sábado, 26 de março de 2011

Dois Abutres


Multiplicai tumba adentro
vozes funerárias que cairão gritando...

Além de infâme, atenta ao apagão que em mim habita:
mendigando o parasita turvo com seus enigmas não revelados

Pulsarão em meus magros pertences as lombrigas e os furúnculos
orgulhosos ante este couro leitoso que pestilento jorra

E como manso animal a gozar rendido
faço de meu vestígio asqueroso e sepultado...

E abrigados nestes becos delgados
hão de fazer-me descer perdido nos intervalos bárbaros dos pavimentos

Deslumbradas por minhas chagas colonizadas nas entranhas
nos trópicos desfalecidos de meus rins gelados

Converto-me em regressos nos faróis oleosos dos cigarros
donde volta à terra de infância nas cortinas foscas de tempos estranhos

Ali pairo no acontecimento das mãos
em que cada dedo escava suplicante

O recém morto no embate de Deus e dois abutres
ambos a comentar suas façanhas

Enquanto meus membros destroçados
destrancam o fôlego quebrantado
no amargo ofício da vergonha.