sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Humificação

Entubo minhas indagações
Domesticado-leva a boca
Pago minhas doenças
Célula por célula
O corpo faz das veias proles impacientes
No leito húmus há todo espaço para boca
E a boca sorri
Oscilação do batom e precipício.

Poemeto de um mero ator

No corpo e no copo
A culpa é do perfume que está dentro de cada manhã
Benze o arrepio desta tua boca tão minha
A cena queima e um dia some
E eu mergulhado nesta falta de sonatas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nos escombros















Poltronas imaginárias vendidas há tempos
Uma casa no mundo inteiro
Quintal povoado de coqueiros gastos
A paisagem movimentada por ventos e relógios
E o vento violento forrava precoce em corrente inversa
Espalhando uma larica para boca seca
Da boca, uma bacia quente de Janis Joplin
E eram dos escombros que ela jogava cartas e instrumentos
Já não havia mais casas ou nomes completos
Construí uma chuva para me adoecer
E ela dormiu em mim quando não sabia o que fazer das mãos
Decorei as paredes com bulas e um tapete de um vazio trôpego
Ali fui trancada em escavações patéticas
Amarrei o corpo envergonhado esperando abolição
O corpo padecia da fome de não querer mais alimento
O ventre infestado de órfãos indigentes e soterrados
Meus filhos repousavam em prece a substância orgânica de meus espasmos
Cruzei meus pêlos sujos em atmosferas suspensas pedindo para recolonizar
A casa queria guerra, e da casa só restou o pó, separado em carreiras para que eu nunca me sinta só
Poção mágica em partículas refinadas e espalhadas neste caos surdo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Movimento "Poesia Viva"




Brindo o novo movimento poético que nasce nas ruas cariocas.








Nosso imaginário poético cruzando avenidas
Somos poesias vivas cambaleando pela cidade
Reunidos, dispersos e nos sorrisos a manifestação de cada estrofe
Um Rio antigo para nossa euforia temporária
O gosto quente dos poetas explode na boca
Uma embriaguez que salta da língua
Festejando a poesia que vive em nossos pés
Saudosas e sedentas em cada ladeira carioca
Espalhados,desatinados fazendo das folhas estadia
Marginais habitando em palavras
Poetas transgressores que se mantém na mesma linha
Oscilações e fúria criativa entranhada no corpo
Apertados e sem cabimento para esconder a nova poesia
Porque os poetas estão acesos e ambulantes na rota de cada chão
Ampliamos a cena de um novo carnaval
Delírio de uma poesia que vive.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carne e caos













Páginas improváveis do ventre e linhas
Pode ser o corpo marcado e saliva gelada
Pode ser o cheiro da boca e da ferida
Pode ser o seio quente e o tom da tua língua pra absorver

Imagem da folha e tesão
Pode ser sede embriagada e teu sono ereto
Pode ser a vagina infame e a carne lubrificada
Pode ser desejo e a vontade de gozar

Pode ser agora como numa morada desinventada
Quando a poesia deságua e avisa:
Meu corpo é sala sem hipocrisia.

O Sexo













O sexo perverso
O sexo nostálgico
O sexo travesso
Sexo satânico e sexo cristão

Sexo devasso
Sexo perdido
Sexo covarde
O sexo piada e poesia.

O Cristo Magro















Esta falta de crença é voraz
É aquela fé covarde que desaparece e voa
É um imaginário desarmado
É explosão precoce escorrendo na bíblia corrosiva
Cortinas absurdas cospem o medo barato
A cruz do Cristo magro é imóvel
Esta oração morna é reza afogada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Santa fêmea















