quarta-feira, 10 de julho de 2013

Vinil 1.977

Eu fico. Em meio a desordem programada pelo recado que você deixa diariamente na caixa de mensagem. Outros tons,você disse, mas o recado sempre deixa a cor rubra, um tom de sépia que teimo em apagar no frio dessa noite. Um bar, duas putas passantes e a verdade queimando naquilo que esquecemos de falar. Você dissonante e eu meio bêbada. Nos prestamos ao papel de mensageiros,somos libertinos no subúrbio, ainda fazemos meio e final. Expelimos casas abertas,janelas sem cortina e a música de um vinil de 1.977. Olho pro pulso, e a pulseira reflete na luz fosca do banheiro. Essa tonalidade deixa o adereço embaçado e delirante no fundo verde musgo da parede. Todos os detalhes decorados e camuflados na tua imagem que passo em um piscar de olhos, eu fecho as pálpebras e, você nasce gigante no cinza da canção. Melodia manhosa do que ficou por vir e ainda estará preso nos cílios... Gigantes desdobramentos da calçada portuguesa. Prepotente musgo que quebra todas as encostas das suas costas fechadas por um santo qualquer. Eu leio Bocage porque teus olhos refletem um Portugal mais entranhado no que em mim é só um Rio carioca. Acho que fiz um poema e deixei solto no porta-luvas, naquela hora em que a melodia não soube dizer a velocidade da estrada coberta de nevoeiro. Acho que sou mesmo menina, e não sei bem a hora em que termina a queimação estomacal que essa presença tão nossa, deixou arder na carteira de identidade que o moço pede ao nos ver entrar nos becos delgados de quarta-feira. Eu sou um artifício levado que teu andar não soube parar o número certo do elevador, e você um chaveiro que minhas portas erram toda vez em que abro a porta. Somos um erro. Somos um erro. Somos um erro. Que teimamos em atirar na engrenagem da bala a queima roupa. Não me peça mais pra escrever pra você, o poema sempre se transforma em crônica e os medos sempre convergem nessa falta de argumentos. Sou amadora das tuas rimas, sou leviana com meus princípios que principiam na tua coroa de desejo, e abre...Abre... Poltrona de reis cegos no olho da manhã que nunca chega para nós. Fotografo então, tuas mãos compenetradas em minha arte, e o santo descarrega o milagre, o ato de um rito, nosso batismo líquido em meu deserto de amar.
Você, desordem programada em meio ao caos. Mas o recado sempre deixa a cor rubra...Um tom de sépia que teimo em "pagar" no frio dessa noite.