quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Versos Dopados de Barros














Meus lares vencidos escapam flutuantes
Formando novos mapas
Teu corpo de ossos encantados pescam relíquias-caveiras
E nos escombros de meu ventre, urubus declamam poesias lindas
Em meu quadril, fitas de cetim sincronizadas em soldados tontos e pássaros sonsos
Drogo-me dum ar delinquente com bombas e atentados terroristas libertinos

Me viro, sou minhas costas, estou num pedaço de verso errado
Por todos os lados sou tua imagem adestrada
E em meu corpo chovem ilusões de canhões atrofiados

Minha condição desconfia do resgate do pouco que já fiz
Minha parte boa colocorá no mundo mosaicos nobres e sabotagens de alegria
Provei da maldade colhida em correntes de ciclo
Findo-me ao produzir cadáveres identicos a diabólicos engravatados
Homens bala entrando pelo armário de um céu lacrado
E o caos legitimado é meu.

Coroa do Diabo

















Há tempos não visitava este lugar


Espécie maluca dum ponto de partida gasto e enferrujado


Eis que mastigo minha hóstia como num lugar sagrado-poético


Minha cidade é uma tela e os moradores são dedos


Minha respiração dissipa em explosões de letras cotidianas


Moradia de temores novos em antigos ensaios


Em mim, cambalhotas de espaços e abraços que já não sabem a idade que tenho...


Troco versos e farpas com anjos por desconhecer caretas e dragões da eternidade


Sei bem das linhas de chegada


Minhas poesias são constelações de homens embaraçados


E minhas estrofes guardam as chaves que equilibram esta guerra.

Vermelho Caótico


Em cada fio vermelho pesco vulcões nos cabelos do teu fogo

Observo penduradas fitas coloridas de desejo

Nas pontas de tua raíz, frutos de árvores que já me pertenciam antes

Em teus traços, a melancolia íntima de meus acordes

Todos os fios em deslizes de mágicas constatações

Do teu couro encomendei a maldade de um caótico milagreiro

Quando na falta de maquiagens acesas encontramos em alto mar

Imperfeições de não saber voltando para as mesmas águas repartidas e achadas.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Reencontro



















Minha boca repousava sob a sua construindo pequenas moradas entre as línguas entrelaçadas. E o beijo firmava a ponte entre nossos sussurros e vontades.
Gostava de acariciar seus ombros enquanto ela estava deitada de costas sob a cama, então a surpreendia com carícias na nuca e cabelos. E não há nada que supere seu rosto em meus ombros...
Não existia melhor perfume do que o que exalava em seu pescoço... Um misto de todas as flores com sua identidade-mulher. Seu cheiro nos uniu como na primeira vez em que se aproximou e estremeci...
Estremeci sem saber quem ali eu era e o porque minha boca ressecava...

...

Recordo-me do dia em que estávamos na sala e ela veio me mostrar algo na tela do computador, talvez nem mesmo ela se recorde, mas ela aproximou-se de mim enquanto eu ainda estava sentada.Seus braços quase me enlaçaram e me veio imediatamente aquele perfume... Indescritível...
Confesso ter me sentido suja e enceguerada por sua pele, desejando senti-la cada vez mais perto, sem saber o motivo, apenas desejando estar próxima ao seu delicado colo...
Ela era um sonho...

Dias passaram e eu decorei aquele perfume como se fosse uma estudante aplicada, reconhecendo-o em qualquer outra mulher que passasse na rua. Vez por outra, quando fechava os olhos me vinha à mente aquele suave toque floral, e talvez naqueles mesmos instantes ela já tivesse passado a fazer parte de mim...
E foi preciso pouco tempo para entender aquilo que me tomava, me arrebatando por completo sem deixar rastros do que eu era antes.

Eu que amava outro homem, e ela que na minha visão sempre esteve nas mãos de um cafajeste... Nós que durante anos fomos amigas sem ao menos imaginar o que nos aguardava a frente...
Talvez, à frente de nosso tempo, mas principalmente além de qualquer explicação racional ou razoável sobre aquela noite...

