quinta-feira, 21 de abril de 2016

Braços dados


Primeiro nascer,
no centro da festa
com seis cores 
em uma mesma flor:
[POESIA]
Repara bem
que,
Nossas casas
são vizinhas,
fizemos
do abraço
 muro
como um fio invisível
que sustenta
o núcleo:
[RECOMEÇO]

Dos pés de graviolas
vinham notícias 
do novo ar
O passado
nos pés
enquanto
a casa estreita 
não cabia em tantos sonhos
Ir lá fora,
cuidar da rosa,
sentir a paz...

Conjurando amor
em gerações
de esperança:
Primeiro,
nascer
Pra depois, 
de braços dados,
no útero da vida
gerarmos juntas
perdão,riso frouxo
[Re]-Nascer.


*Dueto com Edina Regina



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Quem sabe?

Ideias cheias de - quem sabe?
E, claro que sim,
meus trapos têm tons de imediato

Faço dejejum no navio
que voa nas águas
do chuveiro

Tenha paciência
Não faço sentido nem pra mim
Mas,
claro que sim

Faço das desgraças
de minha vida
motivo de festejo
é que a gente
é mesmo estranho
morre todo dia um bocado
e finge não entender
da nossa efemeridade
por preguiça,esquecimento
ou,
constrangimento

Zóia pra frente João!
Segura o teu e também o coração de Isac
Espia bem que,
Maria cata caranguejo em novo mar
Enquanto Izaías
vê a confusão e acha graça
Esse povo briga por tudo
Nem sabe que tirando o amor,
todo resto vira fumaça

E depois da morte,
Mais vida
Quem sabe?
Claro que sim.



sábado, 16 de abril de 2016

Sou mulher
o Estado me alimenta
em inanição
Meus peitos secam
protesto em ebulição
Nasci serva,
Curvas e quadris
Meu órgão curva
Babilônia em seus ardis
Alexandre o Grande adentra
Meu voto não penetra
Só sou pequena
Blues seco sem gozo
Lamento em impotência
o órgão não firma
Ondas cínicas
do caos
Músculos murchando como ondas
No vai e vem
da areia:
Água salgada
minhas lágrimas
e Céu-mar
Meia noite e vinte e seis
Iça o relógio das barragens
A coluna dobra
Dor em ascensão
Flúído místico
Mas,
a carcaça é humana
um pedaço do bolo pra deus
outro pro diabo
o pão é de Maria
rezo pra poesia se encurvar
Jesus entra na roda
Monte das Oliveiras
em Campo Grande
"É preciso amar ao seu próximo"
Como se o próximo for
passe sua vez na fila
Salpique compaixão
na flor do destempero
Cegos lendo a bíblia
Minha hóstia é o verbo de um ateu
Poesia de Narciso
nas enxadas de Macabeu.

Tô saindo de casa...
Molho minha infância porque
Espero tropeçar nas pernas
[... de um futuro mais menino
Aquele pedaço de manga
que os beiços chupam
e flutuam
no espatifar das águas
que o doce mela

braços queimados do sol
 e eu sou todo meia lua
chiclete de maçã
sacolé de uva
minha mãe
é Oxum
mas,
tenho as águas
do sertão

 e se,
chovo no molhado
 é pra fazer cordel
das traquinagens suburbanas
do amanhã
tô fazendo reza ...

benzedeira
mandou chamar
pula corda nas feridas
dá água que escorre de lá.

(Texto produzido para a página Ilusionistas do Verbo)



sábado, 2 de abril de 2016

Poé-mãe

Meu parto
é natural...
Sangro
em versos
Às vezes aborto amores
pra não gerar feridas
mais profundas
Mas,amamento
as crias da esperança
(líquido fresco)

Meu poema é maternal
porquê,toda inspiração
tem um "quê" de mãe

Uma estrofe
é um filho adolescente
Um verbo
é um nascimento
(que a gente nasce junto)

Ensino minha prole a andar
E fico orgulhosa ao ver
as palavras correrem soltas
Sou uma mãe boba,
deixo a poesia
em rédeas frouxas
Aceito o ditado:
Não criamos os filhos-poemas
pra nós...
A poesia é do mundo.
Peço por nós dois. Em tudo: Todo. Abrindo círculos,formando pocinhas rasas pra multiplicar a sede. Assanho a poesia e dilato minha reza no parquinho:

Sereno, espero
os peixes 
voarem para os montes
e as aves
nadarem de fronte

Sobrei
de mim mesmo
em autobiografia.
por dentro,
abri as portas

Minhas pernas
formavam
túneis 
de memória
(minhas veias seivando por todo bosque)


Virei outono
desde que nasci
minhas folhas caem
convictas
(Se amam no chão
em dança)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

É delírio, não sei se salto ou solto. Se pauta ou puta. Travessia ou ponto fixo. Londres ou Palestina. Dentro da cabeça, gira veloz e em toda parte sobrevive um tempo, registro no desfiladeiro de um mundo irônico. Foi quando envelheci em fingimento, quando chamei de sangue a vontade de me renovar. Quando tive sede e me distanciei do mar, quando simulei um espirro pro teu perfume tão bom e disse ter medo da gente como quem vive em véspera de guerra. Acho que foi quando habitei em um azulejo branco, mas tinha as mãos cerradas, quando só vi superfície e em um devaneio, botei fogo no meu corpo inteiro, mas não queimava.
Você vai me perder. Entre o hiato de um café e o vão das nossas casas. Escuta bem: Já começo a ter preguiça da gente, e o cansaço chega gigante nas pernas de um bonde. E eu já tenho quase trinta e não dá pra sufocar nessa calmaria. Preciso de mais... Choque, blues e arrepio na nuca. Tô correndo no mundo, tô pagando minhas contas e não tenho tempo pra chorar por quem tá na contramão. Por isso, veja bem se, pira comigo, escreve um poema colorido e passa pro lado de cá da vida duma vez.