quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Marginal


















“A teus pés”, marginais correndo por dentro de nossos conflitos...“Inéditos e dispersos” descobrindo o nome que tem

A teu Rio que espeta liberdade e inventa a referencia das provas

Das tuas “Luvas de pelica” que tão bem marcam o inferno de tua passagem

Da cara fria que brota larva poesia
E assume plumas duma geração “mimeografo”

Da puta que sangra com versos nos dentes
E “pousa” nua sob qualquer lente gratuita
Poeta que ninava e dormia com marginais
Bagunçava cabelos, seios, coxas e sexos
Trepava com as ruas e praças públicas
Gozava na ereção da arte barata
E excitava o órgão poético de todos sedentos
Marginal integrante da quadrilha de Leminski, Cascaso e Torquato
Sob o chão do povo, abrindo antigas prisões
Com pés, punhos e versos revoltados
Jogando fora a sobra da roupa domesticada
Cortando e travando a doença
Recuperando o nojo que desbota a elitização
Abolindo a poesia
Jogando na rua, pro povo, pra todos!
Unificando arte e revoluções
Queimando o censor anestesiado dos que vendem sua arte
Eu-poeta
Versos-para túmulo incerto
Ingênua-desavergonhada
Morrendo além de escamas nas palavras que há
Ânus melado e promiscuidade verbal
Transgressora sem teto
Vestida de militante para pisar em nova arte
Cuspida na cara dos amantes lucrativos
Gozo compartilhado por poetas, atores, miseráveis e irmãos...Vida longa a marginalidade dos poetas!


{Ana Cristina César foi uma das pioneiras do movimento de literatura marginal, participando da "geração mimeografo" contra a elitização literária e ao lado de outros grandes artistas marginais da década de 70. Nasceu e morreu para poesia do povo, cometendo suicídio em 1983.}