Naquela noite, os deuses nos deram corpos livres e mentes despidas de pecado ou pudor...
Os copos cheios, amigos em volta, todos rindo sobre a banalidade da vida em um quarto pequeno e abafado...
A noite consumia-se entre vozes e risadas, os copos enchiam-se e esvaziavam-se na efemeridade de nossa juventude...
Até que numa fração do tempo, as risadas cessaram e o quarto nos brindou a sós...
Deitadas no chão, quietas e compenetradas em algo que nenhuma de nós saberia decifrar, ficamos caladas até que sua boca beijou de leve meu rosto, seguindo em pequenos beijos em direção a minha boca...
Seus lábios recostaram aos meus como num reencontro inesperado com sabor de canção...
Tive a sensação de ouvir a cada beijo poesias intermináveis dos mais consagrados poetas, e por essa ânsia talvez tenhamos ficado ali por horas a fio num enlace cúmplice a harmônico.
Era como se, nossas vidas do começo ao fim estivessem reduzidas a esperar por aquele momento.E quanto a mim, só pude crer que nos conhecemos e estivemos juntas como amigas por tanto tempo para que aquela noite chegasse...
Senti-me envolta em uma magia sublime... E era tudo real...
Quando penso sobre ela, entendo que ela carrega consigo uma inocência perdida em sua voz engraçada, em seus gestos desconsertados e afobados, em seu andar desajeitado e em suas falas improvisadas e juvenis.
Sou capaz de amar nela tudo aquilo que ela mesma rejeita, pois meu encantamento emanou de cada deslize, cada lance perdido.
Gosto quando ela cede aos meus caprichos me fazendo sentir antiquada por parecer uma pedinte preguiçosa. Gosto de vê-la contrariada e de fazê-la rir de minhas ironias por vezes mal intencionadas.Gosto de vê-la reclamando das injustiças que fazem com ela seja em casa ou no trabalho porque são nesses momentos em que vejo toda a força dela pulsar.
Gosto dela ao natural falando de coisas que eu sei que ela não falaria pra mais ninguém.
Gosto de ouvi-la dizendo coisas que acredita e de saber o quanto ela acredita em nós, como quando perdemos o tempo falando de nossa futura casa decorada em estilo retrô.Gosto de sonhar ao lado dela...Beijá-la... Fazer amor docemente ou transar apressadamente antes que alguém entre no quarto... Gosto quando terminamos de fazer amor e ela diz que me ama e de tanto amor, não sei separar quem ela é e quem sou eu, pois somos apenas uma.
E por esses motivos, depois daquela noite entranhamos uma na alma da outra sem pedir permissão ou consentimento a deuses, humanos ou mesmo nós.
Não havia pecado, apenas à vontade de estar juntas sufocando nossas próprias prisões.

Os dias que passo ao lado dela são sempre incrivelmente especiais...Ela toma o que de melhor há em mim e me devolve ao mundo sempre mais leve e serena.
Em nossa historia, passamos vez por outra por situações inusitadas, difíceis e decisivas, mas seguimos como duas loucas desvairadas na certeza do que nos une.
Nada nos tira de nós e de nosso rumo, mesmo quando perdemos o rumo quando estamos a sós.

Às vezes, quando estamos deitadas, tenho a sensação de ler frases inteiras em seus olhos porque mora nela uma franqueza jamais vista por mim antes, e é ali que quero ficar.
Naquela imaturidade contraditoriamente sábia, dentro daqueles grandes olhos sinceros, naquelas mãos tímidas e em sua boca molhada.Minha casa é o que pulsa nela.Minha certeza tem o nome dela.
Mudamos nossos planos paralelos por causa daquela noite inesperada... E tenho calafrios só de pensar que se não estivéssemos juntas naquele dia, talvez não teríamos outra chance...
Nossa historia se lapida a cada novo beijo, a cada novo abraço e nossas brigas e entrega mútua, na amplidão do que ainda está por vir, desbravando rotas, rótulos alheios e a moral mal amada dos outros.
Seguimos simplesmente livres, por vezes incompreendidas, mas sempre plenas e nos amando mais e mais...Às vezes me pergunto se seria possível amar tanto assim uma pessoa, mas quando a vejo descontraída, me beijando ou apenas ao meu lado encontro essa e todas as outras respostas para minha vida inteira.

