quarta-feira, 15 de junho de 2016

Lanço ao tempo peregrino pedras amargas. Ao tempo cativo espigas vindas do Norte. Ao tempo ambíguo cheiro de alecrim virado pro Sul. Da seiva bruta escrevo três linhas no jornal do mundo.
Não vai haver guerra...Apenas nuvem negra sobre minha página. Abro a nuvem, me engasga a visão:

Um fantasma regressa do terreiro, perpassa rente ao meu pescoço -meus finos fios levantam-se em dança. Diabo vagante em minha casa, arranca eletrodomésticos da tomada,roça meu seio, engole as telhas da rua como se despisse flor de lótus. Demônio suspenso, veste branco, mas está de luto, definhando em seus pastos de besta, me engravida da miséria rugosa de um instante. Escondo-me nele,confesso tudo,sílaba a sílaba e o verso voa.

sábado, 11 de junho de 2016

Encontro outro nome. Sei que, com porradas, apanho peixes ou descubro o mar. Dói, sentir a queda sem prévio aviso. Um dia, em cantos brancos, escrevi poemas, dediquei amor. Fiz reza baixinha,denominei Cecília,inventei molinhas pra um encanto que nunca foi amor.
Amor, não mente, não fere,não engana, até um pequenino sabe, amor é troca, empatia,olhar o outro dormindo e descobrir a cura,fazer planos,ser leal, mãos trançadas,poesia de manhã e música de tardinha. Amor seguido de pistola é um desperdício. Amar é amparo,ruínas que sabem construir dinastias, beijo molhado que a gente não consegue decifrar, ofício sem equívocos,carinho ambíguo, agudo como um grito,manso e sem lacunas. Amor sabe regressar, sem mochilas, olhando no olho, assinando recomeço de próprio punho sempre que precisar. Amor recupera cada trecho, não importando o hiato de meses ou anos, porque amor multiplica e sabe voltar forte,não covarde,não egoísta... Amor doa,amor quebra o muro,tem febre e mil asas pra um mesmo sonho. É incômodo,combustível e improviso, mas nunca silêncio,nunca medo. Amar deixa o corpo dolorido,mas sobe ou desce a rua com os pés descalços,contudo,sempre honestos. É curativo, e é bússola pra quem não precisa de cartografias. É uma vocação intuitiva na esquina do mundo,você simplesmente ama.  Amor sustenta um livro,um pássaro ou um tufão.
Um dia, eu quis esse amor... Amor de reza baixinha.
Na ilha do futuro
Há uma fronteira
Minha poesia
que é minha casa
se orienta

Um dia,
me soltaram cães
e a cicatriz
velando-me artérias
modelou meu corpo
virou beleza, legado

Meu curinga transformado
Desembrulha-se sob os
novos sons do mundo
Meu corpo esquece o próprio corpo. Desde meu copo cheio até acres de terras amargas, o corpo em resinas retorce. Calo. Há quem confunda Campo Grande com Grande Campo, mas quem não comete desatino não sabe conjurar metáfora. E já é noite, assim mesmo, fria, detida e: mesmo sem chuva, meus cabelos são chuviscos e esse frio de sangue e amoras trazem as mesmas barbaridades. Meu céu fica limpo, livre de culpas, trago comigo um guarda-chuva em desuso e mesmo eu, que vim com tanta coisa, nunca vim com tão pouco.
Desperto, cada despertar é um desencontro, então paro, pra ornamentar o céu com minha ingênua e modesta cegueira. Recursos que se perdem e espero que não mais regressem, nem ocultos ou mesmo em histórias futuras. Não decifrei que do musgo não haveria flor. Musgo é sempre musgo.
Zerar o passado dava medo. Pessoas ruins passam, juro que passam. Uma era brasa azul e a outra negra, mas elas apagam,juro que apagam. Dava mesmo um medo graúdo, garanto que dava. Não sei quanto tempo dura o suspiro só sei que choro,chorei mesmo, admito.  E ele me responde como um desafio. Até a chuva aqui, agora, coagula, mas dessangra a conta-gotas. E este som afiado e sinistro será recusado e calado ainda, juro. Engomo meus escombros, rompo no talo, redobro de forças dente por dente enquanto mordo as palavras encurraladas: Nunca mais!
Zerar o passado dava medo,juro...
(Mas, por medo não morro mais.)
Ai do seu talvez,nem mais minhas sobras,nem lugar em meus poemas ou história, dente a dente mordo as palavras "Nunca mais".
E sobre o que fica: Lição...
Pessoas ruins passam, juro que passam.

sexta-feira, 10 de junho de 2016


Escapa
E o que éramos
extravia no meio da noite
Por aqui,
escurece
Meu quarto estanca
Mas da cama,
brotam árvores
Fornecem vida e algumas lembranças

Você concordaria que,
ninguém se arrisca a ir pro Atlântico de jangada

Quem tem uma flor nas costas
É que a flor sabe boiar nos confins descontínuos de uma promessa
(Quem um dia amo,nunca deixo de amar)

Nesse improvável equilíbrio,
tenho o deslumbramento reticente aberto
enquanto alguém me lê
sob um rastro saudoso de senãos

Ondulante como o Atlântico,
avanço
Meio ofegante,meio calamidade
Então,em elipse caio de costas...
Minha flor e eu.