sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Victor


















Éramos formas encardidas de ser
Agonizando nossa loucura escancarada
E foi te ouvindo cantar que fiz da tua voz memórias e livros
Criei dentro dos tímpanos a saudade de nossos versos frescos
Sempre e antigamente descontrolávamos o próprio caos
E fazíamos festa em nossas garagens como se fossem ginásios lotados
Aos sábados as bocas esperavam por nossas bebedeiras
A dor e a fome eram sintetizadas na vontade de cantar a noite inteira
Dormíamos ao som de Janis só para acordar com Elis
Havia pedras em nossos poros
E com todas elas criávamos nossas próprias estátuas
Martelos, espátulas e sorrisos
Criadores e criaturas desenhavam e cantavam novos tempos
Fervia arte na tela de nosso grupo inseparável
E a amizade ali, por vezes mal absorvida aos que nos viam...
Guardamos entre músicas e abraços cantigas que ainda nos embalam
E descobrimos juntos como lidar com mudanças e a plenitude guardada em nossa caixa
Nossas mãos em potes cheios querem acenar pra tua voz e meu poema
Nossa saudade compreende uma viagem que ainda não foi inventada
Naquela gaveta branca escondi nossas lembranças escandalosas
Encontrei tuas cartas, teus desenhos e aquele teu quadro feito pra mim
Veio junto e entranhado teu sorriso, nossos pulos na rua a cada reencontro
Meus braços ficaram curtos e meu papel mudou a cor
E veio junto um sorriso da poesia que nunca foi minha...
Aqui, ela pertence a nós.