sábado, 17 de dezembro de 2011

Do que o velho diz


nas esquinas
a explicação...

no Rio às duas 
a marreta
os pregos
e a resolução
um café, um cigarro
parte da escória sorrindo feliz
você sabe bem
o que o velho diz
era pra ser honesto
ter filhos fortes
braços a mais para trabalhar
e ele me dizia
que era bom os tempos de lavoura
batata doce à mesa
putas escondidas em sobrados antigos
e eu a me perguntar
quem foi meu avô
fumante,formoso cristão
macumbeiro
muambeiro
e tão novo
havia uma fazenda de laranjas aqui
me dizia...
eu só via um pântano
na rua vinte e dois
as pessoas
tão cegas
tão pobres
e tão sadias
a felicidade era cúmplice
de um velho
e eu queria ser como ele um dia foi...
a rua do Ouvidor era um bar a luz de rezas
ele me dizia...
e eu rezava pra ver as putas
penas delicadas nos cabelos
cigarreiras enormes e luxuosas
e eu a fumar todo passado 
querendo ser homem negro
e mais pobre
atravessar à rua do Ouvidor e beber
com as mesmas putas dos tempos dele
 e no fim das contas 

você sabe bem o que o velho diz...