E eu já não tenho ideia do que fazer com os nós presos,talvez, eu faça mudar a corda,pinte de outras cores e coloque um titulo menos bobo. Ainda que, eu troque a música e escreva o poema de trás pra frente, será o seu corpo imerso nas estrofes. Será a sua boca fazendo coro quando eu abrir a porta, e os teus braços puxando a mesma corda. Daí, eu forço um espirro pra desentranhar teu cheiro do corredor, mas tenho memória poética e olfativa, o cheiro continuaria lá e eu, ainda mais estúpida. Pego um ônibus diferente, mastigo só do lado esquerdo da boca, troco todas as ordens da rotina e ainda assim, sua imagem retém nas mãos todas as cordas. Arranco das tuas mãos, tranço numa rede ou prendo no violão. Dele, som algum.Nada...
Escolho outros livros, vou para o bar. Por baixo da mesa, um nó pequeno roça minhas mãos, o grosseiro tecido que o compõe é cheio de pretextos e todas as doses do mundo de você. Largo o copo, acendo um cigarro e lembro que você odeia que eu fume, apago, simulo um desmaio, prevejo um poema martelar noite adentro na cabeça.
Vou pra casa com o nó em um pulso e a corda no outro, abro a carteira, e teus brincos de pérola cintilam no opaco da noite -vou devolve-los em breve, prometo inutilmente. Em casa, tua voz continua a ressoar mansa, desta vez, mais serena e doce do que nas últimas. Agonia, crio um deus e uma solução falível.
Escrevo uma crônica pra você, os nós desatam a cada linha, a corda vai puindo e a inspiração por hora entra em estado de inanição.
Adormeço. Amanhã, a corda continuará a refazer os nós de saudade.