E na rapidez do ódio, Maria entra na valsa
Santa Maria desligada na televisão
Overdose de água benta
A virgindade de Maria salta dos olhos
Tem passos curtos, rasteiros, mas o sal dos olhos a fazem querer gozar
Santa Maria, desnuda da água imunda!
Santa Maria mãe de Deus: a hóstia tem uma mágoa dissimulada
Jamais lubrifique minhas pálpebras
Dona do feto sem choro és tu Santa Senhora
E do que nasceu, não era teu
Sua dor era a ânsia do descaminho
Rasgar a cólera nos corpos dos outros
Divina ciência, sem preces ou deuses
Procissão maquiada de uma fêmea
Nos seios de Maria o profano
Esconde no véu cada orgasmo ateu
Manteve em sussurros o sagrado gosto de outros mundos.

domingo, 18 de outubro de 2009

Chaga Acesa

Se esforça a luz
Sondando um pedaço do espelho
O brilho é invisível
A cada despedida permanecemos livres
Ninguém nos tira a chave das linhas
Um circo literário para desafiar raízes
E num lance mágico a poesia é limitada
Uma frustração que se instala nos papéis poéticos
Ainda assim, acredita o verso ser descarado
Perfurando em suas mais variadas formas
Manifesto, faminto e diversificado
E não há arte sem ousadia
Arte deve ser tomada pelo fogo soprando pra fora o que procriamos com sorrisos
Se viver arte fosse catar a dedo quadros, morreriam de tédio todos os poetas
Arte não tem extremos, não é forjada
O espelho do outro não pode ser negado, repartido ou trocado
Antes, generosa e sábia arte abre espaços na medida de cada um
O grande poeta é por isso, um grande indisciplinado
Sabe partilhar como ninguém de toda arte coagida
E a melhor poesia de um artista é a que consegue rir antes do adeus
Traduz em gargalhadas a fúria estimulada por novos pedaços luminosos
Renovando nas vísceras a verdadeira arte: a ambulante
Arte é chaga acesa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Instante
















Final da linha e tua aula em mim
Lembro de cada partícula literária
Tua chegada foi por grandes escadas
Correndo dos esconderijos inspiradores
Nas poesias tua grande morada
Paredes e decorações vermelhas
Amanhecidas em nossos deslizes atemporais
Girava presa a culpa dos outros sangrando em nós nossa demora
Desisto e apago de vez para segurar tuas linhas
Os fios dos braços arrastados pelo caminho desviam nossas rotas
Descobri que todo esforço era o de escrever a margem nossos laços
E nos pedaços menores descubro em você o instante de ser feliz.

Victor


















Éramos formas encardidas de ser
Agonizando nossa loucura escancarada
E foi te ouvindo cantar que fiz da tua voz memórias e livros
Criei dentro dos tímpanos a saudade de nossos versos frescos
Sempre e antigamente descontrolávamos o próprio caos
E fazíamos festa em nossas garagens como se fossem ginásios lotados
Aos sábados as bocas esperavam por nossas bebedeiras
A dor e a fome eram sintetizadas na vontade de cantar a noite inteira
Dormíamos ao som de Janis só para acordar com Elis
Havia pedras em nossos poros
E com todas elas criávamos nossas próprias estátuas
Martelos, espátulas e sorrisos
Criadores e criaturas desenhavam e cantavam novos tempos
Fervia arte na tela de nosso grupo inseparável
E a amizade ali, por vezes mal absorvida aos que nos viam...
Guardamos entre músicas e abraços cantigas que ainda nos embalam
E descobrimos juntos como lidar com mudanças e a plenitude guardada em nossa caixa
Nossas mãos em potes cheios querem acenar pra tua voz e meu poema
Nossa saudade compreende uma viagem que ainda não foi inventada
Naquela gaveta branca escondi nossas lembranças escandalosas
Encontrei tuas cartas, teus desenhos e aquele teu quadro feito pra mim
Veio junto e entranhado teu sorriso, nossos pulos na rua a cada reencontro
Meus braços ficaram curtos e meu papel mudou a cor
E veio junto um sorriso da poesia que nunca foi minha...
Aqui, ela pertence a nós.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Letra Mais Próxima



















Existem poesias doentias
Emanando fluídos dos corpos fétidos dos poetas
Os ossos mastigados com a estrofe que corta
Não há flores ou paixões desinibidas
Apenas unhas encravadas em detalhes sórdidos

Sua morte é a letra mais próxima do verso
E nada derrota este pedaço firme de verbo

Encontram-se na intenção mórbida de cada piada
Desenrolam-se em cada degrau
Engolindo adubos evoluídos demais para qualquer poeta vendido
O melhor de cada cor é colorir a própria identidade
E ainda assim, em cada passo incerto o que habita é a palavra.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Música e Poesia
















Em Parceria com Roberto Camilo.


