Bicho solto na caixa de fazer silencio. Nas compotas de poetas que religiosamente amanhecem no meu pão. Bicho de botar no pé e continuar andando porque a coceirinha dói. Porta-treco de guardar canção ultrapassada pra esquecer que também sou antiga. Variações dum mesmo bicho que não admite ter sete cabeças porque a vida já é dura demais pra ser complexa e eu não sou ninguém e você também não é. Bicho é bicho, mesmo bicho de pé. Bicho sem vergonha de fazer molhar a fronha. Bicho-gente /grilo na cuca. Vou esquecendo as promessas porque bicho solto não tem paradeiro para cumprir coisas ditas. A gente vai virando gente e sendo cada vez mais bicho vai achando que encontrou a fonte pra ser esperto.
Bicho gay é bicha. Bicho hippie é cara. Bicho machista quase sempre não gosta do parente bicha e esse preconceito quase sempre termina em bicheira. Bicheira no trocadilho vira intolerância. Bicho literal vive de instinto e a gente usa instinto como pretexto pra ofensa. Ofensa é coisa criada pelo bicho capeta, o filho do bicho pai que quis ser o próprio bicho pai, e também tem o bicho filho que dizem ter morrido pra salvar todos os outros bichinhos do mundo. Bicho filho gerou o caos porque no meio de tanto bicho achando ser especial surgiu foi bicheira em todo canto do planeta, de bicho assassino a bicho ladrão, cada um achando que tem sua razão e essa bicharada toda junta devia mesmo era voltar pra arca porque bicho solto é coisa dessas idéias modernas que enchem nossas cabeças de bichinhos, e os congressos, e os políticos são os bichos responsáveis por fingir que tem inseticida suficiente pra acabar com toda bicharada se não seguirmos as regras, outra coisa: regra é um bicho chato que a gente segue porque senão a casa cai e aí a gente vira bicho mesmo, de mentir a saquear pra não sair na desvantagem. A gente é tão bicho, mas tão bicho que pra enganar a gente e inflar o nosso ego o bicho pai apelidou a gente de “Homem”.
(Vai entender esses bichos doidos.)