sábado, 26 de março de 2016

Acho nuvem
a coisa mais poética 
que há

Amalucadas,
sob a ótica infantil
Formam ursos,
cavalos e ovelhas

Quando tristes,
pingam
água nos
beiços da terra

Sensuais,
escondem e revelam
Sol e Lua
em um jogo
quase
obsceno

Em marcha,
deixam-se levar
pela flor do vento

Humanas,
dançam
aéreas
nas 
suas 
formas
de amor





sexta-feira, 25 de março de 2016

Não tenho sono. Tenho ânsia e dúzias de poemas martelando na cabeça. Me vem um estado de verso,que eu não sei denominar. Eu vejo um rio caindo no copo de café,um poste tombando na música,uma borboleta voando na minha saia. Eu sinto cheiro de hortelã nas roupas de meu avô e ouço meu pai na gargalhada de Ana. Minha mãe é minha filha e meus irmãos parte de uma mesma ilha que visito com amor. E, ainda não tenho sono. Tenho um verbo que dança lá e cá. Tenho gratidão e uma nuvem no braço esquerdo que se eu soprar, vou junto dela. 
Enquanto o sono não vem, meu avô dorme, de boca aberta, feito criança. E, é tão bonito...Tão bonito que nunca tinha visto com tantos detalhes as cores saindo do ventilador. 
O sono ainda não chega, mas a fé é uma amiga que acaba de chegar de viagem. Trocou olhares e fez as pazes comigo. Sábia, avisou que estamos quites outra vez. 
Debruçamos na janela
Um gato amarelo e eu,
espiamos a lua tampada de nuvens
[com olhos de catarata

A noite está fresca
O muro do vizinho nos abisma
Muralha da China
[em nossos pensamentos

O felino e eu,
observamos com alívio
[o azul que roça a música

Em algum lugar,
nos campos de Março
Aquele bichano foi testemunha
(comungou comigo)

De uma poesia
Que chorei e 
assistimos voar
No doce imprevisível da vida
Voltou pra casa
Com a mão acenando estrelas
E o rosto coberto de histórias
Mais forte,
tua coragem
[renova minha fé
Em sonhos
[perdidos lá longe
Na única mão,
tens o mundo
[em órbita
Ofício de artesão:
Flores no punho

Esperança em projeção

terça-feira, 22 de março de 2016

(O homem velho 
Tinha nos gestos 
O grito abafado)
...
As mãos deslizavam

Nos dentes do mar
Os braços 
Que construíram 
Estações 
Guardam pela última vez 
Muralhas
(A noite tossia)

As fronteiras
De suas asas
Serão cortadas

Seu abraço estará 
Amarrado em um oceano
[que desconheço
Amputado seu membro ilha
Terá a cicatriz de 
Uma chibata
...

Seu punho é água
Mas os pés ainda
São balsa
Por isso, resiste.

domingo, 20 de março de 2016

Outra vez cinco

O amor
inundou a sala,
trouxe uma recém chegada
e a saudade de quem
 a dezesseis anos partiu

O tempo
trouxe chuva
ventou
em nossos galhos

Éramos cinco
O patriarca
foi soprado 
pra colorida nuvem

A nuvem molhou também,
pingou água 
e Ana

Outra vez somos cinco




Reinventamos
 riso frouxo e perdão
Flores azuis nas mãos
Braços dados em ventura
Mulheres em nuvens!

A poesia é nosso automóvel.


Veja bem minha velha,
A saudade voa
Pousa nos brancos fios e,
na flor da caneca
que cruza duas cidades

A saudade me encharca mas,
o relógio silencia
porque
espera teu regresso

Quisera em outra vida,
fazer da fé meu leme
te pedir outra vez em casamento
fazer teu prato favorito
sentar no portão
entardecer no outono
enquanto você faz crochê

Se eu pudesse,
Juntava o céu com a terra
pra regressar pra você
que é meu lar.



sexta-feira, 18 de março de 2016

No país de Ana


Ana inaugura uma poesia
que, nem mesmo eu conhecia,
nos colocou no país encantado dos novatos

Amor recém prendado,
gargalhadinha de música em flor
...
Ana nem sabe ainda, mas,
desconfio que depois dela,
quem nasce somos nós.




