quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Das conversas de um puteiro

O abraço, a entrega, o gosto e as bocas cansadas...
Cabelos agitados no itinerário de um verso emocionado
Nossas línguas na tua cama e a manhã que agora boceja
Nossas poesias fechadas e minhas pernas abertas
Nunca vi um homem de feridas encaixadas sob medida
E ali, cada pedaço da tua miséria segurava minhas linhas
Ele agoniza e ela quer gozar
Uma noite, com todos acesos, danças e alucinógenos festeiros
Um beijo degustando os versos pelo sexo
Acordei sincronizada ao tempo estático
Um começo onde cada boca dormia calma...
Vou ao teu encontro em novo excesso
É tempo de abrir as carnes que dançam com nossos orgasmos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O desgraçado e os miseráveis















Sou um irmão amputado jogado no lixo
Recebi o leite do peito seco
O alívio vem de qualquer sobra

Sou fruto da sacanagem de um santo ausente
De um governo estuprado e um Deus mentiroso
Nos bolsos nada além de um cigarro pela metade

Sou um resto de medo e fome que ainda se contorce
Tenho estes dois braços que definham e só acreditam no céu da boca
Minha morada é no asfalto onde o cheiro fétido me bebe de gole em gole

O corpo olha pra dentro, depara-se com a palma das mãos
E lembra em sopros cuidadosos dos potes cheios, das grandes construções...
As mãos surradas pedem a paz merecida

Um resto da canha ainda o mantém embriagado na tentativa de misericórdia própria
Um desespero e a tontura que momentaneamente engana a fome
Um gosto amargo de se passar despercebido

Um nada em extremos partidos
Uma carcaça apagada em projeção faminta
Instrumento de culpas próprias e alheias

Imperceptível, ignorado, desfalecendo pelas mãos que agora sangram...
Sou um desprezo humano sem juiz, sem deus, sem irmãos
E quanto a eles, parecem padecer de uma embriaguez oportunista
Com seus olhos sempre arredios e um fingimento calculado

E quanto a mim, concordarei em ser o corrosivo da calçada em que passam
E o adubo do asfalto onde correm
E em alguns momentos entendo tudo...
É preciso desgraçados como eu para enxergar que os miseráveis são eles.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Arte Marginal














Escrevo aos enforcados como se dispensasse meu próprio desespero. Fantasiando sobre um cristo o acontecimento de minha própria humanidade. E quando escrevo sinto que falta sempre mais um pouco, como se as letras tivessem um aroma dizimal que cospe na extensão de meus pés.
Minha falta de moral é a que tece todas as frases e, dali de cima, aquela impressão de ter sempre todos os espaços abertos. E quando dessa vida lá fora, cheia de coisas reais e sem matéria qualquer linha se diz poesia, é que mantenho meus olhos fechados como se nunca pudesse parar de correr em direção à mesma presença solta.

E quando declamo nas ruas feito marginal é porque quero abanar todos os farelos até não restar nada. Aumentando nessas mesmas praças minha família de irmãos artistas, um círculo vicioso que viabiliza o renascimento da poesia.
E ali, dançamos em ciranda para escrever com os pés e fazer teatro com as mãos.
Assim, a arte inunda as ruas, devora seus portadores num samba alucinado com direito a artistas avessos a toda forma de domesticação. Sem uniformes, sem patrocínios e sem nenhuma vergonha de fazer da poesia a pátria a que se ama.

sábado, 14 de novembro de 2009

Fluoxetina com Café

















Sete amigos caras de pau e banidos da panelinha literária de nosso ingrato país se reúnem para compor as mais variadas abobrinhas alucinógenas.
Sem vergonha, sem regras e sem noção nenhuma.
Um time de peso e com o colesterol nas alturas.

Todos os domingos estarei fazendo o meu cafezinho com fluoxetina por lá também.

Em breve estaremos recebendo autores convidados que já participam como comentaristas de nosso blog.

http://fluoxetinacomcafe.blogspot.com/

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Ilusionistas do Verbo
















O "Ilusionistas" nasce da junção de sete escritores que não sabem o que sabem. Um blog cru,sem cortes,nada liso e audacioso em ser livre. Nada além do esboço e da desculpa para se fazer prosa e poesia.
Um desencontro achado, real e ilusório em diferentes estilos para se brincar de mentir sobre a verdade.
Crônicas recém saídas das esquinas, contos de uma escuridão matinal e poesias de tiro na claridade. Cotidiano e fantasia, inventando muito, pouco e quase nada. Literatura sem culpa.

Embriague-se com nossos poemas ou degole nossos textos. Faça o que fizer, o verbo é seu.

Veja o nosso blog em:
http://ilusionistasdoverbo.blogspot.com/

sábado, 7 de novembro de 2009

Poesia de um Lobato alucinado

















Procurei uma droguinha
Nem fósforos ou palha no quarto
E tudo tão molhado que nem fumo acenderia meu barato
O vento embriagado da janela trazia o cheiro de pólvora
A brisa quente explodia doce no olfato
As narinas alucinadas e eufóricas
Tomaram as formas de oito carreiras de um pó domesticado
Mãos tateavam o vento em êxtase carnal
Tomei todo o fôlego e o carrossel fez seu percurso
Um coral enfurecido nos tímpanos
Revolução sintética entorpecendo o abajur
Cores cintilavam um azul trancado de vermelho
Oito vozes fluíam um medo faminto de pastores do trigo
Paredes empretecidas conversavam com meu gato
Espanto asmático ouvir o felino responder
Tremiam oito móveis e a cabeça flutuava na TV desligada
Oito segundos para se ter oito anos enquanto assistia a saga de Lobato
No varal, vovó Benta pendurava meus discos de vinil
Na vitrola velha tocavam as roupas puídas
Pedi a Emília que me acendesse um incenso de canela
Canela me faz querer dormir um sono quieto
Cochilei por oito dias com Visconde de Sabugosa fumando meu baseado.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lágrima Decadente

