segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Água e pus


Pinceladas vagas
Uma boca propagando a devastação
Tecidos sujos do teu absurdo
Enjoa-me este gemido desgastado
A mão quer tear
A língua salivando água e pus
Havia um silencio e espadas
Esfrio as dores de teu próprio umbigo pagão
Deixo ironias contestando antigos poemas
Amor que cultua angustias não é amor
Não optei por uma fuga só
Entreguei toda a poeira para que procurasse um novo rio
Nunca me preparo para mais este vício patético
Tua lágrima é surda.

domingo, 30 de agosto de 2009

Descaracterização


Atrás do verso, sustos e grades
Visito sensações desconhecidas
Além da alma, cadeiras vazias
Traduzindo a veia que entope
Acima da casa, uma solene hipocrisia
Livros empilhados deixados para outras vidas
Descaracterização do sorriso
Rasura da tinta
Pés mascarados com foguetes inúteis
Os traços sem nome acariciam o chão
Perceba poros e pés
Cheiro de saudades e ventania.

O palco


Novas estadias, novos palcos
Saem das tocas grandes gavetas, nos papéis duas mãos brancas escrevem:
Dom de hoje: poetisa
Há de se festejar o momento de escrever
Cartazes de um vento guardado
As saias não se escondem, catam as cirandas
Num lance mágico, a música queima por dentro
É cedo. Amanheci com timbres fundindo o corpo
A cena toma a rua
Projeta a luz, o palco grita
Atrizes penetram as veias contaminadas
Nascimento e estupidez de uma interpretação adulterada
Água ardente pra toda cortina desvirginada
Na platéia, olhares sentados
Um vulcão para mesa sacra
Suor para mãos inventadas
Os corpos nadando o desespero de ser água
Cores penduradas em tranças
Desnudos em nuvens e paredes imaginárias
Externo, ilusório e ilimitado.

Agora


A colheita é feita de despedidas
A dança segue livre
O amarelo foi vencido
Gravo no muro um tom vermelho
Quer beijar a noite
Em cada taça a peculiaridade dos olhos
Conversam no escuro presente
O corpo amolece, derrete as recentes intenções
Tudo é agora.

Nova espécie


Pelos ombros, uma nova espécie
Dormiu soletrando no mar variações de poesias
Na nascente do rio o peito seca
Acordou com lençóis costurados aos cabelos
Cúmplices que se equilibram e se rasgam.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Laços


Abrimos as janelas
A terra mistura-se com a nova poesia
Respiro fundo sabendo mais de toda chuva
Minutos atrás poderia ter atravessado todas as palavras
Rasgaria as origens do próprio verso ao inverso
Ainda não ouço, mas sei bem o caminho
Tenho grandes raízes que me fazem dar o pulo
Paraliso as batidas cardíacas da sonora estrofe
As orquestras do peito harmonizam os passos ritmados
Os laços dedilham as notas na pele.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pela Boca


Sempre escutei
Embalo de uma saudade aguda
Entranhado nos dedos, imerso em óleo
Ainda somos dois comportados declínios
Não o culpo, anseio tantos cantos
E não há tempo para esquecer
Um dia, espalhou-se por todo o corpo
Dentro de mim, tuas ondas quebram há milênios
Escorria pelo céu, sob o cais o silencio que nos mediu
Teu amor começou pela boca e ainda é recordação
Existe um passado enterrado nas folhas.

domingo, 23 de agosto de 2009

Recaída
















Só um lugar o define
Estreito, confuso, batizado em seu próprio desastre
Caído, vejo o quanto ainda somos interligados
Habitável, mas nunca habitado
Não é digno esvaziar espaços
Não se condiciona uma vitima reciclável

O sangue dos teus pulsos não esconde minha angustia
Nessa tua fuga branca há uma tristeza que não concordo
Estamos dentro da mesma caixa e teu canto sempre me soa absurdo
Do teu lado, confronto tacos soltos e cortinas velhas
Varanda vazia e salas sem paz
A tua fome é teu ócio e busca das razões pra ser infeliz
Odeio tuas mãozinhas magras que sujam os copos sem beber a água
Dá medo essa tua religião

A cada noite se apaga em toda vela
Desumanizado e desistente
Teu delírio tem sempre a mesma entonação
Condenado a dormir de novo
E a exausta sou eu
Estranho temperar a cura pra tua febre
Pensei em não te ver mais acordar nesta manhã
E se você se apaga, os olhos miram pó

Te esperei dormir ninando cada respiração
Nesta noite, fui platéia de teu pulsar
Canto um inferno parecido
Amanhã, espero acordar com tua voz
A única condição é ser maior que os desvios
Gostaria de abraçar teus conflitos