Abro a caixa da infância,
tenho cinco minutos de riso.
A pequena,
desperta do sonho de breve vida
(MI-ANDO saudosa)

Caçando passarinhos no abacateiro 
ou,
afiando as unhas no sofá,
mordiscando os pés distraídos
pra chamar atenção.
Candura em quatro patinhas
Jardim das curiosas percepções
Legitimada pela poesia,
Construí  um céu-felino

Pra morar seu ronronar.

  E depois de tanto tempo, eu tenho medo da morte outra vez. Não estou pronta pra sua partida, suas velhas mãos ainda estão presas nas minhas. Seus passos lentos e cuidadosos para não tropeçar nas pernas da saudade ainda pisam neste chão. Talvez, eu deva orar baixinho, pedir que tua ausência saiba ser presença em minha poesia. Eu escrevo, escrevo pra arrancar o nó que sobe amargo na garganta e trança no choro que quase vem.  Como se meus versos pudessem te trazer a cura, como se cada estrofe fosse um amuleto. Eu sei...Eu sei... Está chegando a hora. Partir... A partir das partes de nós  que ficamos por aqui.

domingo, 13 de março de 2016


Esta casa, velha como meu corpo,
abriga minha loucura.
Obriga-me a escrever sobre seus cômodos e meus incômodos,
sobre minhas portas e suas paredes.
Quase sempre, esta casa e eu somos um só,
fundidos em uma rua,
localizados no centro do caos.
Esta casa, me gerou no tempo
envergamos nossas carcaças,
endurecemos no fio dos anos as carapaças.
Amanhecemos por vezes amarguradas,cobertas pela fumaça dos carros e solidão.
Esta casa senta-se à mesa comigo
(compartilha seus medos)
Precisamos nós duas de uma pintura e um novo abrigo anti-bombas.
Somos velhas amigas,
escondemos nossos temores em passagens secretas
que nenhum visitante jamais ousaria entrar.

Câncer


Em julho, cordão de vida
Cometas delicados, poema fecundado na nuvem
Dou teu nome pra uma árvore,
Procuro teu abraço-azul neste espaço
Me faço de ar e vento
Por um momento te respiro
Por um movimento te alcanço
Penso que, de longe, sou lenço, vou manso
De perto, nossas partículas propagam (Miro e vejo em tuas costas de algas)
Erguendo a onda mais clara que vi
Mergulha no pedaço de poema comigo
Vou humana, vestida de palavra
Aos poucos te dispo
A cada verso que tiro-te
Vejo-te a humanidade neste jardim d'água
Esta onda d'algas, quebra-se nas areias da ampulheta
Escolhemos o terraço do tempo
Ungimos o mundo com nossas possibilidades

(Dueto de Natacia Araujo e Paulo Alonso para a página Ilusionistas do Verbo)

Resposta


Colado ao vento, copulo com o verbo
Pois, o poema quer viver
Mire bem que, em teu cheiro (folha única)
Tenho pátio mágico com todos os encantos do mundo
A letra mais intensa
Marca minha pele como um sonho frio
Sei que é deste lado que o poema desenha seu rosto
Sei que é este lado do seu rosto
Sugerindo poemas
Os dedos ficam aninhados no mergulho das pupilas
Este é um alívio transgressor, evocando presença solta
Acontecimento de minha própria humanidade.
Prevejo uma embriaguez saltando da língua
E a fúria criativa entranhada no corpo
Prevejo a sua imagem me olhando na superfície da água
Ouço antecipadamente
A sua voz me responder quando grito no abismo
Tua poesia dá razão ao meu barato
As mãos, em transe, digitam coreografadas teu colorido
Nasce multidão no buraco de nossas palavras que,
invoco e danço
(Não se esqueça: no útero do céu, tudo é agora)

(Dueto de Almi Junior e Natacia Araújo para a página Ilusionistas do Verbo)

E o relógio ainda pulsa


Você, desordem programada em meio ao caos
Sodoma e Gomorra virtual
Mais e mais de você se expandindo
O poema parte se feito fruta de temporada
Parte do efeito das asas desatadas
Dos nós complicados de nós mesmos
Mesmo que nesse caos do voar das mariposas
Atinja meu tempo, levarei-me a esmo
Escrevo em minha nuca todas as linhas
Tuas cordas em meu pescoço
Deixo pra trás todos os poemas que formamos na sala
Embarcamos no devaneio florido
Bons presságios, nas asas contorcionistas que a inspiração escreve
Bons agouros
Duma ação que move seus mundos e fundos
A fornalha da locomotiva pelos meus dedos
A forja que produz essa corrente que te sustenta
Elo a elo, encadeados, encarnecidos
Metal gelado (língua no disparo)
Marco zero nas duas luas da tarde
Estou dispersa
Nem sei denominar esse novo tempo
Último dia, você arranca o relógio do pulso
E o relógio ainda pulsa