Por entre sertões, descobriu a lágrima mais humana brotando uma espécie de nostalgia.Apenas o arrepio por cima do telhado em direção a queda.Escrevia uma insanidade vulgar. As palavras mais bonitas permaneceram nas sarjetas.Umas incoerências perdidas, cheias de vida por fazer. Seco, construindo traços vazios rumo ao caminho de volta.O rancor, sorrateiro invadiu o que havia por baixo do tapete, arrastando por entre as solas dos pés um ranger acumulado de verdades e promessas.O tanto deixou de ser o bastante diante da ilimitada fluidez de todas as outras existências.Vaguei no alívio de um grito. E este corpo antigo produziu uma decadente distancia entre o vazio e a lágrima que pesa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Com a língua

Me beija os seios como quem trava o último suspiro
Me toca como se eu fosse teu instrumento de cordas
Me lambe como se eu pudesse matar tua sede
Me invade como proprietário carnal

Me beija enquanto me toca para que eu faça música em você
Me lambe antes de me invadir para que eu te devore como cortesã.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Humificação

Entubo minhas indagações
Domesticado-leva a boca
Pago minhas doenças
Célula por célula
O corpo faz das veias proles impacientes
No leito húmus há todo espaço para boca
E a boca sorri
Oscilação do batom e precipício.

Poemeto de um mero ator

No corpo e no copo
A culpa é do perfume que está dentro de cada manhã
Benze o arrepio desta tua boca tão minha
A cena queima e um dia some
E eu mergulhado nesta falta de sonatas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nos escombros















Poltronas imaginárias vendidas há tempos
Uma casa no mundo inteiro
Quintal povoado de coqueiros gastos
A paisagem movimentada por ventos e relógios
E o vento violento forrava precoce em corrente inversa
Espalhando uma larica para boca seca
Da boca, uma bacia quente de Janis Joplin
E eram dos escombros que ela jogava cartas e instrumentos
Já não havia mais casas ou nomes completos
Construí uma chuva para me adoecer
E ela dormiu em mim quando não sabia o que fazer das mãos
Decorei as paredes com bulas e um tapete de um vazio trôpego
Ali fui trancada em escavações patéticas
Amarrei o corpo envergonhado esperando abolição
O corpo padecia da fome de não querer mais alimento
O ventre infestado de órfãos indigentes e soterrados
Meus filhos repousavam em prece a substância orgânica de meus espasmos
Cruzei meus pêlos sujos em atmosferas suspensas pedindo para recolonizar
A casa queria guerra, e da casa só restou o pó, separado em carreiras para que eu nunca me sinta só
Poção mágica em partículas refinadas e espalhadas neste caos surdo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Movimento "Poesia Viva"




Brindo o novo movimento poético que nasce nas ruas cariocas.








Nosso imaginário poético cruzando avenidas
Somos poesias vivas cambaleando pela cidade
Reunidos, dispersos e nos sorrisos a manifestação de cada estrofe
Um Rio antigo para nossa euforia temporária
O gosto quente dos poetas explode na boca
Uma embriaguez que salta da língua
Festejando a poesia que vive em nossos pés
Saudosas e sedentas em cada ladeira carioca
Espalhados,desatinados fazendo das folhas estadia
Marginais habitando em palavras
Poetas transgressores que se mantém na mesma linha
Oscilações e fúria criativa entranhada no corpo
Apertados e sem cabimento para esconder a nova poesia
Porque os poetas estão acesos e ambulantes na rota de cada chão
Ampliamos a cena de um novo carnaval
Delírio de uma poesia que vive.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carne e caos













Páginas improváveis do ventre e linhas
Pode ser o corpo marcado e saliva gelada
Pode ser o cheiro da boca e da ferida
Pode ser o seio quente e o tom da tua língua pra absorver

Imagem da folha e tesão
Pode ser sede embriagada e teu sono ereto
Pode ser a vagina infame e a carne lubrificada
Pode ser desejo e a vontade de gozar

Pode ser agora como numa morada desinventada
Quando a poesia deságua e avisa:
Meu corpo é sala sem hipocrisia.

O Sexo













O sexo perverso
O sexo nostálgico
O sexo travesso
Sexo satânico e sexo cristão

Sexo devasso
Sexo perdido
Sexo covarde
O sexo piada e poesia.

O Cristo Magro















Esta falta de crença é voraz
É aquela fé covarde que desaparece e voa
É um imaginário desarmado
É explosão precoce escorrendo na bíblia corrosiva
Cortinas absurdas cospem o medo barato
A cruz do Cristo magro é imóvel
Esta oração morna é reza afogada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Santa fêmea















E na rapidez do ódio, Maria entra na valsa
Santa Maria desligada na televisão
Overdose de água benta
A virgindade de Maria salta dos olhos
Tem passos curtos, rasteiros, mas o sal dos olhos a fazem querer gozar
Santa Maria, desnuda da água imunda!
Santa Maria mãe de Deus: a hóstia tem uma mágoa dissimulada
Jamais lubrifique minhas pálpebras
Dona do feto sem choro és tu Santa Senhora
E do que nasceu, não era teu
Sua dor era a ânsia do descaminho
Rasgar a cólera nos corpos dos outros
Divina ciência, sem preces ou deuses
Procissão maquiada de uma fêmea
Nos seios de Maria o profano
Esconde no véu cada orgasmo ateu
Manteve em sussurros o sagrado gosto de outros mundos.

domingo, 18 de outubro de 2009

Chaga Acesa

Se esforça a luz
Sondando um pedaço do espelho
O brilho é invisível
A cada despedida permanecemos livres
Ninguém nos tira a chave das linhas
Um circo literário para desafiar raízes
E num lance mágico a poesia é limitada
Uma frustração que se instala nos papéis poéticos
Ainda assim, acredita o verso ser descarado
Perfurando em suas mais variadas formas
Manifesto, faminto e diversificado
E não há arte sem ousadia
Arte deve ser tomada pelo fogo soprando pra fora o que procriamos com sorrisos
Se viver arte fosse catar a dedo quadros, morreriam de tédio todos os poetas
Arte não tem extremos, não é forjada
O espelho do outro não pode ser negado, repartido ou trocado
Antes, generosa e sábia arte abre espaços na medida de cada um
O grande poeta é por isso, um grande indisciplinado
Sabe partilhar como ninguém de toda arte coagida
E a melhor poesia de um artista é a que consegue rir antes do adeus
Traduz em gargalhadas a fúria estimulada por novos pedaços luminosos
Renovando nas vísceras a verdadeira arte: a ambulante
Arte é chaga acesa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Instante
















Final da linha e tua aula em mim
Lembro de cada partícula literária
Tua chegada foi por grandes escadas
Correndo dos esconderijos inspiradores
Nas poesias tua grande morada
Paredes e decorações vermelhas
Amanhecidas em nossos deslizes atemporais
Girava presa a culpa dos outros sangrando em nós nossa demora
Desisto e apago de vez para segurar tuas linhas
Os fios dos braços arrastados pelo caminho desviam nossas rotas
Descobri que todo esforço era o de escrever a margem nossos laços
E nos pedaços menores descubro em você o instante de ser feliz.

