sábado, 26 de março de 2011

Hino ao Carvão

Aquela mulher de asas gigantes
puríssima senhora
abraçada a timidez dos tempos idos de seu violão
cujos vestidos agrestes causam chuvas elétricas nos pulmões
que na guerra dos cínicos é um anjo
com seus hábitos e passos firmes
reservando seus fastasmas nos sopros
dos seus artesanatos de tricô
a mãe de meu pai que atravessa a fronteira cinza
e num amor perdido de setembro o abraça e resgata
por isso a fera de sua moral de tão terna faz parecer inventada
cantarolando pelos cômodos as mais queridas canções populares
carregando o próprio céu em seu rosto
E vai marchando em suas antigas fotografias
a reencarnação das mínimas lendas de um dia
fazer de seu caderno escolar aulas orgulhosas de carvão e pedra
retornando um dia inteiro suas recordações magníficas de Campos dos Goytacazes
nas mãos transbordantes de alegria roubar da infância maçãs vizinhas
naquele mesmo tempo em que panelas transbordavam de sopa e legumes
E cá fora ainda hoje, basta ver teus olhinhos míudos
para ver mais de perto aquela terra fresca

Um dia, acredita do alto de sua autoridade sábia
que pessoas se cumprimentarão apenas com sorrisos
e as cartas todas serão novamente escritas com as mãos.