Dueto de Paulo Alonso e Natacia Araújo para a página ilusionistas do Verbo

Dueto

Com o fio da poesia transparente a nos unir
Rascunho dentro de nuvens
Do Atlântico cruzamos com o inesperado
Inflando a arte de azul
Na ponta do verso aponta a flecha
O olho é arco em alto-mar
O alvo a imensidão aberta
O sol se pondo na íris a tardar
Enquanto a noite engole o azul
Vermelho o amor dança na areia
Na fricção da pele
Estrofes marítimas
Não há rima
Mas há ritmo na liberdade das línguas
Manda chamar alguém que tenha as chaves ta tua caixa torácica
Alimentando as batidas dos próximos poemas que vir
Somando nossos pedacinhos úmidos nas estrofes
Águardendo nos poros subaquáticos de vida.
(Dueto com Rai Blue e Natacia Araújo para a página Ilusionistas do Verbo)

Prosa poética


Procurou caneta e papel. Vinha vindo um poema no meio da sala.
Às 14:30,soltou os cabelos. Ela tinha seu nome ancorado na coragem. Girou as saias: rodo[vias] para encanto.
Veja bem...É que o caos não tem a mesma força do aflorar da poesia, e o medo só chega se a gente não aprende a recomeçar. 
Recomeço.

(Texto feito para a página Ilusionistas do Verbo
Foto: Robert Doisneau)

Carnavalizar


Saio... No meio da multidão,
Os meus versos sabem ser livres
E a vontade grita
Estou no bloco do desejo
Meu santo é forte e te devora
Tenho serpentinas e batuque sortido
Minha nação é vontade
Minha bandeira é liberdade
Estou acesa e solta 
Plena...
Carnavalizando o sumo da vida



(Poesia feita para a página Ilusionistas do Verbo)

Carta- Poema de fotografia para “João”



Quando vem o dia, rompo junto...
Como uma fonte de água,
dando socos no muro da poesia que,
escrevo e minha nuvem dança:
- Do lado de lá: vida. Aquela parte que, por um momento me neguei a ser. Por isso, joguei fora aquelas velhas cortinas azuis. Hoje e amanhã, a partir de ontem, o presente é preenchido pelo pássaro desenhado no meu vestido - quanto mais eu giro, mais ele voa colorido.

(Imagem: Obra “Morning Sun” (1952) de Edward Hopper)
(Texto feito para a página ilusionistas do Verbo)

NADO SINCRONIZADO


Canoa minguante,
remando nas marés 
à própria força

Atordoado sopro...
Fôlego náufrago em minha corrente,
e na água lodosa que supõe 
a madeira retorcida:

Nadamos juntos 
em espasmos descontentes.

(Texto para a página Ilusionistas do Verbo)
Foto: Débora Andrade)

Mar-Lunar



Uma coisa fragmentada
[Nos conduzia
Pulsava em nossos cantos
[ implodindo presságios lunares
A língua em braile lia
[ nossos abrigos escondidos
Caímos juntos,
Aos poucos,
Com os gemidos dos cometas.


(Imagem: Max Sauco
Texto para a Página Ilusionistas do Verbo)

domingo, 6 de março de 2016

Corrida dos recém solteiros

Foi dada a largada: A boa e velha corrida de quem dará a volta por cima ao final da relação foi inaugurada. As fotos em noites felizes, bebida em punho,largo sorriso, filtro do Instagram preparado e, possíveis novos parceiros para fazer afronta. Roupa nova,mega produção. Tudo conforme o rito de passagem manda. O batismo dos novos solteiros começa e você se sentirá na obrigação de bater ponto em todos os eventos da cidade. Todos os artifícios para não pensar e não lembrar, vale de peteleco na orelha nas fotos felizes de casal até jogar as roupas do outro fora.Mas, não esqueça que,não importa quem fez as malas e partiu primeiro. Sua mente vai ser pra sempre a casa que você vai morar. Não há para onde fugir,por isso,esqueça de uma vez o medo do novo,e saiba que,enfrentar a carreira solo por muito ou pouco tempo é fundamental. Nada é nosso, o amor é patrimônio público. Tom Jobim errou feio: É sim, possível ser feliz sozinho.