Victor


















Éramos formas encardidas de ser
Agonizando nossa loucura escancarada
E foi te ouvindo cantar que fiz da tua voz memórias e livros
Criei dentro dos tímpanos a saudade de nossos versos frescos
Sempre e antigamente descontrolávamos o próprio caos
E fazíamos festa em nossas garagens como se fossem ginásios lotados
Aos sábados as bocas esperavam por nossas bebedeiras
A dor e a fome eram sintetizadas na vontade de cantar a noite inteira
Dormíamos ao som de Janis só para acordar com Elis
Havia pedras em nossos poros
E com todas elas criávamos nossas próprias estátuas
Martelos, espátulas e sorrisos
Criadores e criaturas desenhavam e cantavam novos tempos
Fervia arte na tela de nosso grupo inseparável
E a amizade ali, por vezes mal absorvida aos que nos viam...
Guardamos entre músicas e abraços cantigas que ainda nos embalam
E descobrimos juntos como lidar com mudanças e a plenitude guardada em nossa caixa
Nossas mãos em potes cheios querem acenar pra tua voz e meu poema
Nossa saudade compreende uma viagem que ainda não foi inventada
Naquela gaveta branca escondi nossas lembranças escandalosas
Encontrei tuas cartas, teus desenhos e aquele teu quadro feito pra mim
Veio junto e entranhado teu sorriso, nossos pulos na rua a cada reencontro
Meus braços ficaram curtos e meu papel mudou a cor
E veio junto um sorriso da poesia que nunca foi minha...
Aqui, ela pertence a nós.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Letra Mais Próxima



















Existem poesias doentias
Emanando fluídos dos corpos fétidos dos poetas
Os ossos mastigados com a estrofe que corta
Não há flores ou paixões desinibidas
Apenas unhas encravadas em detalhes sórdidos

Sua morte é a letra mais próxima do verso
E nada derrota este pedaço firme de verbo

Encontram-se na intenção mórbida de cada piada
Desenrolam-se em cada degrau
Engolindo adubos evoluídos demais para qualquer poeta vendido
O melhor de cada cor é colorir a própria identidade
E ainda assim, em cada passo incerto o que habita é a palavra.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Música e Poesia
















Em Parceria com Roberto Camilo.


Há em tua companhia uma poesia errante e transgressora
Teus versos incorporam agitando em suas formas o sangue de toda pele
O formato do teu corpo escreve a cada linha sua posse
Traz perdidas as palavras antecipando suas raízes

Há em tua companhia uma música que corre dentro desta cena
Tua música percorre a casa e veias como se adivinhasse nossa presença
As notas juntas silenciam as notas de outros tempos
Corre de leve e viva, apenas concentrada nos pianos

Dentro das estrofes voamos nas ruas de cores
As letras de tuas rotas peregrinam no misto de sorriso e esta ferida que suponho em tuas mãos
Porque ninguém poderá fazer poesia sem lágrima, renúncia e angústia

Dentro dos teus tons havia incoporado o dinamismo da vida
A consciencia da tua voz latejava em meus ouvidos misto de tempo, rosto e corredor
Encontro canções profundas, perdidas em desejos fundamentais assim como qualquer poesia
Porque ninguém poderá fazer música sem pecados, lembranças e paixões

E tua poesia vai caminhando como quem corre dentro de si mesma
Locomovendo farpas, fogo e a fragilidade escondida

E esta tua música vai proclamando como quem atinge os ouvidos com luz
Procurando libído, água e a permanência incompreendida.

Ela é poesia e loucuras

Ele é música e liberdade.

domingo, 4 de outubro de 2009

Camuflados


















Repara o sol dos pés
Eles forram como fantoches soltos
Imobilizam o medo como heróis camuflados
Pedem perdão no desespero dos passos
Nasce a disputa entre voltar pra onde se quer e travar novas moradas
Pisam na casa de um vazio temporário
Ficam tontos
Padecem de uma embriaguez barata
Cospem até a boca a virgindade de outros caminhos
Impregnava uma saudade esquecida e perigosa
E nos pés envergonhados os mais variados tremores
Descobriram a vontade trancada de se reinventar antigos caminhos
Rápidos, adoecidos e pisando nas tuas folhas.

Transe


E na última cena, personagens jogados ao chão...
Depois, filosofia para um corpo que não quer mais descansar
As mãos em transe e a coreografia embaralhada em dialogo sutil
Quatro vozes nulas de vontade, e a expressão querendo mudar a entonação
Lança manifestos de expectativas à venda
A rota do ator mendiga mentiras emocionais.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Povoado de Versos e Sonhos














A onda apontando
Pra buscar teu colorido
Correntes e laricas de festa
Um quintal lotado de Ipanema
E se hoje é sexta-feira, a boca aguarda o frio na barriga
E o corpo pede música, quer cantar a noite toda
Noite pro papel morder as ruas
É quando as pedras derrubam as imperfeições
E nós violamos o asfalto quente...
A poesia em desespero quer vagar nas horas...
As casas que fotografo são cheias de cor
Vivas e sorrindo umedecidas das águas deste canto entranhado

Hoje tem Rio no meu céu
Brota uma euforia que invade
A cada bairro, um povoado de versos e sonhos
O gosto de chopp que salta da língua
Dedilhando a magia barulhenta da avenida Rio branco
As portas se abrem todas na mesma hora
Através da água, sai o povo pra expiar o vento
Fazemos de nossos pés uma substancia orgânica
Brincando com nossa identidade-samba
Pra saber de longe o certo, que somos mesmo instantaneamente livres
Saímos descarados empalhando nossas buzinas e carros
Pulamos pelas janelas tomados de alegria
Tudo demais já que hoje a intensidade faz sentido.

