sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobre o Sujo e o Mal Lavado

Inventaria uma condição
Em que eu pudesse
Limpar tua sujeira
Esvaziar os copos

Vasculhando teus escombros
Feito uma serviçal
Recuperando este nojo
Que vibra e lateja

Trocando tua roupa
Lavando a última ruga
Claustrófobica em bolos azedos
Em vícios asmáticos

Andando nos limites
Desta poesia barata
E tu me ofereces
Os arames e farpas

E diz-me dos teoremas
De uma serviçal ingrata
Existia uma corrupção
Em cada órgão do teu corpo

Das janelas do teu quarto
Abafado e viscoso
Respirei no trânsito das paredes
E nem nossa sede construiu.
(Poema feito para o blog: http://ilusionistasdoverbo.blogspot.com/ )

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Morte é o conto mais perverso
Algum motivo e o senhor do tempo enxugando sob o ar
Aguando as plantas em calçadas funerárias
E todos os homens saberiam das cinzas de um luto absurdo
Enquanto isso, um cheiro mórbido sem destino
Um vazio em dores abertas
Morte costurada a própria pele
Um corpo esquecido dando verso à infelicidade
Ali, vivia a foto apagada da mulher da década de 30
E a bandeja do homem tímido de sorriso único
Cá dentro da alma, a pausa forçada da memória
A espera de tinta que desaparece dentro dos cílios-tempo
Um suco-sangue escorrendo nos livros da criança de colo
Navalhando as intenções das feridas limpas
Aguardam os que partiram com cabelos calmos
O que ainda inibe está miséria-vida de fazer da eternidade seu enredo?
Talvez, qualquer tipo de pobreza que faça da imortalidade vaso morto
Um ninar sombrio despejando sob pescoços o tempo findado que Deus avisa
E a morte faz de suas janelas portas revoltadas
Em um espaço curto para implodir sons
A carne torna-se fugitiva, os dentes atrofiam e o fôlego de vida se esquiva
Desabamos em uma extinção acelerada
Os olhos, a boca, os braços, o peito acabaram de morrer
Enterramos a sombra universal de todos pensares
Tecemos fio da primeira e última migalha
O sexo morreu
Morreram pulmões e versos
Do pior abismo, um cheiro seco de talo de planta
Uma escama de ar turva e insuficiente
Cabelos brancos e mera desculpa desta morte precipício transgressora
Um abraço morto em eixo ensanguentado
Corpo fechado, procissão sem identidade
Tréguas à Deus para quem morre ao primeiro fio.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A boca














Fizemos esboço do retrato de antigamente
Havia uma ânsia de saber do tempo
Rasgamos a castidade em sedas perfumadas
Cortinadas nestas peles delinquentes
Em tão pouca claridade ainda vi tuas unhas vermelhas
E me prendia em gargalhadas sem destino
Hoje, tão leve em lençóis afoitos
Ali me casaria nua em teus olhos negros
Me casaria com tua boca repousando em cada assunto da minha
Retornaria aos mapas doces da palma da mão direita
E escreveria tudo sobre o cheiro dos teus cabelos floridos
Então, tua música ao norte percorreria todos os meus caminhos
Em dobras de beijos amigos-irmãos
A entrega de tempo que nunca foi meu
A boca amiga guardada em uma caixa
A boca espera
E a boca sangra.