quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Morte é o conto mais perverso
Algum motivo e o senhor do tempo enxugando sob o ar
Aguando as plantas em calçadas funerárias
E todos os homens saberiam das cinzas de um luto absurdo
Enquanto isso, um cheiro mórbido sem destino
Um vazio em dores abertas
Morte costurada a própria pele
Um corpo esquecido dando verso à infelicidade
Ali, vivia a foto apagada da mulher da década de 30
E a bandeja do homem tímido de sorriso único
Cá dentro da alma, a pausa forçada da memória
A espera de tinta que desaparece dentro dos cílios-tempo
Um suco-sangue escorrendo nos livros da criança de colo
Navalhando as intenções das feridas limpas
Aguardam os que partiram com cabelos calmos
O que ainda inibe está miséria-vida de fazer da eternidade seu enredo?
Talvez, qualquer tipo de pobreza que faça da imortalidade vaso morto
Um ninar sombrio despejando sob pescoços o tempo findado que Deus avisa
E a morte faz de suas janelas portas revoltadas
Em um espaço curto para implodir sons
A carne torna-se fugitiva, os dentes atrofiam e o fôlego de vida se esquiva
Desabamos em uma extinção acelerada
Os olhos, a boca, os braços, o peito acabaram de morrer
Enterramos a sombra universal de todos pensares
Tecemos fio da primeira e última migalha
O sexo morreu
Morreram pulmões e versos
Do pior abismo, um cheiro seco de talo de planta
Uma escama de ar turva e insuficiente
Cabelos brancos e mera desculpa desta morte precipício transgressora
Um abraço morto em eixo ensanguentado
Corpo fechado, procissão sem identidade
Tréguas à Deus para quem morre ao primeiro fio.