Sobre a pergunta: Aceito as mãos do tempo em nós.
domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
Minhas retinas procurando um pedaço de nós. Minha mão
escavando antigos poemas, telas bordadas, frestas de um amor antigo. O mar caindo
nas tuas montanhas. Eu caindo junto. Nunca doeu tanto saber da tua felicidade.
Nunca foi tão duro saber falar doses de verdade sem propriedade poética alguma.
Falar a verdade sem fazer poesia. Não soube me recuperar com o passar dos anos.
Nunca saberei te arrancar do meu território. A minha e a tua poesia são dois
continentes distantes. Teu peito velado por meus sertões empobrecidos de amar
errado. E está errado, tudo está errado... Nossos lugares ocupados de mágoa e
nós dois envelhecemos tanto... Reviro minhas letras do avesso e o amor
permanece atemporal. Amargando, solidificando, me engolindo até não restar
sentido de poesia sem você. Você não compreende o que nos trouxe até aqui e eu
já não sei organizar as frações que tornaram o que hoje somos. “Ainda amo,
devagar e silenciosamente.”
domingo, 17 de março de 2013
Capturamos relógios nas pernas da semana que se inicia. Somos
abismos que não sabem a condição da queda. Enquanto escrevo vagas letras, você vagarosamente
dilui nossas entrelinhas numa pastilha de Redoxon.
O tempo fecha,
tua retina como
flecha
paralisa o domingo,
meu fôlego transborda
pra dentro,
em cima do muro passa
a lagarta,
mil patas do
imaginário sem nenhuma folha verde
queria ver mais do
desconhecido em meu quintal...
Abacateiro amuado de
tristeza,
canteiro de verduras
já pré-cozidas,
eu preciso saber das
coisas vivas..
Cheiro bom... Qual a
marca do teu pesticida?
Qual nome do teu
escudo anti/pragas?
Beba pelo menos dois
litros diários de formicida, coma uma vez por dia porções generosas de gusanos,
sangre pelas pernas e
ouvidos,
leia sobre aborígenes,viaje
para dentro de um baço,
tenha uma arma
calibre trinta e oito,
calibre teu copo com
pinga e,
pinga teu olho com doses cavalares de mentiras...
Minta sobre Deus,
endeuse um pedaço torto
de natureza,
naturaliza a coisa
toda,
totalize a quantidade
da porra,
porre no começo dum
verbo,
verbalize o coito
interrompido,
interrompa um poeta,
poetize uma lagarta,
“lagartize” uma
poesia,
poeme um abacateiro
amuado,
amue um poema,
no canteiro de
verduras
“Verdurize”um aborígene,
viaje para dentro de
um gusano,
Beba o escudo
anti-pragas e,
ouça pelo sangue das
pernas a condição do dia:
Mulher.
domingo, 3 de março de 2013
Mara lava o rosto. Trovões enfurecidos. Somos três- himens de
ferrugem. Minha mãe é míope, não soube decodificar infância. A matriarca interage
com as bitucas de cigarro. Embaralho o
útero de Mara: nasço do avesso. Seu patrimônio de casas remendadas, Mara é minha
filha- Nossas culpas juntas. Deus cuida da tua pólvora mulher! Agendo tua paz
pra daqui nove meses, quem sabe, teu egoísmo gere milagre. Tua casa e teus demônios
já são outros. Lamento ser tão desgarrada. Manobro em meio a minha origem, tua
barriga me gerou de sete dias, crescerei de novo, no teu ventre ou serei
arrotada numa bebedeira tua. Teus peitos foram confiscados por terroristas e eu
já não pude me alimentar. Teu amor entrevou no caos querida mãe. Teus afetos de
tão mecânicos sobrevoam meu pesar.
Douglas na esfera do umbigo. Pequeno homem tirando Xerox do
corpo. Estado físico da vertigem em minha agonia. Signo de câncer; vida e morte
num cometa de tristeza. Emito esperança, entrelaço minhas veias na tua medula. Minha
imaginação encontra a cura.
Noélle me eclode em música. Pequena lilás, serelepe me dá todas
as manhãs capas coloridas.Saias rodando nos sorrisos, a mãe de Sophie que está
pra chegar. Sopro teu pousar com a experiência dos anos.Nosso amor é liquido e
teu jardim perto.Procuramos uma pela outra em nossas alegorias desenhadas.
Irradiações consanguíneas disparam o grito.
Eis que, no espasmo, imagino o manifesto do verso. Beijo
segunda-feira na testa. Teu cheirinho pulando de dentro da caixa. Meus poros na
tua voz mansa. Impulsiono o poema pra um canto mais arejado. Teu nome caindo no
chuveiro, tuas mãos me apertando no capitulo do livro, teu olhar confiscado
numa tela. Meu mapa nas tuas coxas, marco de saudade. Do outro lado da rua, vou
ao teu mundo, que sob medida encaixa-se em meu ponto de partida: recomeço. Meu
aniversário: teu beijo. Eletricidade no caminho das letras.
Espátula no teu corpo. Lá vai outra vez Izaías, desmanchar
no tempo enquanto o verso deságua na curva dum esgoto. Lá está nossa família,
no estranho elemento da ausência física. Na gaveta, submundos de perdas. Onde
estão Isaac e João? O peito exausto pede desculpa na madeira do caixão.
-Muito cuidado meninos, a saudade é uma substancia orgânica.
Não posso falar com deus por ter esta capa humana sórdida,
pra quem ligo pra ter um dedo de prosa com vocês? Há dois anos pensei em
procurar um bom agente funerário que nos agendasse uma visita.
-Na minha casa às dez horas, pode ser.
Transformei-me na porção hereditária do louco. Fui de metrô
para o Seol, todas as estações lotadas de memórias e conflitos. Muitos mortos
dançavam sem notar os movimentos. Tantos cadáveres dissimulados bombeando os
passos a espera de voltar pra casa. Sentei no banquinho ao lado de uma velhinha
cega, era minha avó que segurava uma cordinha com um relógio antigo. No barulhinho
do tempo já não marcavam horas. Pobre senhora, pensei.
Levantei a procura de alguma placa que informasse a sala do
escritório de deus,no caminho, um moço de jaqueta preta me ofereceu cem gramas
de pó, em troca, ele queria entrar no meu corpo só pra lembrar como é boa a
sensação de estalar os dedos. Agradeci e recusei.
- As drogas ainda vão te matar.- alertei. Ele sorriu e
entrou no meio dos trilhos.
Continuei minha busca, ou acharia deus ou o diabo que me
mostrasse solução. Nunca vi estação tão cumprida, andei por horas a fio sem
ninguém que soubesse me dizer onde trabalhava deus. Cruzei com um garotinho
negro dos olhos grandes, ele perguntou se eu vi sua mãe, disse imediatamente
que não.
Tantos sussurros e pedidos, tanta gente magra e feia santo
deus! Até que vi uma mulher de costas,ela era meu pai.
- Aonde está deus nessa desordem pai?Vou arranjar um jeito
de te tirar dessas acomodações precárias.
Deus é você- disse ele. Esse caos é lúdico. Vai pra casa
menina, dedilha uma lua ou uma poesia e cria a gente com um pouco mais de
encanto.
Evitamos o encontro. Coagidas, contornamos poemas mofados.
Em pouco tempo, suamos mãos e olhares. O medo nos viu na estrada com velas no
chão. Chegou uma carta, abri o selo e uma nuvem, eu chovia tanto nas tuas
letras que me esqueci de ver a semente escondida na carta. Tua vontade fez
nascer outra flor. Construí uma estufa azul no meio do quintal.
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