segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O desgraçado e os miseráveis















Sou um irmão amputado jogado no lixo
Recebi o leite do peito seco
O alívio vem de qualquer sobra

Sou fruto da sacanagem de um santo ausente
De um governo estuprado e um Deus mentiroso
Nos bolsos nada além de um cigarro pela metade

Sou um resto de medo e fome que ainda se contorce
Tenho estes dois braços que definham e só acreditam no céu da boca
Minha morada é no asfalto onde o cheiro fétido me bebe de gole em gole

O corpo olha pra dentro, depara-se com a palma das mãos
E lembra em sopros cuidadosos dos potes cheios, das grandes construções...
As mãos surradas pedem a paz merecida

Um resto da canha ainda o mantém embriagado na tentativa de misericórdia própria
Um desespero e a tontura que momentaneamente engana a fome
Um gosto amargo de se passar despercebido

Um nada em extremos partidos
Uma carcaça apagada em projeção faminta
Instrumento de culpas próprias e alheias

Imperceptível, ignorado, desfalecendo pelas mãos que agora sangram...
Sou um desprezo humano sem juiz, sem deus, sem irmãos
E quanto a eles, parecem padecer de uma embriaguez oportunista
Com seus olhos sempre arredios e um fingimento calculado

E quanto a mim, concordarei em ser o corrosivo da calçada em que passam
E o adubo do asfalto onde correm
E em alguns momentos entendo tudo...
É preciso desgraçados como eu para enxergar que os miseráveis são eles.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Arte Marginal














Escrevo aos enforcados como se dispensasse meu próprio desespero. Fantasiando sobre um cristo o acontecimento de minha própria humanidade. E quando escrevo sinto que falta sempre mais um pouco, como se as letras tivessem um aroma dizimal que cospe na extensão de meus pés.
Minha falta de moral é a que tece todas as frases e, dali de cima, aquela impressão de ter sempre todos os espaços abertos. E quando dessa vida lá fora, cheia de coisas reais e sem matéria qualquer linha se diz poesia, é que mantenho meus olhos fechados como se nunca pudesse parar de correr em direção à mesma presença solta.

E quando declamo nas ruas feito marginal é porque quero abanar todos os farelos até não restar nada. Aumentando nessas mesmas praças minha família de irmãos artistas, um círculo vicioso que viabiliza o renascimento da poesia.
E ali, dançamos em ciranda para escrever com os pés e fazer teatro com as mãos.
Assim, a arte inunda as ruas, devora seus portadores num samba alucinado com direito a artistas avessos a toda forma de domesticação. Sem uniformes, sem patrocínios e sem nenhuma vergonha de fazer da poesia a pátria a que se ama.

sábado, 14 de novembro de 2009

Fluoxetina com Café

















Sete amigos caras de pau e banidos da panelinha literária de nosso ingrato país se reúnem para compor as mais variadas abobrinhas alucinógenas.
Sem vergonha, sem regras e sem noção nenhuma.
Um time de peso e com o colesterol nas alturas.

Todos os domingos estarei fazendo o meu cafezinho com fluoxetina por lá também.

Em breve estaremos recebendo autores convidados que já participam como comentaristas de nosso blog.

http://fluoxetinacomcafe.blogspot.com/

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Ilusionistas do Verbo
















O "Ilusionistas" nasce da junção de sete escritores que não sabem o que sabem. Um blog cru,sem cortes,nada liso e audacioso em ser livre. Nada além do esboço e da desculpa para se fazer prosa e poesia.
Um desencontro achado, real e ilusório em diferentes estilos para se brincar de mentir sobre a verdade.
Crônicas recém saídas das esquinas, contos de uma escuridão matinal e poesias de tiro na claridade. Cotidiano e fantasia, inventando muito, pouco e quase nada. Literatura sem culpa.

Embriague-se com nossos poemas ou degole nossos textos. Faça o que fizer, o verbo é seu.

Veja o nosso blog em:
http://ilusionistasdoverbo.blogspot.com/

sábado, 7 de novembro de 2009

Poesia de um Lobato alucinado

















Procurei uma droguinha
Nem fósforos ou palha no quarto
E tudo tão molhado que nem fumo acenderia meu barato
O vento embriagado da janela trazia o cheiro de pólvora
A brisa quente explodia doce no olfato
As narinas alucinadas e eufóricas
Tomaram as formas de oito carreiras de um pó domesticado
Mãos tateavam o vento em êxtase carnal
Tomei todo o fôlego e o carrossel fez seu percurso
Um coral enfurecido nos tímpanos
Revolução sintética entorpecendo o abajur
Cores cintilavam um azul trancado de vermelho
Oito vozes fluíam um medo faminto de pastores do trigo
Paredes empretecidas conversavam com meu gato
Espanto asmático ouvir o felino responder
Tremiam oito móveis e a cabeça flutuava na TV desligada
Oito segundos para se ter oito anos enquanto assistia a saga de Lobato
No varal, vovó Benta pendurava meus discos de vinil
Na vitrola velha tocavam as roupas puídas
Pedi a Emília que me acendesse um incenso de canela
Canela me faz querer dormir um sono quieto
Cochilei por oito dias com Visconde de Sabugosa fumando meu baseado.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lágrima Decadente

Por entre sertões, descobriu a lágrima mais humana brotando uma espécie de nostalgia.Apenas o arrepio por cima do telhado em direção a queda.Escrevia uma insanidade vulgar. As palavras mais bonitas permaneceram nas sarjetas.Umas incoerências perdidas, cheias de vida por fazer. Seco, construindo traços vazios rumo ao caminho de volta.O rancor, sorrateiro invadiu o que havia por baixo do tapete, arrastando por entre as solas dos pés um ranger acumulado de verdades e promessas.O tanto deixou de ser o bastante diante da ilimitada fluidez de todas as outras existências.Vaguei no alívio de um grito. E este corpo antigo produziu uma decadente distancia entre o vazio e a lágrima que pesa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Com a língua

Me beija os seios como quem trava o último suspiro
Me toca como se eu fosse teu instrumento de cordas
Me lambe como se eu pudesse matar tua sede
Me invade como proprietário carnal

Me beija enquanto me toca para que eu faça música em você
Me lambe antes de me invadir para que eu te devore como cortesã.