Te amo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Marginal


















“A teus pés”, marginais correndo por dentro de nossos conflitos...“Inéditos e dispersos” descobrindo o nome que tem

A teu Rio que espeta liberdade e inventa a referencia das provas

Das tuas “Luvas de pelica” que tão bem marcam o inferno de tua passagem

Da cara fria que brota larva poesia
E assume plumas duma geração “mimeografo”

Da puta que sangra com versos nos dentes
E “pousa” nua sob qualquer lente gratuita
Poeta que ninava e dormia com marginais
Bagunçava cabelos, seios, coxas e sexos
Trepava com as ruas e praças públicas
Gozava na ereção da arte barata
E excitava o órgão poético de todos sedentos
Marginal integrante da quadrilha de Leminski, Cascaso e Torquato
Sob o chão do povo, abrindo antigas prisões
Com pés, punhos e versos revoltados
Jogando fora a sobra da roupa domesticada
Cortando e travando a doença
Recuperando o nojo que desbota a elitização
Abolindo a poesia
Jogando na rua, pro povo, pra todos!
Unificando arte e revoluções
Queimando o censor anestesiado dos que vendem sua arte
Eu-poeta
Versos-para túmulo incerto
Ingênua-desavergonhada
Morrendo além de escamas nas palavras que há
Ânus melado e promiscuidade verbal
Transgressora sem teto
Vestida de militante para pisar em nova arte
Cuspida na cara dos amantes lucrativos
Gozo compartilhado por poetas, atores, miseráveis e irmãos...Vida longa a marginalidade dos poetas!


{Ana Cristina César foi uma das pioneiras do movimento de literatura marginal, participando da "geração mimeografo" contra a elitização literária e ao lado de outros grandes artistas marginais da década de 70. Nasceu e morreu para poesia do povo, cometendo suicídio em 1983.}

segunda-feira, 5 de julho de 2010


















Concentrei meus olhos como dois viajantes em minhas mãos brancas. Brancas e não transparentes como estes dois olhos cafajestes que me fazem gostar mais de poesia do que da verdade, por isso minto e invento em miudezas infladas de outras histórias.
Sou bem capaz de alimentar minha vaidade balofa com versos geniais, intensos, belos, mas pouco críveis só para manter meu esforço sobre-humano de não fazer parte da fúria insossa desta realidade tímida e cinza.
E lá vou eu, dando continuidade como uma puta literária, dando vida sendo que já não sou eu o que era no início do texto, no exato momento egoísta em que me ocupo de mim mesma e viro um aspirador em escala humana que suga os outros, até que eu não consiga segurar nem o que guardei em meus depósitos virtuais.
Em minha próxima inspiração autodestrutiva serei um inseto, um inseto absolutamente integrado aos seus atributos, serei menor, mesquinha e discreta, estarei em uma caixa, no prato e convicta do destino de ser apenas inseto. Entre uma e outra coisa estarei cambaleando e firme contra o chão, aceitarei a condição de que fatalmente serei eu e não necessariamente precisarei estar acompanhada.
Eu serei pisoteada com gosto entre o papel que agora hospeda meus versos repetidos. Juro.
E se eu for, é só o começo de minha lucidez/manifesto/patética e como herança estará meu novo conceito de começo: “Eu vos deixo nada”.
Mas sou obrigada a não me condenar porque sou de carne, osso e gosto de sabonete, daqueles que escorregam e se sabotam até autorizar pra si, a distancia necessária de mim mesma.
E por conta dessa minha perdição, penduro minha covardia em um varal provisório até me convencer de que meus erros têm um peso invisível.
E por fim, este foi o trabalho que me foi entregue, dizer tantas palavras e só ter voz quando tento lhe tocar...As palavras estão sempre tão impregnadas de mim que já sei dançar com o veneno repousando em meus dedos.

Este é o pavor criando o movimento de corte da minha loucura, é quando consigo falar às claras que não é bonito nem muito menos poético magoar pessoas, porque amar é ser louco de tudo em todas as freqüências caminhadas como quando peço perdão a um Deus que não existe por meus pecados e ele me responde que eu preciso esquecer que é só maldade.

