que falta

Não ouso dominar minhas farpas poéticas
Fique assim... Histérica e estúpida
Meus braços são pincéis de minha sepultura.

Deixei-me arte


Deixei-me para arte
Certamente a raiz é manifesta
O que me distingue é o destino das intenções
Enquanto minha origem for devaneio...
Recolho os labirintos vencidos

Errado. Ninguém despede os versos
Só procria e transborda vontades indefinidas
Meus laços seguem livres
Do que nutro em mim, não há lugar para despejo
Inesquecível.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desvirginado pudor

















Os pecados são supremos
Instinto que deturpa os desejos
Dialogando prazeres indevidos
Absurdo estampado
Pertenço ao corpo atado
Fome generalizada
Consagro paixão dos semens
Desapego e vontade
Naufrago no sentimento e vício
A matéria arrepia
A loucura deste sexo ainda sabe sorrir
O ritmo-arduamente agudo
Incondicionalmente desvirginado pudor
Sensação-plenitude
Implosão e descontrole
Dissolvendo inibições
Os corpos imersos em cheiros vivos
Meu membro é teu abrigo
A boca pede carícias insanas
Teu sexo escorre em meus fluídos
Hoje, a pele dita as ordens...
Constato na febre meu bem estar.

Insana



















Enlaço-me em saudades
Todas as descobertas desencadeadas por rupturas de tempo-espaço
O mundo despeja variedade
O tempo espera
A poesia vibra em sua condição de mulher
Namoro a veia profana de qualquer desconhecido
Ceifo toda a verdade sem constrangimentos
Transo com todas as dores das liberdades imaturas
Todas as covardias são mesmo assexuadas
Minhas vontades penduram-se em teu pescoço
Frutos omissos correndo no canto da boca
Pra que prazer?
Penetração é ferida aberta
Meu sexo imerso em poesias insuficientes
Preciso da violência em todos os limites
Escrever a profundidade do caos
Serei promíscua em teu papel
Todos os gemidos surdos
Justifiquem os oprimidos e seus gozos entranhados
Tuas causas são arcaicas
Inversão do corpo estranho
No peito, toda realidade é insana.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ventre poesia





















As palavras embruteceram em ruídos
Acordo para o avesso
Minhas vontades são suplícios discretos
E minha alma repara toda a fuga com ansiedade
Mordendo as expectativas o corpo acorda da noite
Todos os indícios do lugar imposto
Delato meus poemas
E revolto a causa da morte
Irrompendo o papel do corpo rasgado
Entrego-me aos versos ausentes
Hoje o ventre poesia está ressecado
Amputaram-me a estupidez necessária
Minhas veias contaminaram-se de uma maturidade perversa
Sabedoria adulterada contra o desejo do corpo.

Contexto
















Me disponho ao recesso
Queria passar o avesso de todos os dias
Quando se cai fora do contexto
Chorar é inevitável
Todos os espelhos são imediatos
E nem toda realidade é induzida
Vou saber perder as sensações concretas
Sou dona deste meu corpo, e ele pede pra sair
As linhas mostram tempo, hoje vi meu relógio antigo
Resgato passos mal dados
O fluído sucumbe as veias.

Absurdo primordial





















A poesia pode vir resolver isso aqui?
A sensatez dá-me náuseas
Severa em atitudes, minhas anormalidades já não salvam
O frio melhorou, mas aquelas sementes foram de verdade
As convicções estavam indissolúveis
Tecemos sentidos deitados em azul

Esta mesma razão que afasta, não me aprisiona
Sou devota das palavras e poupo arrependimentos
Sei retomar os caminhos
Sofrer ainda engrandece
E todo conflito é argumentativo
Os desvios são rotas

Adaptei o absurdo primordial
Os delírios tem a mesma entonação
Todos os infernos são parecidos
E já sei brincar nos campos das idéias
Descubro surpresa os dissabores das letras inconscientes
Meu punho causa mais do que me cabe

Toda minha sucata é rotativa
Não julgarei as regras de qualquer partida
Só não peça pra mecanizar o extremo
Sou mesmo tola por convicção
A infantilidade ainda acelera os movimentos
Gostaria de atravessar o presente e fazer do amor atemporal.

domingo, 12 de julho de 2009

Mediar e adiar


















Medo do futuro
Ainda preciso enxergar em teus olhos
Tua prece legítima e eu escolhi a mediocridade
Não nego meu tempo, mas quebro minhas certezas.
Desisto, escolho o extremo
Gostaria de sentir encaixar um no mundo do outro, o suor das horas
Transbordo errado