Há em tua companhia uma poesia errante e transgressora
Teus versos incorporam agitando em suas formas o sangue de toda pele
O formato do teu corpo escreve a cada linha sua posse
Traz perdidas as palavras antecipando suas raízes

Há em tua companhia uma música que corre dentro desta cena
Tua música percorre a casa e veias como se adivinhasse nossa presença
As notas juntas silenciam as notas de outros tempos
Corre de leve e viva, apenas concentrada nos pianos

Dentro das estrofes voamos nas ruas de cores
As letras de tuas rotas peregrinam no misto de sorriso e esta ferida que suponho em tuas mãos
Porque ninguém poderá fazer poesia sem lágrima, renúncia e angústia

Dentro dos teus tons havia incoporado o dinamismo da vida
A consciencia da tua voz latejava em meus ouvidos misto de tempo, rosto e corredor
Encontro canções profundas, perdidas em desejos fundamentais assim como qualquer poesia
Porque ninguém poderá fazer música sem pecados, lembranças e paixões

E tua poesia vai caminhando como quem corre dentro de si mesma
Locomovendo farpas, fogo e a fragilidade escondida

E esta tua música vai proclamando como quem atinge os ouvidos com luz
Procurando libído, água e a permanência incompreendida.

Ela é poesia e loucuras

Ele é música e liberdade.

domingo, 4 de outubro de 2009

Camuflados


















Repara o sol dos pés
Eles forram como fantoches soltos
Imobilizam o medo como heróis camuflados
Pedem perdão no desespero dos passos
Nasce a disputa entre voltar pra onde se quer e travar novas moradas
Pisam na casa de um vazio temporário
Ficam tontos
Padecem de uma embriaguez barata
Cospem até a boca a virgindade de outros caminhos
Impregnava uma saudade esquecida e perigosa
E nos pés envergonhados os mais variados tremores
Descobriram a vontade trancada de se reinventar antigos caminhos
Rápidos, adoecidos e pisando nas tuas folhas.

Transe


E na última cena, personagens jogados ao chão...
Depois, filosofia para um corpo que não quer mais descansar
As mãos em transe e a coreografia embaralhada em dialogo sutil
Quatro vozes nulas de vontade, e a expressão querendo mudar a entonação
Lança manifestos de expectativas à venda
A rota do ator mendiga mentiras emocionais.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Povoado de Versos e Sonhos














A onda apontando
Pra buscar teu colorido
Correntes e laricas de festa
Um quintal lotado de Ipanema
E se hoje é sexta-feira, a boca aguarda o frio na barriga
E o corpo pede música, quer cantar a noite toda
Noite pro papel morder as ruas
É quando as pedras derrubam as imperfeições
E nós violamos o asfalto quente...
A poesia em desespero quer vagar nas horas...
As casas que fotografo são cheias de cor
Vivas e sorrindo umedecidas das águas deste canto entranhado

Hoje tem Rio no meu céu
Brota uma euforia que invade
A cada bairro, um povoado de versos e sonhos
O gosto de chopp que salta da língua
Dedilhando a magia barulhenta da avenida Rio branco
As portas se abrem todas na mesma hora
Através da água, sai o povo pra expiar o vento
Fazemos de nossos pés uma substancia orgânica
Brincando com nossa identidade-samba
Pra saber de longe o certo, que somos mesmo instantaneamente livres
Saímos descarados empalhando nossas buzinas e carros
Pulamos pelas janelas tomados de alegria
Tudo demais já que hoje a intensidade faz sentido.