sábado, 26 de setembro de 2009

Caos Poesia


Quero a poesia pelas pernas sugando todo o bom senso
Desmaiando sobre os versos o caos de cada estrofe
Quero o descontrole das rimas
Quando os membros agonizam palavras encardidas

Quero as regras trocadas
E as mãos ávidas por pincéis e pontes
Quero os braços sóbrios e os dedos implodindo ódio e ócio
Acalmando peles, pêlos e poros

Quero as letras mais absurdas abraçando pedras e serpentes
Engolindo caminhos de pernas sem vida
Quero o suor frio de frases curtas, sem nexo
Desenrolando-se dentro deste ventre livre

Quero a prece imoral da cratera-poesia
Ajoelhando veias, órgãos e raízes adestradas
Quero meus poemas indigentes soterrados em rabiscos febris
Esperando tinta, lentes e corpos

Quero abolição literária psicografada em uma pia antiga
Rejeitando a saliva para descobrir o sabor
Quero cravar poesias sem lei com sopros e poucas cores
As curvas das palavras atravessam este verso com a língua.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Devagar e Silenciosamente


Não poderia voltar atrás
Mas a saudade é aguda
Meu medo ainda é argumentativo
Inibindo outras travessias
E o amor permanece atemporal

Procuro novas estadias
As bocas tem sido secas e sem o calor que busco
A poesia resseca em sua mágoa
Enquanto a minha poesia, o ama como na primeira vez...
A Súplica não se desfaz nem com tempo ou rancor

Acordo com nossos versos entranhados
Sei que não entendes minha fuga
Foste expelido de minhas expectativas
Permanece em meu vício
Esta procissão de espera árdua sobrepõe minhas palavras

A saudade crua faz de meus verbos frágeis
E o amor será o mesmo
Estagnado e pulsante
Sigo teu peito e tuas palavras não ditas
Gostaria de esconder a angústia e mudar a entonação
Mas ainda soa-me estranho procurar a cura para esta febre

Tua poesia ainda tem peso sob minha emoção
Ontem, enquanto o lia, meus versos te abraçaram sem forças
O que fluíam de teus papéis cortavam através de imagens
O passado germina dentro da nostalgia soterrada por nossas provocações
O absurdo de nossas palavras deturpa o que queremos com afinco

Desaprendemos o que de melhor havia nos laços poéticos
Os versos infligidos, e nossas palavras precisam de tréguas...
Rasgo todas as pronúncias em tempos de cólera
Porque não sei declamar você sem grandes proporções de amor
Escrevo o que constato todos os dias em meu espelho aceso:
Ainda o amo, devagar e silenciosamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Corrente Suspensa


Ele ama o vento
Tem o cheiro da verdade profana
Confunde meu espaço
Somos língua e dentes
Reconhecemos este verso
Transmitimos nossos pensamentos
Ao som de uma aula qualquer, brindamos em descaramento
Somos um par de poesias de Cordel
Moramos na voz de Roberta Sá e dançamos com Chico
Dois boêmios nascidos ao avesso dos tempos
Nos sorrisos um só compasso
As veias de tua poesia insana dão razão ao meu barato
Ele não tem precedente, nasceu hoje e renasce amanhã
Os braços dados em uma corrente suspensa
Espalhamos nossos pertences desejando apenas o que cabe entre as mãos
Ilusionistas do verbo
Juntos a poesia inflama-se de alegria.

Palco pra Arte


A arte alucina
Cheiro de ânsia universal
Piso com vontade para sentir a temperatura anormal
A arte tem um medo calado e uma claustrofobia excitada
Uma multidão embalando as palavras
Arruaceiros descobrem nela cores e descompassos
Passo dias com a cena mergulhada em mim
Entre platéias e personagens éramos um
O palco agora é misto de anarquismo com alucinógenos febris.

Tire Sua Mágoa de Cima de Mim


Segui teu rumo destro
Um desespero em recanto de angústia
Pensava em teus braços explodindo entre os dedos
Tuas mãos tornaram-se estranhos elementos
Tire sua mágoa de cima de mim

As linhas desaparecem de dentro do peito
Afasto meus olhos para apagar de vez
Cruzo raízes na tentativa de recolonizar outros afetos
Preciso te arrancar de mim enquanto os joelhos choram
Está em meu papel, por vezes me pergunto se realmente sentiu

Constato teu olhar sobre mim como quem aprecia uma farsa
Não calo a voz do corpo sabendo que as palavras me entopem
Sumo de tua incompreensão
As feridas alertam toda figura em mim
Apago poemas, confissões e planos
Deito minhas vontades zerando todo o passado.

domingo, 13 de setembro de 2009

Renasce a Poesia


















Teci a noite em seus olhos
Arrepios e beijos familiares de um gosto que nunca muda
Um iminente reencontro de bocas e mãos
Lembramos o carinho desmaiando sob a cama
Lençóis quentes e posições estreitas
Nem o tempo desmancha estes sinais escancarados

Rastro de desejos achados
Teus braços sóbrios e tuas pernas fixas como em ensinamento
Teu cheiro absorvido em meus novos versos
Meu mago terno sempre aqui e ali
Ninando e me levando pra perto
Minha natureza agora é teu colo

Teu nome na palma da mão trouxe nova esperança
Nosso perdão foi mútuo
Esta noite durmo em você enquanto você desperta em mim
Enamoro tua chegada com a serenidade de outrora
E a poesia renasce de um evento inesperado
Nosso instante foi supremo

Participei de suores precipitados e você aqui do meu lado
O café guardado entre as gavetas e o passado
O amor trancado e faminto
O amor está livre
Reinvento teus olhos pra perto
Invoco, danço

Atravesso as atmosferas adormecidas
Meus pés choram quem quase perdi
Minha fome busca a tua
Quando inquieta, tu me acalmas
Escuto em teu peito o traçar de novas expectativas
Nosso amor levanta-se como prece.

