sexta-feira, 27 de dezembro de 2013



Desaguamos no olho do medo
Teu olho no meu (– olho do furacão)
Embarcamos no devaneio florido
Mastros controlados por nossos gemidos
Tecidos nas velas pingando no leito em que deitas
E no leito do Rio de Janeiro
...
À deriva, impedimos o poema de naufragar
No meio de tantas águas das tuas lágrimas salgadas
Que nesta sala formaram um mar.




Regresso aos veleiros ancorados nos espaços de nossas falas. Em dezembro, proclamamos nossos versos na soltura dos vestidos, no sanfoneiro barulhinho dos dentes a se expandirem e abrilhantarem nos pratos lustrados dum sorriso. Um copo de café, a falta que o cigarro faz, a tarde aquecida da fumaça imaginária do verão na contramão. O nevoeiro por cima do abismo que os próprios passos provocam. (Olhar esperançoso de hortelã).
Veja bem Cecília, o poema está embaralhado nas páginas do livro que teus dedos passam e na fumaça que salta da minha boca “atabacando” o quarto com tua fúria compenetrada em meus vícios rareados. Labaredas nas tuas marés, minha droga nas tuas veias, um rio de orgasmos a coagular nos teus seios, e o suor a pingar no conta-gotas dos teus olhos juvenis.
No cotidiano do poeta, nascem flores e capim fresco. O quintal está repleto de chuva e o abacateiro tem gerado grandes acerolas doces que pescamos com nossos beijos de jujuba e amendoim. A casa da frente é verde, e nosso jardim lilás, feito os vaga-lumes que nos aparecem somente durante o dia.  Entenda que estes são os nossos pertences que carregaremos em nossa tenda toda vez que amanhecermos juntas.