Agonia. Criar no estomago palavras que se cruzam brevemente e se apaixonam como sementes vivas consumidas pela chuva de quando você chorou pra eu beber dos teus olhos em uma taça sem dignidade.
De todas as minhas desgraças, tenho em você todas as respostas inventadas. Por isso te amo em fúria e mágica até tua boca me alcançar para ungir nosso milagre.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sobre Pretextos Divinos





Tua mentira mundana
Numa só pose
Um gosto de sal
E não te falta mais nada
Teus olhos vermelhos
Vagando como loucos
Nesta angústia casual
...


No abismo, todos os silêncios do corpo reunidos neste circulo caótico da força débil que já não sabe te abraçar. Tua língua esticada expandindo minha vontade em milhões de segredos...
Você... Traços, telas e tudo...
Em minha cabeça, poemas desconhecidos que em algum lance do teu beijo não percebia a força que o criava. E em teu corpo, minha vaidade a apodrecer no limbo... Sei esfregar como ninguém minha carne no sumo de outras bocas. Era permitido entre nós, como num acordo o absurdo entre desgosto e nervos.
E sobre tu, meu amor... Ninguém te soube habitar de olhos tão fechados quanto os meus. Vez por outra, meu corpo oscilava em dúvida, mas sempre a leio em meio à escuridão feito um deus poente, talvez por isso, despenque por baixo de minhas saias um espelho indecente que reflita um Deus maior a me tocar cada vez mais rápido e tu, como rosa aberta a alternar o suor em movimentos lentos. E pelo gozo e delírio, até deuses tem de aprender a recompor a moral que os escora.
Nosso gozo minha pequena, tem gosto de enxofre que queima sorrindo livros sagrados e orações sem pecado. Meu terço são teu dedos que fico a beijar e contar como em reza única, teu colo é meu altar, em que mergulho a face e desabo em lágrimas, tua boca minha bíblia onde a fé para vida renova-se a cada novo beijo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Foi preciso
Subir em teu pescoço
Como um bicho
Perseguir
Tua respiração vagante
Vibrar
Um silencio intranqüilo
Empurrar e deslizar
Até sangrar
Teu delicado corpo
Para construir
A pintura
De meus cílios
Cobertos de lágrimas.
Em você
A marca
Da minha passagem
No maior espaço
A coisa pequena
Que sou
E se voltar
A tua presença
Indispensável em mim
Saberia que até o amor
Enganado
Pela malícia dos olhos
Apaixonou-se
No ponto zero
Das tuas vistas
Enraizadas
No menor espaço
De nós.
Pelo tempo
Redenção dos homens
Heróis magros
No cosmos
Parceria escolhida
Por deuses..
Eles, tolos
Santificando o desdobramento
Da morte.
Em meio à carne
Um golpe
Fatiado de versos
Meu rosto
Templo de teu pincel
Golpe de sorte
Entre
O verbo e o medo.
Não há
Explicação
Em meus ombros
Que deste tato
Não revelem
O calor
Das tuas pernas brancas.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

















Em seus olhos, torres de saudade
Meu sexo em nuvens brincando com possibilidades...
Pobres meses céticos desequilibrando em horóscopos aniquilados
Ao invés de hierarquia para o amor, doses sarcásticas de vaidade
E já pecando, minhas formas sopram a rigidez da cruz exposta
No peito, os batimentos vagando sem propósito



(Minha inverdade dispersa em estações)



Uma poeira com exata textura pinta em cor sépia a falta dele
Enquanto deslizes me trazem a inesperada presença dela
Espetáculo costurado ao real...
Meus ímpetos encomendados por teu nome.

domingo, 16 de maio de 2010

Inventário Das Mãos
















Minhas mãos serpentes gostam de sentir sede
Engolem o fluído de tuas primeiras migalhas
Ao longe, os troncos são pequenos indigentes
Fundindo os dedos de uma saudade pintada de opaco
Meu imaginário propaga raízes
Elementos lúcidos cozendo teus nervos
Esperam por mero acaso teu encontro
...
Na lama imperceptível há o desprezo da identidade
Infinitamente em prece para cruzar minhas veias.

domingo, 9 de maio de 2010














Por trás das mãos,
Dados e combinações
Damas de copas encontrando-se no submundo
Batalha sob a mesa antiga
Cartas/morte saltam dos dedos mumificados

Minhas cartas disfarçando tuas jogadas medíocres
Cartas, que tu ingênuo chama de estado atroz...

