quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sacia-me


Início da pintura:

Uma folha costurando os contornos, fruto da colheita poética. Na boca, poléns (dai-nos um pouco mais do vermelho), fuxicos coloridos.
Momentos em que Deus mostra nossas costuras, só pra se ouvir dizer: - Da arte queremos também o verso! Um desses sonolentos, atrevidos, temperados de insanidade.
Todos os pincéis-borrados.
- Pensamos não inspirar.
Escrevemos o que a nós não pertence. (Adentrem na pimenta de nossos verbos mais sarcásticos).

Olhamos para o chão e não suportamos a idéia de ter pés fincados em um branco tão desbotado.
Já estes versos do artista, são sempre errantes. Mas, a arte em si tem formas de nuvens presas. (Soam vôos absurdos).
Diante da arte, nesta roupagem pálida, conformo-me em ser um “nada”.
- Não há injustiça maior que justificar um artista atrofiado.

A arte é umbigo do ventre terra que nos pariu.
-Deixo de interpretar paisagens.Somos apenas o palco da obra.
Abra mão de significados cultos e ocultos. Consagra-se arte em incompreensão calada.
A arte fica exposta na eternidade que sempre reinventamos. Arte exposta: - visitantes de nós mesmos.

Os versos estão entranhados nos dedos. Frio: manifesto-Esculturas indefinidas. –Não compreendemos possíveis olhares.
- Pintamos quando o retratado eclode.
- Decodifique arte. Ânsia do encanto poético-humano.
Todas as artes emergindo das indefinições. Se não vemos o amarelo, tampouco criamos o verde.
Ainda assim, estamos acesos.

Estar vivo é um estado de arte.

O grande artista guarda o sol no sono. E se escreve, escreve no vento.
Doce beijo vira prosa.
A arte, por vezes nos pega no colo, mostrando-nos os grandiosos caminhos subjetivos.
Traduz transcendente em movimentos artísticos no qual nosso espírito pelo infinito dançou.

Arte definida é violação.

A arte grita: - Sacia-me!
O tesão que o outro sente, agrada ou enoja.
A arte ferve: São de palavras que arrepio.
Os poetas sofrem de um tédio aparente, de uma ansiedade criativa.

A arte não poupa papéis. Antes, renova-se em madeira, amor e aço.
Diante de certos olhos, os papéis pouco dizem. Mas, estes poetas escrevem no escuro.
Felizes os que não prevêem nada. Estabelecendo a imprevisibilidade da arte.
A arte rompe as rédeas que não lhe pertencem.

Atemporal. Abraça quem a estiver contemplando.

Por vezes, encurva-se para ninguém ver. Esta que pincelada ganhará a tonalidade única que lhe garante o direito de ser poluída por deuses ferozmente humanos.

- Não nasci para ser entendida. Resmungou a arte.