quinta-feira, 26 de março de 2009

Arte "viva"


Calcei as rasteiras
Assim os passos esticam-se e aceleram.
Porta a fora, caio na rua do Ouvidor
Na Ouvidor tem um cego...cego.não.ouve.a.dor
Na butique dos esportes os vendedores alimentam a fome do cego,
É diária a esmola
-Dez centavos! Dez centavos para um cego!
-Eu quero almoçar!
O cego já é hospedeiro da calçada esburacada.

O tempo é de sessenta caimentos da ampulheta
Por entre os homens-sanduíches :- compro ouro-ticket-vale-refeição!
Vou eu a driblar as velhas turistas com suas poupanças gorduchas e espaçosas,
Passos lentos angustiantes para os que seguem a procissão bem cá, atrás.
É o rapa acelerando os maratonistas da Uruguaiana,
-É só botar água que cresce!
-Sombrinha é "cinco real"!
-É o pacotão de amendoim!
-Bolsa da Maria Filó só paga cinquenta!

O sinal da Rio Branco só abre quando os carros estacionam beira a faixa de pedestres
É “ muvuquê de favelê” atropelando você...
É passeata Cinelândia a fora...fora bola, Câmara a dentro...
É Praça Pio X dos comedores do pão duro
Cobre-costas papelão
Banho de mar no Chafaris-Candelária
Coisa excêntrica pra turista ver
Tem artista tocando Tom Jobim no violino pra bancar faculdade,
Tem artista fazendo mágica para pagar o feijão
Salve Largo da Carioca!
Point dos artistas abandonados por Deus!

Rumo a Primeiro de Março
Dos Templos Á santa fé
Gostinho do mar que se aterrou...
Tem poeta vendendo sua arte por cinco cruzeiros
Arte marginalizada
Profana poesia das ruas do coração do Rio

A arte é viva!
Pinto duas telas de Frida Kahlo na face suja da criança da sorte furada
Canto Cartola na cola do pivete largado
Declamo versos Machadianos em tudo quanto fosse perdido
O Rio levou...leva tudo outra vez...
Rio sonso...mesa pra dois.



Nat.