Escrevo aos enforcados como se dispensasse meu próprio desespero. Fantasiando sobre um cristo o acontecimento de minha própria humanidade. E quando escrevo sinto que falta sempre mais um pouco, como se as letras tivessem um aroma dizimal que cospe na extensão de meus pés.
Minha falta de moral é a que tece todas as frases e, dali de cima, aquela impressão de ter sempre todos os espaços abertos. E quando dessa vida lá fora, cheia de coisas reais e sem matéria qualquer linha se diz poesia, é que mantenho meus olhos fechados como se nunca pudesse parar de correr em direção à mesma presença solta.
E quando declamo nas ruas feito marginal é porque quero abanar todos os farelos até não restar nada. Aumentando nessas mesmas praças minha família de irmãos artistas, um círculo vicioso que viabiliza o renascimento da poesia.
E ali, dançamos em ciranda para escrever com os pés e fazer teatro com as mãos.
Assim, a arte inunda as ruas, devora seus portadores num samba alucinado com direito a artistas avessos a toda forma de domesticação. Sem uniformes, sem patrocínios e sem nenhuma vergonha de fazer da poesia a pátria a que se ama.