Parecem-me erros de um estado delinqüente
Quando jogam as cartas e a poeira me sobe aos poros
Os homens na mesa não sabiam o que havia atrás das costas
Esqueceram que lá havia uma revolta guardada por um triz

Colei as cartas com a língua
Sem identificar se nelas moravam versos ou acrobacias de naipes
Nas mãos, um isqueiro queimando tuas jogadas de mestre
Nenhum valete foi poupado...

Este jogo tem outro enredo, um ninar sombrio
Implorando partidas e um punhado de verdade.

terça-feira, 4 de maio de 2010



















No preto e branco dos vícios
A boca tem um caso,
Nas ladeiras das bochechas
Excitam a repugnância
Na luz que o cigarro acende,
Embaraçam da fumaça de outro trago
Na arquitetura dos lábios vermelhos,
O sopro é ventania e calor
A mesma fumaça soa como presságio
Gozando nas mãos que lentamente envenenam
Em baforadas dos zodíacos
Chama ingênua...
Arde e alimenta meu dragão.

sábado, 1 de maio de 2010

Do que escorre no Atlântico















Até que o mar desconstrua o tempo
Simples e pleno até a ponta
De meu livramento
Pacífico

Até que meus versos exóticos
Deserdem as conchas
De teu passado
Índico

Quando essas poesias diluídas
Em sal e neve
Arrepiarem o diabo de teus pêlos
Árticos

Quando as águas formarem
Taças de sucos gástricos
E os garçons lhes servirem em vaginas
De oceanos glaciais Antárticos

Mesmo que ondas sejam ocas
Escondidas em marolas
De bebidas alucinógenas e poças quentes
Denominarei meu Atlântico:
...

Marés em lágrimas suicidas.


Poesia feita para o blog: http://ilusionistasdoverbo.blogspot.com/

segunda-feira, 26 de abril de 2010



















Em menos de um segundo,
Dividimos nossas vontades
Submersas no álcool do vento
As luzes do quarto apagaram-se
Com seus mitos e fardos
E nossas almas se esfregando de desejo...
Existe uma mensagem na tua pele
Que impede meus versos de empedrar...
É quando descubro o aroma das horas de tuas mãos
É quando nosso amor troca músicas e olhares suados
E essa tua boca/minha a ser a causadora de arrepios novos
Sensação legítima de mais outra madrugada febril
Lamento tua falta em meu vazio altamente escavado
Viro peregrina de tuas fotos/rastros/restos
E do que me sobra, jorra a imagem serpentina da solidão
Apago novamente a luz
Dormindo em um arcaico romantismo
Sigo bêbada e prepotente poetisa.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

















Resto-me ao chão de outras vidas
Gigante esfinge em pálida ressurreição
Em sua forma, tudo é sombra
Projeto o movimento ígneo desta casa
E o ouro debochado a nadar por cima dos móveis.











Embevecidas folhas
Pedaços tortos de natureza
Ventilando por entre as curvas esféricas
Preces necessárias do esquecimento

Placenta aos navegantes
Lamento no interior dos sonhos
Gradual noção
Malas no diálogo do silencio

Tentativas de trancar o peito
A coluna do lugarejo
Finda em frustração
Areia fofa do meu caos

O segredo do mundo em porções doentes
Insetos coagidos embaixo de pontes
Vou-me na hora que avisa
O amor pede moradia

Insetos carnavalescos
Saem voando de meu pescoço
E esta constante despedida
Na textura de teu caminho

As traças dormem
Procurando a origem do devaneio
É cedo...
Enquanto vida.











A leveza sobrevive da paz do outro lado da rua
Do outro lado, nossos opostos traduzindo templos
Estas amarras de branco sopram um cordão de vida
Quanto a mim, me casaria com teu mundo frio
Celebraria todas as esperas em solstícios impressos em minhas costas
Aceito as mãos gigantes de toda hipocrisia.












