sábado, 26 de março de 2011

Copo

No meu copo
ritos de batismo
donde a língua navegante
deixa a cada porto
anticorpos nas sacolas
e o álcool a adentrar pelos vasos
trepida a sobriedade
no ponto de mira

Não há alvos perfeitos
nem pretensa cifra emboscada
apenas o copo em que o líquido é o projeto
da embriaguez que por hora é a obra

As pernas entesouradas
os documentos debaixo do braço
e os sentidos reproduzindo sistematicamente
as curvas das ruas de asfalto
o copo unido a boca em suas proporções
tão cheio de argumentos como um deus extinto

E como pode tão frágil objeto
ter tantos exércitos líquidos enterrados?

No vidro aprecio o gosto da carícia
o dedo firme a explorar seu veneno
da língua no copo a deriva.