A Cada Hora

















Suja, enquanto humana
Um desgaste sólido
Pede pra acender meu corpo
A paixão definha a cada hora traçada
Ela já não sabe lidar com esta ausência física
Guarda dentro daquela caixa construções maiores
Tento tranquilizar mãos e pêlos

Um dia, planejei habitar em nós
A voz projetou uma vontade virtual perigosa
Tua saliva não descobria minha boca
Ainda não inventaram volta para nós
Borramos tudo que escrevemos
Agora, as mãos só pedem aos dois uma paz merecida.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Rigor Mortis


















Morte em vida já o era
Infeliz partida solitária
Da casa velha de móveis avermelhados
Ausentou-se de si a pequenina
Covarde é não partir pra ver como é...
Foi-se sem deixar recomendações
Decompôs sua essência perturbada
Decompôs seu corpo jovial

Descompasso e abandono daquele que fez-se ternura
Tomaram dois minutos talvez, latejar de todo pensar conquistado
Cessa ar, fôlego da vida
Partem células
Caminha o sangue, somos todos brancos
Rigor mortis de sua antiga fortaleza
Algor mortis de seu falecido desejo
Exala final, expele descomeço
Gusanos aliados de tua ausência
Abandono de teus cabelos loiros
Arranca esses olhos cinzas
Sugam a pele branca
Banquete da antiga fartura

Não a acolheram anjos
Não a importunaram demônios
Era maracatu do Seol
Era o nada inexistencial
Completo vazio a preencher o silêncio

Parto de partidas suicidas
Era rua Mem de Sá 380
Coagiram a morte em goles
Masturbou toda putrefação
As pálpebras cerradas frustram expectativas
Amparou-se frente a despedida cotidiana
Enterrou mágoas
Ressurgiu recomeço
Feto de novo ciclo
Da próxima vez serei outra.

Rio Duas Vias


Três bondinhos por sua Tereza
Posto que nove seja a menina que vem e que passa...
Nem só de Leblon vive a Lapa

Terra-província
Mar que se aterrou
Largo da Carioca que vende arte
Centro-Avenida
Avenida do Rio Branco...
Rio canto,
E se canta é samba
E samba é no morro
Se é morro, tem que ser Estácio
Estácio mira braços Redentor
Estende mãos Guanabara
Pra Guanabara, há quem diga que no Rio não tem Bahia
Há de ter Ilha Grande, tamanha Angra que estoure fenda do saco do céu
Há de ter travessura suburbana nas vilas e casas
Romper Janeiro na copa de um mar

Pra ser Laranjeiras, inegável planta-lá de pé
Rio duas vias
Nascente ao mar.

Pauper

















Daquela casa ouvia-se apenas os gritos
De um medo que sempre penetra
Entregam pois, as folhas abertas despidas de esperança
E gemem os pratos suspensos de nada colorido
Assim celebram-se as manhãs
De mãos rasgando a nudez de corpos magros
Recolhendo a surpresa da fome por ossos

Ainda não aprenderam a morder a língua e gritar pra dentro
Errei ao dar luz crias
Perpetuando sementes minguadas
Deixo o cansaço os criar

Sobre tijolos em falso
Nos basta não ter
De línguas e dentes cultivam miséria
Rezam os grandes nos próprios umbigos
Ninando a distancia que pesa

Com os pequeninos
A noite apaga o branco
Puxo destas verdades incoerentes
Faço aliança a impotencia

Da tua lágrima se enxerga o mundo.

Renúncia

















Pertenço ao ventre órfão da saudade
Apenas observo a queda
Angustio curvas da consciente agonia
Alivio acenos e sussurros
Este chão encarde as percepções
Neste chão perambulo meu ócio
Sinto falta do concreto absurdo
Guardo-me íntegro feto do ventre só

Renuncie a negatividade da posse?

Optar tecer folhas nos olhos alheios
Se pensar ausência de outros,
Lhe diria estar pintando novas espécies
Daí rompendo as certezas
Severo em atitudes
A intuição distante:

A solidão explica os versos.

Moradia


Cada dobra do meu corpo tem cheiro de mar
Porque meus ossos estão pintados de vermelho
Ascendo teus olhos
Provocando meus dedos, comendo minha mão com sal
Ajoelho-me diante do altar dos diabos
Dentro da minha boca ele dança

Poderia ser qualquer outro corpo, mas é da tua boca que quero lubrificar teu sono
Uma língua e minha santidade humilhada
Nada mais pedi... que não fosse uma língua
Suplício discreto onde meu corpo pede paz e pede guerra

A cada sussurro o delírio o gozo:
O desejo descontrolado de pintar imagens
Desenho em tua cabeça uma mulher nua arreganhada em seus jardins
Teu fluído canta por todos os meus pêlos
Vasculho com a língua o fluído do outro, e vasculho saídas
A língua queria desenhar ali, completa, escorrendo pelos cantos o gosto
A língua consentiu com o gozo

Devagar, bem devagar entre...
Adentre a única cavidade do grande devaneio
Lubrifico em meus dedos as entidades mais explícitas
Dança em tudo que preciso
Movimentos trêmulos, suados
Após o gozo a sensação perdura
Os músculos tornam-se vazios como as ondas
Teus olhos transam com minha íris
No útero do céu, o brilho escorre pelas coxas
Tua rua é um rio de orgasmos.

Sonoridade


















Estéril rádio estação sem-luz
O teu suor é surdo
E eu já sou feita de espasmos melódicos
Da folha: cantiga
Assobio borboleta, grande festa de girassóis quadrados
Caindo a desaguar sonoridades
Desta música sombra universal

-Parece que se você ouve o canto, é inevitável ir parar no fundo-

Uma marchinha de carnaval: carnavalizando o sumo da vida
Grite. Você não vai ouvir mais nada
Impregnado bloco de frevos das células ciliadas
Dedilhando os coros eufóricos
As partículas propagam quando o canto é por chuvas dançar
A valsa é humana

Preciso de sonoridade
Esta ânsia que troca músicas e tons
Saberei cantarolar descompassos em dó maior
Há de nascer imune quem não souber ouvir

Dos braços que embalam o bloco, em que batida se escuta o tom exato?
Musicalize o óbvio
Corpo-coletivo colhe ativo
Quando ouço aquele tom, os poros se arrepiam.
E canto das suburbanas bêbadas razões insanas

Vendo o ritmo-meu pagamento é dívida
Grandes olhos quando a canção é do povo
O coro sai das casas, leves, pesados e desequilibrados.
Coloquei para fora uma voz grave, queria ter soltado Buarque de sua prisão
Nestes tons- inúmeras possibilidades:
As enzimas criativas do amanhã.