Lá dentro, sorrisos abertos
Quero ver de fora em teus muros doentes
Dentro: Um barro inútil
Fora: Tuas mãos dançam
Deixe essa canção inflamada
Vou sentir de perto teu peso
Até os crimes precisam de movimento
Pelas frestas, os olhos tem fome de voar.










Evolução simbiótica
Fingimento transportado entre os dedos
Espetáculo sucumbindo a poesia
Loucura real
Farsa para platéia
Poros fantásticos sem identidade
Telepaticamente fluem as batidas de outra vida.













Deslizes entre a ponte e o passado
Pernas curtas sustentam a subida dos sonhos
Emaranhados adormecidos em vários corpos
Atados como lamparinas do medo
Adestrados como correntes inversas
Suspensos em meus pêlos sujos e imorais

Atmosferas não lapidadas
Instalando a dimensão maior
Somos todos máquinas, presos em um desregramento interno
Tudo escuro já que somos ligados em fios dissimulados
Terra infértil de latas e bronze
Meus bicos desaparecem, azedo húmus que dita a subida.













Imerso em um vermelho trancado
Conectando troncos e membros
Sugando a fome do outro
Visitando qualquer sentido enquanto todos são figurados

O lodo de teu corpo rejeita este espaço violado
A natureza vigiada em cores desinventadas
Tuas plantas acordam em mim alucinógenas
Mostrando-me o teu vermelho querida

Reparto em gramas a ausência da lei que te condena
Tuas flores infestadas de submundos
Chás de sensações ambíguas
Vazio visível para dopar artifícios

Bebo desta tontura entranhada
Cuspo possibilidades lisérgicas
Teu jardim embriagado
Meu suor trôpego.














Mordo o pão não fermentado de tua missa
A hóstia é um pênis macio
Jorra em uma ejaculação fétida
Meu orgasmo morreu de uma virgindade desnutrida
Dentro do cálice, duas mulheres confiscadas por padres
Imagens sagradas de frades...
Tediosas cortinas para o pecado
O sangue em terços e escombros
Minha religião goza
Meu sangue melado em tua vulva
Minhas plantações mancham de sêmen
A língua saliva no botão da tua batina
Minha pernas latejando de desejo
Teu modo de ver é turvo
Em tua pele flácida mora um Deus intransigente.

domingo, 14 de março de 2010

Sobre Composições frustradas

Teus pedaços editados em partituras encruzilhadas
Num modelo de letras e corpos
Por mero acaso, dedilhei tuas notas de nova estrada
Pisei em meus relógios para anunciar um amor imune
Teu submundo é um passaporte de ausências acesas
Congelando os versos exóticos de nossas antigas rotas
Nossa poesia não precisa gritar para ser grandiosa
Ela implode e dorme... Quieta e profunda
Já tivemos chaves para abrir beijos e melodias
E todo resto foi espera
Quem compõe a música, hoje tem versos alongados de dor
Éramos dois espaços abertos de colunas e notas intransponíveis.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Divino
















Os versos abrem-se como um rio
Tiram as roupas em movimentos violentos
A vagina enrolada em lençóis e cálices
Melada, promovendo a ejaculação desta estrofe poética
Sêmens entranhados na boca de escritoras fracassadas
Tudo mais é disfarce
Tudo mais é gula navalhando os pecados do corpo
Navalha para submissão sexual
Os santos confiscam o gozo de órgãos apedrejados
Enquanto deuses penetram dentro de meu salão
Galopes misericordiosos trepando com o tempo divino
A oração do criador é orgasmo múltiplo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Procurando Teu Choro

Teu abraço
Tapete mágico
Um começo e nossa poeira
A cabeça dança procurando teu choro

As palavras descobriram minha tolice muda e esgoto assim todos os meus versos pálidos gritando mais um poema.
Teus olhos molhados contando nossos segredos enfurecidos e eu calada, debruçada na estupidez de meu desdém.
Esbarrei em tuas mãos apertando minha falta de mapas. Desenhei no escuro teu retrato parado. Um pouco mais e este quase vazio confessaria estar também morrendo.
Diante de nossa realidade, apelei para o desespero dos covardes, alimentei minha doença na ambigüidade do medo.
E era enquanto eu suava frio que tua mágoa crescia feito chaga em minha pele. Por isso, marco as passagens das tuas chagas com longos pedidos de desculpa.
Teu perdão desequilibra em minha poesia e pesa no desconforto de minha vaidade.
E tudo que sei é que tua presença leva algo de mim que não sei, é como se cada ato repentino tomasse a memória de tudo que houvesse outrora em mim.