Poupe a partida
Deixa essa felicidade ensaiada que nunca é
Esqueça as idéias e seja mais humano
Contesto tua conspiração pra dentro
A realidade te pede paz
E durante anos, sem saber sigo teu peito
Perseguindo a fio tuas palavras não ditas
Deito, sumo, te espero acordar
Não procuro tuas faltas meu querido, somente a raiz de tua inundação.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Recolho


















Refúgio de despedidas
Despedida do peito
Nos pés vão abrir outros caminhos
Rotas imaginadas apagadas no fogo
Ardendo em poros vazios
O tempo vai soprar pra fora o que ainda está aberto
Vencida, como se o silencio escutasse meu vazio
Morre em vida o cheiro da madrugada
Derreto todas as intenções cravadas na última lágrima
Não há mais nada a dizer, todos os versos exaustos
O tempo não deveria ser forçado
Recolho meus traços febris.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Carnavalizando


Sem nascimento, segregando de uma estupidez herdada e nas veias saltando um odor alcoolizado
Caio em contorcionismos de corpos virgens e coloridos
Água ardente impregnada

Nas sextas, há um Rio que debocha e celebra todas as noites
E o meu lugar é cá
Ipanema canta pequenina e vão devolver-me ao mar
Preparo as roupas e saio de tropicalista

A casa é quente e eu quero morar na rua
Hoje vou dançar um amor histérico
A sala fica apertada e as almas se fundem
Aqui, o feto gera em um pedaço feminino

Na Lapa, existe um carnaval de saudades
Na roda, um tom exato de todos os batuques juntos
No passo, uma doença-vício ladra de purezas
Hora de brincar de fazer carnaval

Uma noite antiga pedindo para carnavalizar
Asfalto e um escuro sábio
Vibrando a confusão dos copos
Um suor misturado com as horas de uma Central do Brasil

Tenho uma Noélle pra bater tambor e uma Bia pra bater perna
A estampa está no samba das mesas desta noite
Modelo às luzes da Men de Sá
Escolhi como terraço a Pedra da Gávea

Não nego galopes rasantes no chão de uma Avenida chamada Atlântica
Mesmo assim, a sensação plenitude mora no Largo da Carioca
Exalo um cheiro denominado música
Me relaciono com um Rio que causa arrepios.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Alice

Alice suspira a piedade do mundo. Tinha o corpo trêmulo não acostumado a viver. Ela aprendeu a rezar, e agora gosta de pedir.
O calor forma a linha de sua nuca dolorida. Antes de partir, ela fechou bem a porta. Havia uma inquietude morna quando cerrava os olhos. Um ciclo enjoado de sal e água.
A cama ainda desfeita e ela não sentia saudades. Nos corpos e entranhas, havia uma falta de transparência aguda. As mãos se repeliam como instrumentos errados. Nua, cobria-se da linguagem dos olhos. Uma muralha capaz de sorrir de dentro. Não compreendia muito das coisas, acredita ser o destino um evento predestinado. E não havia lugar melhor, todas as suas construções eram condenadas e abandonadas.

-E quando você voltar vai me encontrar decaída, sem sal no mar do corpo, sem vapor, sem personagens. Os dedos gelados e úmidos, insone, gritando por algum nome. Talvez assim, acalmasse essa febre. Seria tudo pra você neste abrigo enquanto meu dia falece.
Sou uma escravidão.Uma lágrima estéril.
Aborto meus gritos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Estático














Tão inesperado, e eu descobria todo meu esforço
Gostaria de ninar sua apatia
Teu sono canta minha fúria
Estático, sobrevivendo ao jejum de almas
Queria mesmo dormir em teu sorriso
A canção nina, mas não te absorve
Esta filosofia te sufoca
Queria que fosses faminto de tu mesmo
E que gritasse a loucura pra fora
Quando você volta, nossas conversas são fortes, profundas e verdadeiras
Uma cumplicidade, um carinho absoluto
Então, te perco todos os dias para morte-vida em leito
Sempre vou reparar teu melhor
Tem dias que sinto ter te gerado em meu ventre
Dissolvo de uma paciência por vezes quase nula
Nem relógio, nem íris, nem cor
Teu amor é surdo
Vegeta como órfão
Te perco para silencio e agonia
Observo tua queda sobrando-me passos
Queria ser tua sombra pra esconder tuas dores
Este teu chão agnóstico
Ultrapassa os conceitos imaginados
Alucinógeno, interrompido
Dos meus bolsos seguem todos os dias as tentativas do teu despejo
Desde ontem, minha alma quer reconhecê-lo
Em toda fluidez há volta
E eu aqui gritando que há mais vida além de teus devaneios.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nossa Casa