Sacia-me


Início da pintura:

Uma folha costurando os contornos, fruto da colheita poética. Na boca, poléns (dai-nos um pouco mais do vermelho), fuxicos coloridos.
Momentos em que Deus mostra nossas costuras, só pra se ouvir dizer: - Da arte queremos também o verso! Um desses sonolentos, atrevidos, temperados de insanidade.
Todos os pincéis-borrados.
- Pensamos não inspirar.
Escrevemos o que a nós não pertence. (Adentrem na pimenta de nossos verbos mais sarcásticos).

Olhamos para o chão e não suportamos a idéia de ter pés fincados em um branco tão desbotado.
Já estes versos do artista, são sempre errantes. Mas, a arte em si tem formas de nuvens presas. (Soam vôos absurdos).
Diante da arte, nesta roupagem pálida, conformo-me em ser um “nada”.
- Não há injustiça maior que justificar um artista atrofiado.

A arte é umbigo do ventre terra que nos pariu.
-Deixo de interpretar paisagens.Somos apenas o palco da obra.
Abra mão de significados cultos e ocultos. Consagra-se arte em incompreensão calada.
A arte fica exposta na eternidade que sempre reinventamos. Arte exposta: - visitantes de nós mesmos.

Os versos estão entranhados nos dedos. Frio: manifesto-Esculturas indefinidas. –Não compreendemos possíveis olhares.
- Pintamos quando o retratado eclode.
- Decodifique arte. Ânsia do encanto poético-humano.
Todas as artes emergindo das indefinições. Se não vemos o amarelo, tampouco criamos o verde.
Ainda assim, estamos acesos.

Estar vivo é um estado de arte.

O grande artista guarda o sol no sono. E se escreve, escreve no vento.
Doce beijo vira prosa.
A arte, por vezes nos pega no colo, mostrando-nos os grandiosos caminhos subjetivos.
Traduz transcendente em movimentos artísticos no qual nosso espírito pelo infinito dançou.

Arte definida é violação.

A arte grita: - Sacia-me!
O tesão que o outro sente, agrada ou enoja.
A arte ferve: São de palavras que arrepio.
Os poetas sofrem de um tédio aparente, de uma ansiedade criativa.

A arte não poupa papéis. Antes, renova-se em madeira, amor e aço.
Diante de certos olhos, os papéis pouco dizem. Mas, estes poetas escrevem no escuro.
Felizes os que não prevêem nada. Estabelecendo a imprevisibilidade da arte.
A arte rompe as rédeas que não lhe pertencem.

Atemporal. Abraça quem a estiver contemplando.

Por vezes, encurva-se para ninguém ver. Esta que pincelada ganhará a tonalidade única que lhe garante o direito de ser poluída por deuses ferozmente humanos.

- Não nasci para ser entendida. Resmungou a arte.

Já Não Estou


















Indefinida ida
Instigante e confusa
Instantaneamente expelido
A incapacidade dos músculos conduz a expectativas irreais
Programo-me para não amar
Dá-me rotas, pois estou doente de razão
Amei um homem humano
Corro em pedaços enjoados do que restou
A sensação de fuga é desconfortável
Eu já não estou
Permeio a penúltima curva
Sigo sem saída
Nós dois numa queda
Ele não entende minha língua
Além de qualquer caminho há volta
Preparo o imprevisível
Todas as promessas derramadas
Que não me faltem ruas, pois preciso preparar os ânimos...
Amanheci sem conhecer o dia
Encontro-me em despedida
O que ainda me prende?
Nunca me preparo...
Meu amor sobrepõe minha astúcia
Tua bondade é tua loucura
Vou sugar bocas vazias resfriando nossas dores
Segues...
Agora, sei que isso vai passar
Dona de sonoras saudades
Adeus. Me encontra.

Seis Letras


Nosso absurdo correspondendo-se em versos
Transmissão de pensamentos
Uma caligrafia e intenções inconfundíveis
Sabemos que com o corpo, lemos nossas próprias poesias
Brotamos de um tecido cortinado
Temos sono, noite, e estrelas
Temos arte em movimentos poéticos
Germinamos descarados em qualquer cena
Inúmeras linhas tecidas em poros
Escrevemos em fórmulas de desejos incompreendidos
Esta página é um itinerário abusivo
Aqui, inventamos um ócio transgressor
Nos apropriamos de uma literatura renovada
Expelidos das palavras, nossa paisagem é o papel
Temos um vício que nos pertence desde sempre
Seis letras erguendo nova possibilidade
Seis orgasmos em uma oração
Fazemos dos delírios convincentes
Servimos o desejo das palavras
Existe troca em nossos descompassos.

A Lenda dos Doze Orixás


A água descia pela cascata
Oxum consentiu com os versos
Abençoou as vozes embaladas por sua saudação
Águas claras, poeticamente livres e desenfreadas
Oxum sonora, embebedou as pedras
Fez da água doce seu colar amarelo ouro
E a poesia formou-se culto para todos os santos
O percurso foi traçado, a cachoeira beijava o mar
Recebeu toda a água límpida a rainha Iemanjá
Com seu leque obstinado colheu palmas e jasmim para presentear Ossain
Ele brota das terras, forma folhas e matas para dar caça a Oxossi
Imponente deus da caça, portador do chifre de boi, saudava pai Ogum a voz de um grito de guerra:
Ogunyê...
Segurava sua espada entre as mãos
Exu, rei dos búzios desenhava novos versos entre as almas
Nem a febre de Obaluaiê o impediria de dar continuidade a nação poesia, coberto dos pés a cabeça, recebeu a chuva de Oxumaré
Chuva e renovação...
Com o machado nas mãos, deu Xangô a sentença final...
Enquanto houver liberdade de credos e poesia, fará Iansã, deusa das tempestades o amor brotar pela boca
Até a sábia Nanã, mãe da terra não se atreveria a discordar...
A poesia ecoando entre os elementos da natureza fez Oxalá aplaudir de pé os versos livres desta terra embalados por água e poesia.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Prefiro Sangrar