Em plena fração
Tua voz serena
Em meiga forma
E eu preciso
Das tuas farpas
Que sangram
No canto da minha boca

Um dia, nossos olhos como coisa viva fecharão sob o caos deste soluço mais grave e não será mais possível sentar em colo indeciso. Ninguém poderá prender nosso pulso latejante.Não há desespero em nossas faíscas caladas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobre o Sujo e o Mal Lavado

Inventaria uma condição
Em que eu pudesse
Limpar tua sujeira
Esvaziar os copos

Vasculhando teus escombros
Feito uma serviçal
Recuperando este nojo
Que vibra e lateja

Trocando tua roupa
Lavando a última ruga
Claustrófobica em bolos azedos
Em vícios asmáticos

Andando nos limites
Desta poesia barata
E tu me ofereces
Os arames e farpas

E diz-me dos teoremas
De uma serviçal ingrata
Existia uma corrupção
Em cada órgão do teu corpo

Das janelas do teu quarto
Abafado e viscoso
Respirei no trânsito das paredes
E nem nossa sede construiu.
(Poema feito para o blog: http://ilusionistasdoverbo.blogspot.com/ )

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Morte é o conto mais perverso
Algum motivo e o senhor do tempo enxugando sob o ar
Aguando as plantas em calçadas funerárias
E todos os homens saberiam das cinzas de um luto absurdo
Enquanto isso, um cheiro mórbido sem destino
Um vazio em dores abertas
Morte costurada a própria pele
Um corpo esquecido dando verso à infelicidade
Ali, vivia a foto apagada da mulher da década de 30
E a bandeja do homem tímido de sorriso único
Cá dentro da alma, a pausa forçada da memória
A espera de tinta que desaparece dentro dos cílios-tempo
Um suco-sangue escorrendo nos livros da criança de colo
Navalhando as intenções das feridas limpas
Aguardam os que partiram com cabelos calmos
O que ainda inibe está miséria-vida de fazer da eternidade seu enredo?
Talvez, qualquer tipo de pobreza que faça da imortalidade vaso morto
Um ninar sombrio despejando sob pescoços o tempo findado que Deus avisa
E a morte faz de suas janelas portas revoltadas
Em um espaço curto para implodir sons
A carne torna-se fugitiva, os dentes atrofiam e o fôlego de vida se esquiva
Desabamos em uma extinção acelerada
Os olhos, a boca, os braços, o peito acabaram de morrer
Enterramos a sombra universal de todos pensares
Tecemos fio da primeira e última migalha
O sexo morreu
Morreram pulmões e versos
Do pior abismo, um cheiro seco de talo de planta
Uma escama de ar turva e insuficiente
Cabelos brancos e mera desculpa desta morte precipício transgressora
Um abraço morto em eixo ensanguentado
Corpo fechado, procissão sem identidade
Tréguas à Deus para quem morre ao primeiro fio.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A boca














Fizemos esboço do retrato de antigamente
Havia uma ânsia de saber do tempo
Rasgamos a castidade em sedas perfumadas
Cortinadas nestas peles delinquentes
Em tão pouca claridade ainda vi tuas unhas vermelhas
E me prendia em gargalhadas sem destino
Hoje, tão leve em lençóis afoitos
Ali me casaria nua em teus olhos negros
Me casaria com tua boca repousando em cada assunto da minha
Retornaria aos mapas doces da palma da mão direita
E escreveria tudo sobre o cheiro dos teus cabelos floridos
Então, tua música ao norte percorreria todos os meus caminhos
Em dobras de beijos amigos-irmãos
A entrega de tempo que nunca foi meu
A boca amiga guardada em uma caixa
A boca espera
E a boca sangra.