quarta-feira, 1 de junho de 2011


Sei das vozes a dez quilômetros da liberdade

tamborilando despudoradamente a respiração do ombro da terra

na dança, lágrimas fundas do Atlântico

amparando a solidão gestual que alcança o mundo

esta seria a hora de regressar com música aos espelhos

de agarrar o vento nas labaredas dos ouvidos

direcionar a força dos pulmões

produzir a mecânica mística dos pés

e em atrito ao solo inflamar-se e semear

as vibrações convulsivas das bandeiras que içastes.




                                                    Minha ciência dócil considera o futuro

desejando intimamente o mapa dos rumos
numa mala ou num bar de putas
nas rotas a possibilidade de avançar e acertar
na reinvenção destas minhas pobres células resistentes
levo na mala um par de calças velhas e a crença num deus
que por hora ocupa-se com o preço alto dos figos
meu itinerário se gasta no conformismo da cruz que viajo
e pelas estradas perdidas cuspia sangue em minha relva
nas madrugadas os passos muambeiros das raparigas dos brincos de lata
e do asfalto o sangue negro que não estanca
saio de minhas fontes rondando de perto à noite atenuada na medida dos erros
o novo sentido é uma queda avisada por música
uma tenda dispersa que venho habitar.

O choro dos secos
ditará a sentença dos náufragos imorais
como este barco rompendo os contornos das espumas
e na espera do cansaço sacio a sede em meio a caixas de lixo

exilado na habitual deglutição das cordas da garganta
banharei-me num alambique
ali, os pesadelos serão os clandestinos embaciados...
cambalearei no leito das manchas da renúncia
e nua, tatuarei na púbis o que o mar me nega

pelos seios, serei pescada nas redes da fúria
pela estupidez farei dum anzol a forca da cópula
na secura que um dia me afogastes.