Renuncio o contato
A travessia está aqui
O caminho trouxe a inútil melancolia
Todos os sentimentos foram vencidos
Deixo a saudade criar
Abro mão da Súplica que nos formou
Geramos uma descontinuidade de noites fúteis
Amo sem cabimentos
E minha verdade ultrapassa todos as lágrimas
A poesia rasgou superfície
Não há como voltar aos dias encerrados
Inúmeras palavras que já não conseguem me abraçar
Impulsivamente expelido
Não sei brincar com meus sentidos
O que pertence a mim é a grande vontade de recomeçar
Prefiro sangrar para não perder minhas raízes.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Água e pus


Pinceladas vagas
Uma boca propagando a devastação
Tecidos sujos do teu absurdo
Enjoa-me este gemido desgastado
A mão quer tear
A língua salivando água e pus
Havia um silencio e espadas
Esfrio as dores de teu próprio umbigo pagão
Deixo ironias contestando antigos poemas
Amor que cultua angustias não é amor
Não optei por uma fuga só
Entreguei toda a poeira para que procurasse um novo rio
Nunca me preparo para mais este vício patético
Tua lágrima é surda.

domingo, 30 de agosto de 2009

Descaracterização


Atrás do verso, sustos e grades
Visito sensações desconhecidas
Além da alma, cadeiras vazias
Traduzindo a veia que entope
Acima da casa, uma solene hipocrisia
Livros empilhados deixados para outras vidas
Descaracterização do sorriso
Rasura da tinta
Pés mascarados com foguetes inúteis
Os traços sem nome acariciam o chão
Perceba poros e pés
Cheiro de saudades e ventania.

O palco


Novas estadias, novos palcos
Saem das tocas grandes gavetas, nos papéis duas mãos brancas escrevem:
Dom de hoje: poetisa
Há de se festejar o momento de escrever
Cartazes de um vento guardado
As saias não se escondem, catam as cirandas
Num lance mágico, a música queima por dentro
É cedo. Amanheci com timbres fundindo o corpo
A cena toma a rua
Projeta a luz, o palco grita
Atrizes penetram as veias contaminadas
Nascimento e estupidez de uma interpretação adulterada
Água ardente pra toda cortina desvirginada
Na platéia, olhares sentados
Um vulcão para mesa sacra
Suor para mãos inventadas
Os corpos nadando o desespero de ser água
Cores penduradas em tranças
Desnudos em nuvens e paredes imaginárias
Externo, ilusório e ilimitado.

Agora


A colheita é feita de despedidas
A dança segue livre
O amarelo foi vencido
Gravo no muro um tom vermelho
Quer beijar a noite
Em cada taça a peculiaridade dos olhos
Conversam no escuro presente
O corpo amolece, derrete as recentes intenções
Tudo é agora.

Nova espécie


Pelos ombros, uma nova espécie
Dormiu soletrando no mar variações de poesias
Na nascente do rio o peito seca
Acordou com lençóis costurados aos cabelos
Cúmplices que se equilibram e se rasgam.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Laços


Abrimos as janelas
A terra mistura-se com a nova poesia
Respiro fundo sabendo mais de toda chuva
Minutos atrás poderia ter atravessado todas as palavras
Rasgaria as origens do próprio verso ao inverso
Ainda não ouço, mas sei bem o caminho
Tenho grandes raízes que me fazem dar o pulo
Paraliso as batidas cardíacas da sonora estrofe
As orquestras do peito harmonizam os passos ritmados
Os laços dedilham as notas na pele.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pela Boca


Sempre escutei
Embalo de uma saudade aguda
Entranhado nos dedos, imerso em óleo
Ainda somos dois comportados declínios
Não o culpo, anseio tantos cantos
E não há tempo para esquecer
Um dia, espalhou-se por todo o corpo
Dentro de mim, tuas ondas quebram há milênios
Escorria pelo céu, sob o cais o silencio que nos mediu
Teu amor começou pela boca e ainda é recordação
Existe um passado enterrado nas folhas.

domingo, 23 de agosto de 2009

Recaída
















Só um lugar o define
Estreito, confuso, batizado em seu próprio desastre
Caído, vejo o quanto ainda somos interligados
Habitável, mas nunca habitado
Não é digno esvaziar espaços
Não se condiciona uma vitima reciclável

O sangue dos teus pulsos não esconde minha angustia
Nessa tua fuga branca há uma tristeza que não concordo
Estamos dentro da mesma caixa e teu canto sempre me soa absurdo
Do teu lado, confronto tacos soltos e cortinas velhas
Varanda vazia e salas sem paz
A tua fome é teu ócio e busca das razões pra ser infeliz
Odeio tuas mãozinhas magras que sujam os copos sem beber a água
Dá medo essa tua religião

A cada noite se apaga em toda vela
Desumanizado e desistente
Teu delírio tem sempre a mesma entonação
Condenado a dormir de novo
E a exausta sou eu
Estranho temperar a cura pra tua febre
Pensei em não te ver mais acordar nesta manhã
E se você se apaga, os olhos miram pó

Te esperei dormir ninando cada respiração
Nesta noite, fui platéia de teu pulsar
Canto um inferno parecido
Amanhã, espero acordar com tua voz
A única condição é ser maior que os desvios
Gostaria de abraçar teus conflitos

Poupe a partida
Deixa essa felicidade ensaiada que nunca é
Esqueça as idéias e seja mais humano
Contesto tua conspiração pra dentro
A realidade te pede paz
E durante anos, sem saber sigo teu peito
Perseguindo a fio tuas palavras não ditas
Deito, sumo, te espero acordar
Não procuro tuas faltas meu querido, somente a raiz de tua inundação.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Recolho


















Refúgio de despedidas
Despedida do peito
Nos pés vão abrir outros caminhos
Rotas imaginadas apagadas no fogo
Ardendo em poros vazios
O tempo vai soprar pra fora o que ainda está aberto
Vencida, como se o silencio escutasse meu vazio
Morre em vida o cheiro da madrugada
Derreto todas as intenções cravadas na última lágrima
Não há mais nada a dizer, todos os versos exaustos
O tempo não deveria ser forçado
Recolho meus traços febris.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Carnavalizando