O medo me analisa-paralisa
Nunca me basta, uma felicidade que nunca é
Minhas mãos por vezes são acomodadas demais para massagear um coração
Racionalidade avessa
Não fugi tanto assim, é preciso estar limpo pra deixar entrar amor
A realidade me remove (me renove?)
A fuga alimenta meu declínio

Mediar e adiar
Antes de legitimar culpados, deixe o que não interessa
Sobrevivência estagnada em versos
Nossas escolhas virtuais frustrantes
Sabedoria inútil quando se quer pintar a boca de mel
Acordo, quem dorme agora é o tempo
O medo se apavora porque preciso continuar queimando.

Traduza-me






















Agora, aprendi que não se salva nenhuma brisa que tenha desistido de beijar as montanhas.
Sou responsável por esta falta de ar
E como emergir da morte na saliva?
Porque o que reconheço não é meu corpo
Tudo me rasga e abandona
O grito quer pulsar as paredes que ainda me prendem

Não deixei espaço para cura escolhendo a fuga pelos muros
Ainda assim, a brisa leva letras para aqueles que não pudemos estar pessoalmente.
Sei do que falo: sei causar como ninguém meu próprio desmoronamento

Meu menino devaneio
Eu não sei amar
E as linhas me dizem que te amo

Não queria desejar o que tem dentro da sua boca, mas preciso desvendar a língua
Engulo agora o que corre dos olhos
Perdoa-me diante deste silencio
Meu medo ereto

Lamento, não ter dado água, além de minha torneira enferrujada.
Ainda escrevo desejando as línguas enroladas entre si
O amor transborda correndo em círculos
Ainda o amo devagar e silenciosamente

Consegue traduzir meu choro?
O caminho talvez seja o mesmo
Por mim não passa
Leve-me inteira
Culpada de todas as saudades

Confundem minha fuga com falta de amor
Destrocei meu amor querendo salvar.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prostituem a poesia


Masturbo o arrepio das palavras
Forço as mãos a rabiscar
Permaneço crua dentro das estrofes, excluindo versos escassos
Minha poesia não é domesticada

Gozo plena nas rimas que escorrem
Minhas mãos prostituem a poesia
Sempre soube que nas letras, nada permanece fixo
Gosto do sêmen poético

Transgrido ordens verbais
Ascendente desejo de não fazer rimar
Leituras, posições inversas e poucas verdades
Comunico-me com a produção de meus gemidos

Não sei construir estórias, pois procuro o que já foi queimado
E desse sofrimento nasce um cruzamento natural
Estes versos colam na boca, transmitem uma química imprevisível
Perfurei os pensamentos sãos desta folha em branco para minha nova menina rabiscada.

Deslizo em linhas


Perdão, só conheço este mundo
Aqui, as letras transmitem também a genialidade dos horrores
Sublime gestação dos versos
Há a mesma transgressão perante as células

Perdão, sou filha dos versos livres
Nasci da ovulação por razões insanas
Mamei nas tetas da travessura
Há neste caule um trajeto infantil

Perdão, escrevo para fervilhar pecados
Invento lares e prosas mais gostosas e o meu sexo traduz as linhas
Fotografo cada respiração da palavra não dita
Há um retrato em minha próxima ebulição

Perdão, quando escrevo, sei despistar os sabores mais fortes
Minha insanidade sopra e sangra, refugiando minha libertação
Deslizo em linhas, escavando as palavras sobre os tetos
Há uma cratera nas mãos que brotam poesia.

domingo, 5 de julho de 2009

Sangro ou cuspo















O arrepio na nuca me faz errar as somas. Meu cheiro pertence às ruas e os pés em sandálias rasteiras multiplicando-me.
Peguei o café e sentei na beirada da cama, a cada gole desenvolvo meus traços comuns, eu sempre corri, e agora prefiro passos lentos, latejando força e fragilidade.
Sangro ou cuspo, ainda existe variedade em ser nada.
Os goles parecem mesmo ter lavado todos os meus receios, o cheiro de café me atiça.
Uma leitura tão perfeita que faz com que eu pense que ele sabe exatamente como estou deitada nesse quarto trancado e que ignore o fato de ter raiado o dia nas frestas da janela.
Um estado de graça desconhecido, quase chorando, quase rindo.
No telefone, madrugada adentro, delicio-me neste absurdo audível. Calando-me por instantes como se apreciasse as notas de uma canção descompassada.