sábado, 5 de março de 2016

Microconto cotidiano

Não funcionou. Como quando a gente sai do cinema com a sensação de ter assistido a um filme sem sal. E eu já não sei a muito tempo viver de romance meia boca. É que eu preciso alimentar minha poesia com amores que queimam, saudade que sufoca e faz a gente querer gritar. Amor tem que tocar blues no estômago, arrepiar a nuca e fazer o tesão brotar só de ouvir a voz do outro em um telefonema às duas da manhã. Amor tem que ser danado, meio carinho afobado, meio verbo ritmado.
https://www.youtube.com/watch?v=TkD97-dBCo0

Crianças-fósforo

Ancoro em uma praça
cercada por
mulheres-morte
e crianças-fósforo

Os bicos das mães
jorram café
Estamos elétricos,
o moço no final da rua
toca Bessie Smith

Minhas células ciliadas
orientam-se na multidão
abafada pelo frio.
Deglutimos juntos
do pequeno caos que se forma

A música impulsiona todas
as colheres dos bares
que nos atiram
amendoim fresco
Acertando em cheio
a cadeira de balanço
do velho da esquina
que fuma seu cachimbo

As mulheres abrem seus
guarda-chuvas
enegrecidos pelo tempo
Enquanto as crianças se acendem 
no centro
de minha memória

Estamos bêbados,
meu Estado é


Ode a Bethânia


Bethânia invoca meu som
(tom de água)
Mulher-trindade
Aquático barulho
Quase brando,
 espumando acordes indizíveis,
com seu barco voando 
no meio das palavras gigantes

Arrasta fantasmas
que, daquela água
bebiam e,
arrotavam nossos medos
como se soubessem
o gosto de dentro
( e eu não sei de mais nada)

Sei que,
em sua música
há de florescer
mais tempo
além do próprio tempo

(Bethânia líquida em meu devaneio)
https://www.youtube.com/watch?v=Tl89uZMI2fk



No meio da calmaria

  Saiu, assim mesmo. Do jeito que entrou. Sem brigas ou bate boca. no meio da calmaria, no ápice do nada que acontecia. Esfriou o tempo, esfriou o café. Do outro lado do mar,tinha uma onda chegando. Era o marasmo que precedia a poesia. Às vezes, é preciso silenciar pra ouvir o caos.
https://www.youtube.com/watch?v=MWoJGe0xANk

Fuga

Eu fugia do verão
Uma nuvem me perseguia,
sem sombra,
o amor derretia

Sol escaldante
Inferno suburbano de Dante
às seis da manhã
o abafamento engolia
a casa e,
eu,junto da casa suava
Cari-oca
minha inspiração precisa de tempo frio.
https://www.youtube.com/watch?v=XGEiY3tsxrY

Bairro dos novatos

  Vou ficar quietinha, pode deixar. Feito filhote de passarinho que esqueceu o que é cantar. A vida é curva e essa virada carece de silêncio- O momento exato em que a mente flutua no divino e pede a Deus novo rumo. 
Nessa hora de agora é preciso corda no ponteiro que marca os minutos e recomeço meu. Tem um ônibus que me leva pro bairro dos novatos do recém recomeço. 
  Acordo cedo,faço sinal, entro, sento-me ao lado de uma velhinha que diz:
_ Ora, filha, se eu, nessa idade, recomecei essa semana já três vezes,você vai ficar bem também.
E, sorrindo me apontou pra janela:
_ Viu? O fluxo é contínuo... O dia, os rios, os carros e pedestres...
Evoluir...
Evoluir...