Plantações secas nos corredores
Janelas com culpas antigas
Portas e antigos quartos fechados
O chão continua estranho
Onde ficam guardadas suas velhas anotações?
A todo o momento espaços vazios no ar
Conheci os primeiros livros
Mas os olhos marejados só queriam de volta frestas e versos
Adiante, uma pequena caixa
Onde ficaram perdidos seus tremores
Naquela varanda, fez morada e oração
Os passos arrastados trazem primárias sensações
Em nossa casa aprendi a ascender às luzes
Mudar os móveis, deixar parir a tua luta impedida
Ontem, nossa casa te abraçou sem forças
Esta casa, ainda resgata teus pedaços sobre nós.

Izaías













Você está nos meus espelhos
Deixou toda essa herança pintando mais cores
Não existiram despedidas e você cresceu em minha face
Meu sangue conversa com tuas veias através da imagem
Tentei partilhar do que te corta
Mas seu sorriso se esconde na falta de cor
Sem você, não posso voltar pra casa
As mãos perdidas ficam só nas lembranças
Sei que está sob meus punhos
Por isso, algo sai do papel em busca constante
O céu não sabe bem quando diz
Em dor viramos perturbação natural
Um sorriso de infância e há tempos não faz sorrir minha criança
Deixou xícaras limpas de um café que nunca tomou
Minha nostalgia procura por tua balsa
Em nosso destino, qual o medo?
É que a casa continua fria querido pai
Muitas pessoas, mas a casa continua oca
Não sei lidar com novas espécies de amor
Partidas só realçam sentimentos eternos
Com os pés tateio este mesmo chão
Sentem falta do teu carinho
Anos passados, e a saudade ainda é o caminho.

sábado, 8 de agosto de 2009

Danço










A rua é minha
Buzina e queima todo o gosto
A dança bruta designa bênçãos
Liberta e consagra a discordância das palavras
Vulgar e de conotação sexual
O corpo não quer descansar
Devasta sem repouso
Cheiro, pele e óticas distorcidas
As cicatrizes recentes embalam novos passos
A pista provoca meus pés
Desejei um licor de café pra beber com ânsia inativa
Ainda não sei me apropriar do que não possuo
No embalo enérgico, construo religião
Me transporto em pedaços soltos
Molho os pés em previsões não aceitas
Danço como se já não houvesse passo
A indecência é minha bandeira
Leve, natural e absurda.

Inesperado













Fósforos!
A saudade sou eu
Atemporal, quebra todas as linhas do tempo
Essa raiz cadente passa a todo o momento
Todo canto é inesperado
Roubem então este verso e coloquem como depoimento pra quem quiserem
Aumentem os desfechos virtuais
Escrevo milhares de outros caminhos
Sou homem, mulher e órgãos espalhados
Só vivo sem teu corpo porque minha textura é finda
Nossas carcaças não têm mais as respostas
A memória emotiva prolonga nossa jornada
Dentro do peito, misto de boate e cabaré
Uma dúvida e esta poesia assexuada
Estive o tempo todo, aqui, presente, lúcida
Quanto tempo tem o encantamento?

Em cena III












A fresta surreal absorve
É ali que o artista transporta todo comportamento humano
Movimentos, acenos, palavras
Entrega o corpo à fábula festiva
Vozes sensíveis e sedentas
A cura é esta tontura permanente
A iluminação sob o rosto traz uma febre ansiosa
Os tons depositaram teias imaginárias
Cólera e anarquia com cheiro de vida
Quedas e suicídios aplaudidos
Interpretar tem aroma alucinógeno
Loucura descosturada de ilusão.

Em cena II












Todas as cortinas além deste palco
A cena transporta o estado natural
Caricaturizações desequilibradas
Multiplicação de talento até quando o corpo ausenta-se
Produzimos entre o real e irreal
Em tragos inusitados encontramo-nos aquecidos e esvaziados
Nunca estaremos prontos na passagem da emoção.

Em cena











Confesso receber agradecida a visita dessa guerra
Abro cinza o esconderijo das mortes
Na boca falta o céu
Emancipo as páginas dessa manhã
O medo permanece preso
Ainda assim, degusto as vitórias de todo receio
Próxima a radicalidade, somos companheiras de cela
Serei mais extensa na nova invasão
Deixo a casa vazia, os copos azedos
Volto ao antro antigo
Exercito uma vontade que ultrapassa os desejos
Resolvo a suposta ausência
Falsas condutas permanecem em cena.