Quando antigamente
















Para Danda



E era cedo lá pelas tantas da manhã
Quando antigamente prometi lhe dar colo de amiga
Cujas correntes não levem a destroços
As marés em tua casa me ensinaram a amar melhor

Nas noites adentro fomos bêbadas de alma
Nosso escuro sempre partilhado
Nunca soubemos a que horas amanhece
Indisciplinadas das rimas!
Reduzindo o sono, flutuando todos os cobertores possíveis.

Esperamos que sejamos o suficiente, fervilhando só pra não rimar
Descaradas!
Correndo no vento
Tampouco findará os cafés e traquinagens

Talvez a gente só precise de um bom abraço
E uma tristeza luminosa pra ascender
Gargalhando de nossas esfoliações na alma

Não tirem a fantasia!
Moramos nas casas dos tolos

É preciso voltar no tempo para uma existência de nossas cores
Pousamos leve nos chãos de grama
Pra viajar memórias de tempos sonoros
Brisa arisca

Que os dias voltem àquela tua rua
Até esse dia, doutrinamos nossas raízes.

Meu passado me presenteou
Arrumou tradutora pra meus versos
Ela me olha lustrando os meus sentidos

Somos todas as vozes juntas
O que nos sobra, tu danças e eu escrevo.

Moro onde nossa gargalhada deságua
Somos mesmo atordoadas
Por versos que alimentam os dias.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Travessia



























Das conversas com um Marcelo(rs)


Renuncio o sono
Minha travessia está apta a novas esquinas
Fico querendo mudar de lugar, como se fosse possível acordar pra dentro.

Sou filha da palavra entendida!
Rasura e descaracterização!
Maturidade profana!

Corpo curvado... Dispersão.
Letras quase perfeitas se não fosse agonia que tu cultivas no peito.
Hesitei minha ida.
Já rasgou superfície.
Inocência descarada em causas impróprias.

Na minha mão tuas letras. Na palidez da certeza a pele enxerga.
Débil comunhão, aguda e sonora.
O verso entranha.
Impulsividade!

Insistente vício esse... Quisera ter meu “M” cravado notificando teu crime suado.
Ele quer amar-me diferente. Rabisco desconhecido.
Na palma do mundo: Quatro mãos tecendo uma possibilidade virtual.
Durmo e acordo em tua respiração
Espero nosso orgasmo como a uma oração.

Não vejo outra maneira, me desculpe querido...
A emoção ali, coagida...
Teus delírios convincentes...
E eu: despudoradamente recatada
Sincronia de espasmos

Meu tempo é progressivo!
De ampulhetas vazias!

As expectativas existem, o silencio se pronuncia, trazendo entidades surreias... É tão difícil escrever sobre este amor...Ele pede o dom e o verbo.

Teci todas as minhas palavras, atravesso minha própria anarquia, sonho com o clarão deste maldito dia!

O que tenho é um cálice supremo de aconchegos e diferenças, esta saudade aguda.
Desejo colhido e recolhido.

O susto em nós foi descobrir portas. Vários conceitos para se falar a mesma coisa.
Se quiser saber o que penso...Meus dentes querem arrancar teus versos
Soprar-me pra dentro das tuas feridas.

Receio estar sucumbindo entre farsas doces. Meus olhos não sabem dormir.

Aproximo minha boca devagar e você tão assustadoramente apressado... Mal sabes que a ação que quero ver está na íris...Não consigo ler!
Das linhas castanhas que escrevem nosso brilho.
Se me espera mais um pouco, meus olhos lubrificam os céticos abrigos. Devagar...Como a alma.

Respirar...Respirar...Como se fosse transmutar do verbo.
O que queremos é apenas um verso...Eu sei...
Meus versos pedem somente água...Não exijo outro barco
Nossas diferenças não distanciam o peito

Não forjo meus desejos
Minha salgada estagnação.Meu mar nunca está calmo.
Ponho tudo que preciso, não sei mesmo nadar.

O que sinto é mais fundo do que tudo que vejo
Desnudo-me dos meus órgãos inúteis
Amar sem dizer amor
Insisto. Não deixo passar o verbo
O lugar que ambos querem

Amar é a soma das experiências passadas, combinadas com a imperfeição humana.
O silencio ainda pode dizer muita coisa.
O amor que não abraça a falha do outro não é amor.

Mas o medo não vence...Fique tranqüilo
Vou curar minhas febres nas preces de nosso sorriso.