Microconto cotidiano

Deitou no sofá pra me pedir cafuné. Mas, eu estava oca, desprovida de carinhos. Zapeava os canais como quem mudava o cenário de uma vida. era preciso envergar a terça até virar sexta, mas não tem jeito,eu tinha a secura careta de um domingo. Desliguei a tv. (E você de mim)
https://www.youtube.com/watch?v=Y-TVyEW2iC0

Sete anos

Depois de sete anos,
descobriu que,
as amarras que a prendiam
na verdade,
eram um único fio invisível a ser cortado
https://www.youtube.com/watch?v=Ci9E_ZhFVd0

Microconto cotidiano

Iniciou um namoro pra se desprender das amarras do passado. Tateou o primeiro que viu. Ficou com um que não conhecia literatura ou bons modos. Em menos de um mês, o rompante fez cair a ficha. O poema queria de novo aflorar. Desculpe a sinceridade, mas com homem burro e machista não posso ficar.
https://www.youtube.com/watch?v=2hvVlpXEvCE

Pálido ponto azul

Carece ser um sonho,
de eu entender o Cosmos
os astros e os Sóis.
Bilhões de anos-
poeira estelar
Meus átomos em outros seres,
incontáveis ciclos,
minha família próxima ou distante,
descobri ser toda planta,
bicho ou gente,
via Láctea ou Andrômeda
dançando num entrelaçamento quântico.
Toda estrutura universal
Microcosmo e Macrocosmo
"Tudo que já foi e, tudo que será"
Na arena-mãe de toda vida.

Na roseira

Tua flor, no divino jardim,
no canteiro, sem vaso,
em meio a calçada
já que do asfalto
nasce a cura

Tua flor que é minha reza,
o ato religioso,
um milagre
da fé que expulsa 
o que é frio e certinho
sendo torta e fresca

Tua flor que minha também é
despedaça o vermelho
e tinge tudo de azul-
o moço te pintou
te vendeu pra um casal,
pra flor
florir no quintal

Era meu pai

Ontem, vi uma borboleta negra,
era meu pai.
Na estampa de suas asas,
tinha uma letra da velha canção
(que um dia você cantarolou andando pela casa)
amanhã te verei colorido
suas asas me aninharão
voaremos juntos pelo quintal
você pousará nos meus dedos
Não terei mais medo da imensidão.

Canhão de flor

Gostaria de atravessar a casa, a rua,
o tempo e o canhão de flor.
Rasgar essa folha
pendurar na parede,
no cabide,
no espelho,
desdobrar as roupas,
jogar no chão e deitar...
Me embrulhar,emaranhar nos fios de cabelo,
de linho,
e de alta tensão

Onde se esconde aquele pedaço
de flor, de bolo, de juventude?
Onde eu vim parar?
O dia está tão estranho...
Azia, fúria, cansaço,
formigamento, falta de cor.

(Começou a chover, na casa, há um rio inteiro de mim).
https://www.youtube.com/watch?v=9yJWntQYMQI

Quebrar o copo

Não me acostumo com esse estado de vazio. Com o dia que amanhece sem nada a dizer. Com um copo que é apenas pra beber, com a literal função das coisas.
Eu quero é desconstruir! Quebrar o copo, e fazer dele um mundo de finalidades. Me deixem tentar ver o mundo com a alucinada lupa poética! Não me coloquem quieta, de oito às cinco em uma gaiola. Me libertem! Eu quero fugir da normalidade frígida, quero me salvar desses goles pequenos, dos rumos escolhidos com pautas. Quero endoidecer pra descobrir o que é lucidez, perder a esperança pra gerar fé, perder o estado de poesia para poetizar esse cotidiano limitado e pálido.
https://www.youtube.com/watch?v=5fJ_Qj-weTE

O poema quer gritar

Querem me tolir,
fazer calar a voz dos meus versos.
Me querem no canto da sala,
amuada,
envelhecida.

Meu poema quer gritar!
Em repúdio,
em revolta.
Minhas palavras querem guerra!
Não vou sufocar a inspiração
 (Não posso)
Estou munida de arte, fúria e imaginação
Quero a febre e o ruído
Luz acesa,pólvora e música

Saia do meu caminho!
A poesia é meu automóvel-
Minha bandeira e comida
Sopra recomeço no epicentro da ferida
...

Cabo de guerra

Estou desperdiçando vida-
Deus me deu tamanha imaginação
e um corpo tão cansado.
Tento alinhar os dois
Resgatar a paz entre os dois
Mas, não há acordos,
ambos são geniosos...
Quando dou conta,
formaram novo cabo de guerra
(Cão e gato)
Gostaria de selar um acordo-
Mas, me vem sempre o paradoxo:
Poetisa impotente
Água e óleo nadando na corrente.