quinta-feira, 26 de abril de 2012





A espera
invisível
atravessando a boca
com gosto amargo
o medo
inclinando-se sempre mais perto
o tecido preto
cobrindo-me todos os mundos
 a fragilidade querendo gritar de dentro
somos todas
pequenas verdades doídas
tramando fugas no desespero de nossas casas
a felicidade pulsando nas memórias sofridas
e a história repetindo o folclore
é preciso estancar a maldade de nossos homens
a arrogância de nossos filhos machos
criados a leite e submissão de nossa condição-mulher
e extinguir a angústia de vê-los repetir o ciclo
brutal e desumano de gerações
seguimos marcadas
com a vergonha de nosso povo
e o desejo não mais aprisionado
de recuperar nossa identidade humana.


sábado, 21 de abril de 2012



Tua fonte séria mais molhada
gargalhando na fonte infantil de meu calor.


Todas as noivas do mundo
prometidas à futura mágoa.


Saudade é o nome
da minha criança.


Estou para o ócio
assim como o medo 
está para solidão.



Reedito os pedaços soltos
estou para o caos,
muita agulha e linha no tecido adiposo desta casa
clarão na sala e não podemos ver teus dentes amarelinhos de nicotina
sobre o cinza desmedido do quarto não poderei mais contar nossas rugas
há tanta inércia nas mãos e podridão em nossos ossos
que nossos poros corrompem-se de passaportes nulos
no que antes seriam milhões de itinerários rumo aos outros lados do espelho.



Pode fumar
ouvir suas músicas francesas
espalhe ração de gato por toda a casa
até que o alívio suba por tuas pernas.

A marcha fúnebre
improvisada com pandeiros
estoques completos de difamação e agonia
você sai/eu desabo
fumo mais de vinte cigarros imaginários
e a chuva fininha pinga no chão a forma das tuas costas
são tuas costas (eu sei)
e o tempo vai abafando
prendendo o ar em egoísmo
e eu querendo fazer com você o mesmo.
...
(aprendo a calar esta guerra
sem grandes rebeliões).


sexta-feira, 6 de abril de 2012

itinerário da Arte
desinventando Arte
inutensílho
enzimas criativas
decodifique arte
desfecho virtual
distonia
mosaico ao avesso
Estand’Arte
...
transitivo
hiperativo em sua obscenidade lisérgica
literário inalcançável
aonde não há chegadas
nem morada em cada estrofe
porque dos passos pentecostais de uma puta
nasceu a bíblia
o livro dos enjeitados
que deságua no leite seco de uma negra
e desmancha nos pedaços pútridos
da falta de cura
...
sangue roxo para artistas imaginários
veias entupidas do tédio que pelo pulso escorre
das chagas fizemos pintura
dos cortes palco para teatro
da morte a inspiração
para selar o poema
intitulado nojo
...

ainda não inventaram a prece
a oração vazia
que expele descomeço
e final para o medo.
...

Do que nutrimos há uma balsa pulsando pelo avesso. A ordem inversa do criador poente é uma página em branco. Sem nomes ou relações coligadas. Porque a vida corre para trás.
E não há melhor maneiras de se fazer poesia na ingratidão de cada verso que voltamos atrás para buscar.
...
Estou voltando por você.