segunda-feira, 20 de maio de 2013

Carta para Maria/Sofia


Nunca imaginei que casamento fosse tão devastador, como aquele pó mágico que cai da aliança, feito neve, por cima de toda cama, congelando membros e todo resquício de ternura. Um dia, todos os sonhos do mundo, noutro, transformação. Não havendo vítimas ou vilões, apenas a sensação adormecida do que tuas mãos me causaram. Mãos que alimentaram dias grandiosos e hoje perpetuam o caos. Nossas prisões vencidas perdem o frescor de revolução. (E eu te peço, me deixe ir.)
Tantas vezes te fiz Maria, e te quis inserida em meu futuro com a fé inabalável de que seríamos o sempre e “incondicionais”.
Minha vida inteira desordenada no controle de teu ciúme e a fé diluída nos frascos da tua estupidez. 
Vestido para mim, véu para você,alianças, nossa casinha, nosso sim mútuo e a entrega...
Aquele dia em que às seis e meia da manhã te recebi ainda meio sonolenta, com a notícia de que você vinha pra ficar. Minha vontade tombada no desejo de que fosse realmente assim... Meu mundo alcançando teu enigma de paixão. Noutro, os primeiros planos concretizados em nosso singelo cotidiano. Você de bermuda e candura circulando por todos os cômodos, eu, protegendo teus temores com poesia.
Nossa casinha: tijolo por tijolo, fruto de melodia. Tantas indagações e o amor fragmentando em nosso espaço. Tua frieza, meu afastamento, e meu desvio:(Assumo ter alimentado antes de tudo teu pavor enfurecido) o fim de todas as coisas em nós.
Não legitimo tua, ou minha culpa, erramos juntas. Pago diariamente meus pecados com tua fúria. Já não conheço teus olhos. Tenho medo que me peça pra ficar. Tenho medo do que você se tornou...(Por isso, me deixe ir.)
Amar nunca foi com um cordão umbilical ou posses, amar é inaugurar o outro de afeto todos os dias. Amar é o frio na barriga que um dia você também já sentiu ao ver que o outro se aproxima, aquelas borboletas todas voando nos devaneios da tua cabeça noite adentro, só de imaginar o outro tão bonito dormindo.Amar é perder a conta das vezes que já se viu ao lado da outra pessoa, e de quantas vezes a poesia ou canção pareceu tão mais convincente diante daquela emoção tão particular. Dá vontade de assinar a autoria de todas as músicas de Buarque, roubar descaradamente suas composições e  dedicá-las ao que sente. Ceder à xícara de café, ceder à vez, ceder à razão. E quanto tempo tem desde a última vez? Cortesia, carinho sem propósito de sexo, a delicadeza e o romantismo que fizeram eu me apaixonar? Perdidos nas frestas do teu ego e mágoa! (Preciso ir.)
Empatia: Tuas cordas no meu pescoço Sofia. Você esqueceu a grande lacuna entre apoiar e me sufocar. Amar é aquela coisa chamada: deixar ir... Lembra?
Amar é aquilo que fazíamos deitadas no chão do quarto, com guarda-chuva em punho porque o teto tinha goteira, ou quando perdi meu avô e sua coragem me resgatou de tanta tristeza, daquela vez em que confiamos os segredos de nossas vidas tão doídas uma a outra e desabamos de chorar por alívio, ver na outra a certeza de companheirismo e amizade permanente. E, você sempre será a pessoa que conhece meus sentidos mais a fundo, minha grande companheira, minha melhor amiga.(Você sabe que tenho que ir.)
Então, abrimos mão do beijo, sexo no sexo, mas, o que é isso diante do amor que sempre teremos? Pele com pele é coisa tão pequenina se comparado com nossas emoções imersas em afeto. Meu amor é rochedo. “Nunca deixo de amar quem um dia começo a amar” – Lembra? (Não deixarei de amar nunca, juro.)
Daí, depois de tanto amor, tanta paixão, tanta vontade... Veio a distância, o medo, a mágoa, a frieza e rancor. Olhar dentro do olho de alguém que você jura conhecer tão bem e enxergar só vazio.
Respiro fundo, deixo pra trás todo abismo que formamos na sala, deixo pra trás todos os poemas dedicados um dia a você... Nem Maria ou Sofia, apenas mulher.
Nosso amor outra vez no ponto de partida, inauguramos a palavra fraternidade. Zeramos nossos demônios e nos orgulhamos de nossas doces vitórias.
(Me deixe ir.)

Amo você. 
(sueda).