Capturamos relógios nas pernas da semana que se inicia. Somos
abismos que não sabem a condição da queda. Enquanto escrevo vagas letras, você vagarosamente
dilui nossas entrelinhas numa pastilha de Redoxon.
O tempo fecha,
tua retina como
flecha
paralisa o domingo,
meu fôlego transborda
pra dentro,
em cima do muro passa
a lagarta,
mil patas do
imaginário sem nenhuma folha verde
queria ver mais do
desconhecido em meu quintal...
Abacateiro amuado de
tristeza,
canteiro de verduras
já pré-cozidas,
eu preciso saber das
coisas vivas..
Cheiro bom... Qual a
marca do teu pesticida?
Qual nome do teu
escudo anti/pragas?
Beba pelo menos dois
litros diários de formicida, coma uma vez por dia porções generosas de gusanos,
sangre pelas pernas e
ouvidos,
leia sobre aborígenes,viaje
para dentro de um baço,
tenha uma arma
calibre trinta e oito,
calibre teu copo com
pinga e,
pinga teu olho com doses cavalares de mentiras...
Minta sobre Deus,
endeuse um pedaço torto
de natureza,
naturaliza a coisa
toda,
totalize a quantidade
da porra,
porre no começo dum
verbo,
verbalize o coito
interrompido,
interrompa um poeta,
poetize uma lagarta,
“lagartize” uma
poesia,
poeme um abacateiro
amuado,
amue um poema,
no canteiro de
verduras
“Verdurize”um aborígene,
viaje para dentro de
um gusano,
Beba o escudo
anti-pragas e,
ouça pelo sangue das
pernas a condição do dia:
Mulher.