Passa









Passa, viabilizando todas as correntes sanguíneas
Desorientando a íris, nua e curiosa
Essa tua intensidade é também tua morte
Esta doença não me atinge mais.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Na boca













Repara a intimidade que deixei
Comungo poesia
Porque eu não sei o que fazer através das tuas palavras
Esta tua presença não se traduz
Vou visitar minha noite
Enquanto você visita meus versos
Salivo em sua tela
Ao dançar tua voz invade meus passos
Estamos aqui
Amo devagar e silenciosamente
Tua palavra ainda tem peso sob meu sorriso
De nossa relação de carinho- o amor está na boca.

Acelero












Campo de libertação
Preparo os ânimos
Encho a mesa de incensos
Embebedo esse dia
Acelero este verso
As ruas exalam ânsia
Quero curvas, gritos e dança
Meus cabelos e muitos risos
Lapa em suas encardidas alegrias
Colho absurdos boêmios
Minha alma quer beijar e pulsar
Sou toda emoção
Estou acesa e olho-me diferente
Os devaneios já acordam sonhando
Peço ar, roço poesia em ciranda
Penso em passo, ritmo e enredo
Carne, verso e sextas.

Hoje















Se eu permitir mudança, o caminho talvez será o mesmo
Em diferentes sensações, para fazer bem feito o depois
Acreditando no desamor alheio, ultrapasso as escolhas
Generalizo sensações como se elas estivessem prontas a cuspir meus versos
Meu tempo será amanhã
Hoje, não estou preparado, as prosas estão sofridas
Minha maior ocupação ainda é remoer meus martírios
Por isso, amanhã é dia certo
Fico, exausto, cansado
Na imobilidade desta farsa desmedida
Este peito, é caos estigmatizado
Minha libertinagem trancafiada nos trajetos de teu corpo
É quase manhã, e aqui dentro, uma pungente saudade de qualquer coisa.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Carnal















Teus seios mordidos
Denegridos em meu tronco
Meu clarão espuma
Delirante e aberto
Cintila, anoitece, estende-se em minha existência desvirginada
O desespero pálido gemendo aos pés de todos os males carnais
Não interrompa esta imaginação projetada
Nesse orgasmo solitário
Os lençóis compelindo em brasas
Ruidosa,sussurra neste espaço: um só leito.

Putas e poesia


















Putas e poesias
Por cima, toda água sem fervura
Perguntará de meus dias escuros
Perseguirei tua moeda gasta

A vagina tem versos e ossos
Nos seios, sangue dos poetas
As coxas alinham prosas e dentes

Escreve em minha cintura: Ana

Eu- fêmea a venda
Logo saberá meu preço
Invento a virgindade nos olhos
Aumento a ereção de meu comprador
Nua,palpável. Afagando tua cama de livros
Esgoto teu ardor lírico

Escreve em teu cheque: Eliane

Não respeito a identidade das estrofes
Abafo minha caça
Talvez, pergunte quanto cobra
A mim, cabe comprar dois corpos quentes
Como sem sal e a olho nu duas putas poéticas
Inibo o pudor, dou lugar ao arsenal antigo
Acaso Deus permite mais uma puta nesta poesia?

Escreve então, em teu orgasmo verbal: Natacia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Terça





















De tanto tempo
Desvenda-se o último arrepio
Vegeto, sou mera continuidade
Sou o teu caso, nasci em acidente
Chora em meu colo feito menino
O passado volta a casa
Primeiro ato-
Enjoa-me com teus gemidos
Segundo ato-
Lambe a nostalgia dos dedos
Terceiro ato-
Há dias em que você necessita de provocações
Terminamos em uma terça cheia de canções repetidas
Cansei da tua vaidade
Desconstruo tuas posses
Soterrados morremos
Esvazio, me imponho
Fui cruel, preciso de saúde emocional
Os arrepios morrem de um dia para o outro
É hora de liberar a infelicidade triunfante.

Outra


Ousados, todos os vôos lunáticos
Uma direção que devolva uma vontade que é minha
Volto e parto do vazio
Olho sua poesia em minha sombra
Perca-se em sua esperteza
Sua falta ergue
Já me identifico nesses teus espelhos
Razão e sensação mórbida
Teus amores não tem poesia e eu percebo o tempo
Alheia e ofuscante talvez
Agora, cato pedras
Encontro-me escassa em cada pedaço
Enfurecidamente ética
Minha versão recém saída do tempo
Gostaria de ser outra, noutro lugar
Prepotente poetisa
O corpo está ferido, gero conflito.