terça-feira, 15 de novembro de 2011

... porque eu comecei a ouvir um miado de gato, um cheiro de pólvora, a tua e minha loucura integradas no caótico milagre de fechar as mãos e doar figos e folclores aos cegos pobres do bairro.
porque eu ouvi a música e esqueci de cantar junto para ser mais bonito, ser igual todo mundo e sorrir delicadamente quando dizem que sou bom...
não lembrei de agradecer o copo d´água e acender o cigarro daquela mulher de vestido parada no balcão, era pra ser mais sociável, mais humano, mas eu só disse pra tirarem a mão do meu ombro.
aquela taça não foi a primeira, eu minto também, como quando você disse que a partir daquela noite tudo seria recomeço, como se o poder de refazer o trajeto fosse nosso, você e eu na Cet-Rio controlando a multidão...
sejamos sinceros meu bem, felicidade não rima com vaidade... o retrato que você mais gosta eu fiz no photoshop, o cheiro de cigarro que você sente em mim são de dois prazerosos maços por dia, eu tenho o dobro da sua idade e daqui dois anos a impotência será iminente.
não sou moreno do sol como disse você no jantar com amigos ricos, sou negro e gosto desta cor, integre esta palavra ao seu dicionário no quesito pele não apenas quando falar do céu em dias de temporal no seu aconchegante chalé em Petrópolis.
não faço e nunca fiz a menor idéia do que seja American Depositary Receipts e os efeitos que vocês tanto falam na economia, pra mim, tanto faz desde que o preço do cigarro que eu fumo escondido de você não aumente..
não interdite meus vícios querida, prometerei não delatar sua elegante tribo em troca, de sossego.
porque o medo da realidade tímida não condiz com seus notáveis sapatos Chanel.


só mesmo a poesia
para desbravar quatro cantos duma tela
como quem viaja por cada bairro da cidade...
dois andares para ruínas
doze passos para queda
sete rotas para renascer
um abrigo antigo para felicidade.
Eu poderia ter estudado literatura, história da arte, poesia pura, poesia com feijão, jornalismo com poesia, poesia com pornografia, poesia, só poesia...
Aplico hoje, em dias de escassez de oportunidades a poesia financeira, poesia administrativa, poesia de logística, poesia sistêmica, apenas números...
Eu poderia mesmo arrancar os extremos, mas poesias sem polêmicas são apenas métricas...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

não havia tanta neblina
ela sofria mesmo de miopia...

domingo, 6 de novembro de 2011

"poemizo"
e me aproprio de verbos inexistentes pra você
cometeria qualquer delito
nos freios infames da tua memória
sugaria a mágoa desta fuligem grosseira
estancaria teus tremores
velaria tuas pálpebras irredutíveis
até o fluir dos ponteiros
esconderia as chaves
pra nunca mais te ver sair
dum precipício atiraria fora o ego
abonaria a audácia de tentar te fazer feliz ao acordar
porque todas as tentativas são de fazer valia
a responsabilidade de ter você comigo agora
não pelo poema
mas pela inquietação que tua presença evoca
"poemizo" nosso carinho
arranco do papel
desembrulho das estrofes
os versos te encontram do outro lado da cama
agradecem a vida que os deste esta noite...
e quanto a mim
alimento as crias poéticas com banquete:
te amo.

Prosa e Poesia

A prosa


Um dia, ela nunca choveu tanto. Era como se de repente fosse amanhecer, e todas aquelas notas juntas sem som estivessem dentro de seus corpos, aonde houvesse infância e as línguas e mãos fossem criadoras inseparáveis de qualquer ilusão. Sete noites como fartos desalinhos nos mais profundos ciscos dessas carnes. Lá naquele lugar onde as pessoas engolem moedas abrindo um abismo embaixo do mundo.
Sabe-se lá se é pela esquerda que eles chegam a onde se é. E foi a partir do limbo secreto abrindo o tempo por dentro dos braços que os vitrais refletiram a palavra inaugural:


A poesia


Gavetas e escadas inundam-se do mesmo nada
Realmente acontecia... É possível transpor o minúsculo!
Como se da “Primeira ilusão” os ossos atingissem a potencia máxima
E desafiassem as origens de um ator que ascende de seu próprio palco
Confundindo a platéia com um ar que bate na cara e respira
E lá no final de nossos olhos chegava o “Teatro ilusionista”...


A ilusão sonâmbula desconhecendo suas próprias doenças
Desenvolta dos golpes de sua própria garganta...
Derretiam as intenções estrangeiras de outro país e de nosso tempo
Entramos no Deus esquecido da rua, exaustos como se dá a um “Merchan” limitado
Morre ao avesso de uma prole vulgar a poesia de coisa nenhuma
Desinibidos da realidade do “Futuro de um passado imperfeito”


Há de germinar poesias como se quer das plantas
E os verbos serão como placentas em brasa que nem a sede constrói
Tijolo por tijolo...Nos braços invisíveis “Da cartola do poeta”
E será então a poesia imortal, em fragmentos e incertezas por todos os lados
“Criadores, criações e criaturas” mergulhados no mistério de uma arte gratuita.
coleciono chagas
das brancas, amarelas e companheiras
de emboscada
das camaradas em amores-amigos-irmãos
das pretas no branco tangíveis na simplicidade da ferida
das frias quase esquecidas nos ponteiros do relógio
das mornas alimentadas a pão e água
guardo onde posso
nos bolsos, em meio as pernas e em trecho dos poemas
Lúcia dorme
enquanto seus demônios pessoais 
despertam
uma batida na janela do quarto
e quatro vezes passagem para o seol

café ruim na cama
geleia de amora 
beijos e mentiras
três chaves no cofre

telas antigas
trechos de livros ultrapassados
folhas e teclados
duas retinas cansadas

cortinas fechadas
dificuldade de enxergar
ruas e calçadas breves
um corpo caído.

Novos mapas
para cegos afoitos...
destroços intermediários
nutrem o cordão umbilical
 fluídos orgânicos
transmitem pó e fumaça dos cigarros da casa
não aspire tudo Sofia
guarde um pouco pra mais tarde
nas horas das madrugadas
em que a abstinência chegar
as cirandas de tua mirada
fincaram-se em meus esboços...
daqui em diante
terás abrigo nas dobraduras
destas paredes sólidas
não corrompidas na efemeridade
da vida
serás meu filho
a saudade procriada nas tetas
de minha escolha
ninarei tua ida
acalmarei os delitos de tua partida...
debaixo da pia arquivarei mentalmente
os itens de tua primeira necessidade
serei estéril por vontade
perpetuando tua estadia
nos naufrágios da nostalgia
é preciso tirar os sapatos
arrancar toda sujeira
morrer superficialmente
e estancar o medo.
submergir da agonia nociva
nas entrelinhas da rotina
...
editar o feio
maquiar a putrefação interna
aspirando todo amargo
até faltar sangue na saliva
catar o lixo da escória
e sus'PIRAR em meio aos grandes

adequação aos lobos
preces e sacrifícios oferecidos aos deuses humanos
sorrisos e fantoches moribundos no caos 




Apodrecer em paz
fartando-me de acasos
nos democráticos cartazes do pranto...