segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


Quase diabo. Bordado no barro. Minha besta interroga a rainha louca. Somos cartas de baralho que se afogam. Meu útero vazio no corredor das “minas”. Há tanta pontualidade neste nosso pedaço opaco de sofrimento que silenciosamente deitamos no epicentro de uma cova funda. As rodas da fúria giram enquanto meus versos mastigam o mensageiro errado. Na folha assino a poesia da puta a julgar carnes assustadas no gozo sideral de uma guitarra.
Deus- impune. Minha tatuagem convertendo em verbos as dobras do equivoco. 


domingo, 13 de janeiro de 2013


Proponho:
 Assinar o poema com as mãos calmas. Avançar nos meses. Sacudir os ponteiros, “descalendarizar” nossos aniversários. Caducar as horas até amanhecer nublado.

Prometo:
Curar os mitos cotidianos. Ausentar o ódio das memórias. Esvaziar tua mágoa com a paz que orbita em meu sono.
...

Parábola:
Nossas borboletas batendo asas na engrenagem de horrores que articulamos. Casei-me e pago minhas dívidas. Tua pontaria atropelava meu livre arbítrio e a casa transformou-se em uma ilha.

Cotidiano:
Bebemos café. Você acendeu outro cigarro e eu pedi um jornal. Nosso país tão pequeno e não me chegam mais notícias. Preciso saber sobre a política e o que fizeram da poesia desde a última guerra. Você abate duas formigas passantes em sua mesa./ Você, avulsa ao fundo do copo./ Você, no ponto da pistola...

Domingo:
Efêmero. Tua agulha em minhas pernas. Nossos farrapos numa terra estranha. O corredor sinalizando teu crânio de bobagens amargas. Varanda cercada por soldados vigilantes.
(Teu medo me pesa tanto...)

Sem Deus, incubo meus assombros infanto-pueris. Nove meses/ ao meio dia/ para este corte.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013


Somos animais sobrevivendo no ritmo perdido das fotografias. Tenho medo de olhar teus olhos e ver teus quinze anos Sofia. Tua cegueira e este ciúme destruíram tudo na casa. Tuas pernas dissimuladas blasfemaram nosso tempo e por isso desejei tanto o abismo. Esbarramo-nos em silencio nos cômodos, por quinze vezes renegamos o perdão. Pouco a pouco, a paixão esvaziou sua substancia, deixamos pedaços na sala e nos fragmentos da pupila. Denunciamos nossos nervos em revoluções individuais. Na casa, avançam os muros do império exausto. Proporções gigantescas do nosso combate. Entornamos nossos peixes com a mágoa desta guerra. Dos telhados, ouvem nossos gritos... Abrimos as gavetas de partida.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Havia um bocadinho de sorte dentro do horizonte que cintilava no verso. Nem havia neblina, já que a paisagem pontual como o verão se encarregou de nos brindar. Os meus olhos mais atentos souberam buscar os teus pra beijar. Daqui de cima, via o mar mergulhar de manso nos teus ombros. As muralhas cariocas escaladas pelo elástico que prende teus cachinhos. A geografia pertinente ao teu sorriso de fada. Tuas mãos suavam a água de toda baía de Guanabara. 
Descubro a vocação de pousar teimosamente em tua companhia. Nossos passos materializando o território do corpo. A bússola, desarmada, dançou nas fronteiras das veias
...
(até que, janeiro descubra nossos segredos).