Sem nascimento, segregando de uma estupidez herdada e nas veias saltando um odor alcoolizado
Caio em contorcionismos de corpos virgens e coloridos
Água ardente impregnada

Nas sextas, há um Rio que debocha e celebra todas as noites
E o meu lugar é cá
Ipanema canta pequenina e vão devolver-me ao mar
Preparo as roupas e saio de tropicalista

A casa é quente e eu quero morar na rua
Hoje vou dançar um amor histérico
A sala fica apertada e as almas se fundem
Aqui, o feto gera em um pedaço feminino

Na Lapa, existe um carnaval de saudades
Na roda, um tom exato de todos os batuques juntos
No passo, uma doença-vício ladra de purezas
Hora de brincar de fazer carnaval

Uma noite antiga pedindo para carnavalizar
Asfalto e um escuro sábio
Vibrando a confusão dos copos
Um suor misturado com as horas de uma Central do Brasil

Tenho uma Noélle pra bater tambor e uma Bia pra bater perna
A estampa está no samba das mesas desta noite
Modelo às luzes da Men de Sá
Escolhi como terraço a Pedra da Gávea

Não nego galopes rasantes no chão de uma Avenida chamada Atlântica
Mesmo assim, a sensação plenitude mora no Largo da Carioca
Exalo um cheiro denominado música
Me relaciono com um Rio que causa arrepios.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Alice

Alice suspira a piedade do mundo. Tinha o corpo trêmulo não acostumado a viver. Ela aprendeu a rezar, e agora gosta de pedir.
O calor forma a linha de sua nuca dolorida. Antes de partir, ela fechou bem a porta. Havia uma inquietude morna quando cerrava os olhos. Um ciclo enjoado de sal e água.
A cama ainda desfeita e ela não sentia saudades. Nos corpos e entranhas, havia uma falta de transparência aguda. As mãos se repeliam como instrumentos errados. Nua, cobria-se da linguagem dos olhos. Uma muralha capaz de sorrir de dentro. Não compreendia muito das coisas, acredita ser o destino um evento predestinado. E não havia lugar melhor, todas as suas construções eram condenadas e abandonadas.

-E quando você voltar vai me encontrar decaída, sem sal no mar do corpo, sem vapor, sem personagens. Os dedos gelados e úmidos, insone, gritando por algum nome. Talvez assim, acalmasse essa febre. Seria tudo pra você neste abrigo enquanto meu dia falece.
Sou uma escravidão.Uma lágrima estéril.
Aborto meus gritos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Estático














Tão inesperado, e eu descobria todo meu esforço
Gostaria de ninar sua apatia
Teu sono canta minha fúria
Estático, sobrevivendo ao jejum de almas
Queria mesmo dormir em teu sorriso
A canção nina, mas não te absorve
Esta filosofia te sufoca
Queria que fosses faminto de tu mesmo
E que gritasse a loucura pra fora
Quando você volta, nossas conversas são fortes, profundas e verdadeiras
Uma cumplicidade, um carinho absoluto
Então, te perco todos os dias para morte-vida em leito
Sempre vou reparar teu melhor
Tem dias que sinto ter te gerado em meu ventre
Dissolvo de uma paciência por vezes quase nula
Nem relógio, nem íris, nem cor
Teu amor é surdo
Vegeta como órfão
Te perco para silencio e agonia
Observo tua queda sobrando-me passos
Queria ser tua sombra pra esconder tuas dores
Este teu chão agnóstico
Ultrapassa os conceitos imaginados
Alucinógeno, interrompido
Dos meus bolsos seguem todos os dias as tentativas do teu despejo
Desde ontem, minha alma quer reconhecê-lo
Em toda fluidez há volta
E eu aqui gritando que há mais vida além de teus devaneios.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nossa Casa















Plantações secas nos corredores
Janelas com culpas antigas
Portas e antigos quartos fechados
O chão continua estranho
Onde ficam guardadas suas velhas anotações?
A todo o momento espaços vazios no ar
Conheci os primeiros livros
Mas os olhos marejados só queriam de volta frestas e versos
Adiante, uma pequena caixa
Onde ficaram perdidos seus tremores
Naquela varanda, fez morada e oração
Os passos arrastados trazem primárias sensações
Em nossa casa aprendi a ascender às luzes
Mudar os móveis, deixar parir a tua luta impedida
Ontem, nossa casa te abraçou sem forças
Esta casa, ainda resgata teus pedaços sobre nós.

Izaías













Você está nos meus espelhos
Deixou toda essa herança pintando mais cores
Não existiram despedidas e você cresceu em minha face
Meu sangue conversa com tuas veias através da imagem
Tentei partilhar do que te corta
Mas seu sorriso se esconde na falta de cor
Sem você, não posso voltar pra casa
As mãos perdidas ficam só nas lembranças
Sei que está sob meus punhos
Por isso, algo sai do papel em busca constante
O céu não sabe bem quando diz
Em dor viramos perturbação natural
Um sorriso de infância e há tempos não faz sorrir minha criança
Deixou xícaras limpas de um café que nunca tomou
Minha nostalgia procura por tua balsa
Em nosso destino, qual o medo?
É que a casa continua fria querido pai
Muitas pessoas, mas a casa continua oca
Não sei lidar com novas espécies de amor
Partidas só realçam sentimentos eternos
Com os pés tateio este mesmo chão
Sentem falta do teu carinho
Anos passados, e a saudade ainda é o caminho.

sábado, 8 de agosto de 2009

Danço










A rua é minha
Buzina e queima todo o gosto
A dança bruta designa bênçãos
Liberta e consagra a discordância das palavras
Vulgar e de conotação sexual
O corpo não quer descansar
Devasta sem repouso
Cheiro, pele e óticas distorcidas
As cicatrizes recentes embalam novos passos
A pista provoca meus pés
Desejei um licor de café pra beber com ânsia inativa
Ainda não sei me apropriar do que não possuo
No embalo enérgico, construo religião
Me transporto em pedaços soltos
Molho os pés em previsões não aceitas
Danço como se já não houvesse passo
A indecência é minha bandeira
Leve, natural e absurda.